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A matéria do jornal francês, assinada por Frédéric Lemaître, aponta o histórico comportamental de Bolsonaro com relação à China:

“A eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil é uma má notícia para a China, tanto no plano político quanto econômico. O “Trump of the Tropics” não disse durante sua campanha que “a China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil“? Esse porta-voz das privatizações também se pronunciou contra a venda de certos ativos da Eletrobrás, a companhia pública de eletricidade brasileira, por querer evitar que caiam nas mãos dos chineses, observa o South China Morning Post, de Hong Kong.

Sobretudo, indo em fevereiro a Taiwan, essa ilha cuja independência Pequim não reconhece, Jair Bolsonaro cometeu um crime de lesa-pátria que lhe rendeu um protesto oficial de Pequim, denunciando “sua afronta à soberania e à integridade territorial da China“. Enquanto a República Dominicana e El Salvador rompiam neste verão suas relações diplomáticas com Taiwan em prol de Pequim, a atitude do Senhor Bolsonaro, que nesta altura não havia ainda declarado sua candidatura, não passou despercebida ao Império do Centro.

Ora, o Brasil não é um país qualquer. O intercâmbio comercial entre Brasília e Pequim se eleva a cerca de 75 bilhões de dólares (66 bilhões de euros). A China por sinal importa muito mais do Brasil, incluindo matérias-primas e produtos agrícolas, do que exporta. Essa tendência é reforçada pela guerra comercial que os Estados Unidos abriram com a China, que beneficia diretamente os exportadores brasileiros de soja.

“Olhar racional”

Ainda que o governo chinês tenha parabenizado o presidente recém-eleito, os chineses têm motivos para se preocupar. “Seus pontos de vista extremistas nos preocupam um pouco. Ele está com um pé atrás contra a China“, reconheceu recentemente junto à agência de notícias Reuters, dirigentes de empresas chinesas sediadas no Brasil. Segundo a mesma agência, diplomatas chineses em missão em Brasília se reuniram com o assessor econômico do candidato, Paulo Guedes, no início de setembro, para ressaltar a importância do relacionamento bilateral.

China Daily, um diário estatal em inglês, não mediu palavras em seu editorial de terça-feira 30 de outubro. Bolsonaro certamente “retratou a China como um predador” durante a campanha, o jornal, evidentemente, não imagina que “promessas de campanha sejam apenas promessas de campanha“, no entanto dizem eles “nutrir a sincera esperança de que quando  assumir a liderança da oitava economia mundial, Bolsonaro terá um olhar objetivo e racional sobre a situação das relações China-Brasil. Ele deve estar ciente de que a China é o maior mercado de exportação do país e sua principal fonte de superávit comercial. ”

Frente ao ocidente

Se por um lado, o China Daily não menciona a questão de Taiwan, o Global Times, jornal nacionalista, não tem esse pudor. “Se depois de tomar posse continuar a ignorar o princípio fundamental sobre Taiwan, o Brasil sem dúvida pagará muito caro“, ameaça o jornal.

Mesmo jogando a responsabilidade nos “políticos e mídia ocidentais“, o Global Times não deixa de reconhecer em seu editorial que não há consenso a respeito dos benefícios mútuos da cooperação nos países nos quais a China investe. Isso é tanto mais constrangedor, que a China continua destacando a necessidade de desenvolver relações entre os países do Sul para enfrentar o Ocidente. Jair Bolsonaro está em franca oposição com o discurso da cooperação sempre vantajosa com Pequim”.

Tradução: Sylvie Giraud.

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