A denúncia foi disseminada no twitter pelo jornalista Leandro Demori, do Intercept, que sugeriu o afastamento imediato da promotora Carmem Eliza Bastos de Carvalho de qualquer procedimento relativo à investigação.
Carmen participou da entrevista coletiva em que o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro desmentiu o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde o então deputado federal Jair Bolsonaro era vizinho de rua C do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de puxar o gatilho e matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes na noite de 14 de março de 2018.
Em 2018, Carmen vestiu a camisa de Jair Bolsonaro e celebrou nas redes sociais a vitória do ex-capitão do Exército:
“O Brasil venceu! Libertos do cativeiro esquerdopata”.
Em 30 de setembro deste ano, por iniciativa do deputado estadual Delegado Carlos Augusto (PSD), a promotora recebeu a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O delegado Carlos Augusto trabalha no SBT, defende o juiz Sérgio Moro, a prisão em segunda instância e foi candidato a prefeito de Nova Iguaçu.
Ainda assim, foi um dos 39 deputados da Alerj que votaram pela libertação de cinco colegas presos (25 foram contra), alegando que não haviam sido condenados nem mesmo em segunda instância.
André Correa (DEM), Chiquinho da Mangueira (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Vinicius Neskau (PTB) e Marcos Abrahão (Avante) estavam presos pela Operação Lava Jato.
“Sempre tive certeza de que a minha árdua tarefa de vida seria o combate aos criminosos, que acabam com a paz no Rio de Janeiro”, discursou a promotora no plenário da Alerj, depois de receber a Medalha Tiradentes.
Na ocasião, ela posou para foto ao lado do deputado Rodrigo Amorim (PSL), que se elegeu depois de rasgar a placa que simulava homenagem à vereadora Marielle Franco, em evento que contou com a presença do então candidato ao governo do Rio, Wilson Witzel.
As relações entre Witzel e os Bolsonaro estão estremecidas no Rio.
O rompimento se deu por causa das pretensões presidenciais de Witzel.
Bolsonaro acusou o atual governador de tramar com a TV Globo para vazar informações de um inquérito sigiloso no Jornal Nacional.
A Globo, ameaçada de ter a renovação de sua concessão questionada em 2022, recuou.
O porteiro ficará sujeito à Lei de Segurança Nacional.
Ele anotou corretamente o nome do visitante e a placa do automóvel que chegaram ao condomínio Vivendas da Barra no final da tarde de 14 de março de 2018.
Teria errado só o número da casa, a 58, de propriedade de Jair Bolsonaro?
Em depoimentos, o porteiro disse que falou duas vezes com “seu Jair”, comunicando a presença de Élcio Queiroz, acusado pela polícia civil do Rio de dirigir o automóvel de onde foram disparados os tiros que mataram Marielle e Anderson.
Élcio entrou no condomínio e encontrou-se com Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro suspeito de ser traficante de armas — com um parceiro dele, a polícia encontrou 117 fuzis.
Os dois teriam deixado o condomínio para cometer os assassinatos, sempre segundo a investigação.
O MPE-RJ mantém esta versão para o crime, mas a defesa de ambos já fala em tirá-los da prisão — informou nesta quinta-feira a repórter Monica Bérgamo na Folha de S. Paulo.
Jair Bolsonaro era deputado federal quando o crime aconteceu.
O filho mais novo dele, Jair Renan, teria tido um namorico com a filha de Ronnie Lessa — ainda assim, Bolsonaro alega que não conhecia Lessa, nem Élcio, que postou uma foto ao lado do deputado nas redes sociais.
O porteiro será investigado por supostamente mentir a respeito do presidente da República.
O nó do caso continua sendo a anotação “58” que o porteiro fez na planilha: o número foi adulterado? Élcio deu o número errado ao porteiro? Deveria ter dito 65 (número da casa de Ronnie Lessa) mas disse 58?
Que criminosos combinam um assassinato partindo da casa de um deles e deixando rastros pelo caminho?
Élcio pretendia incriminar Bolsonaro mancomunado com o porteiro, em nome de alguma milícia concorrente do grupo de Fabrício Queiroz?
São muitas perguntas ainda sem resposta, na complexidade do submundo da política do Rio de Janeiro.
O que se sabe com certeza é que uma das promotoras do caso, que não teve grande protagonismo na entrevista, é bolsonarista de carteirinha.
Foi a primeira vez que Carmen participou de uma entrevista coletiva sobre o caso.
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