Nas cidades, morrem pequenos negócios porque, com a monocultura, as compras são feitas em escala mundial, não sobrando nada para o comércio local.
Na passagem do feudalismo para o capitalismo, os nobres empobrecidos arrendaram suas terras para burgueses que pretendiam expandir seus negócios via produção de matérias-primas. Cercaram-se as glebas e racionalizou-se a produção, liberando mão de obra para as cidades. Simultaneamente, a grande inflação causada pela inundação da Europa por metais preciosos vindos da recém descoberta América deixou O arrendamento cada vez mais barato e os arrendatários cada vez mais ricos.
Semelhantemente, no Brasil de hoje, os reis dos grãos não compram terras, arrendam-nas para não reduzir sua liquidez e maximizar o retorno da atividade. O pagamento é em grãos na safra principal, ficando atividades adjacentes, especialmente milho safrinha e engorda de gado, para o arrendatário. Em oposição ao exemplo histórico, derrubam-se cercas agregando propriedades e formando latifúndios virtuais numa concentração fundiária inaudita, porém, não nas mãos de proprietários, mas na posse de arrendatários que ocupam centenas de milhares de hectares. Enquanto os arrendatários trazem práticas industriais para o campo, cria-se uma classe ociosa que vive do arrendamento, independentemente do tamanho de sua propriedade. Se um sítio de fim de semana estiver no caminho das máquinas, é arrendado também. Lá vêm as commodities substituindo tudo o que se plantava, tudo o que se comia. Passa-se o correntão no cafezal, erradicam-se as parreiras, derrubam-se as laranjeiras e mandioca, batata-doce e outras raízes perecem sob o peso das grades.
Nas cidades, morrem pequenos negócios porque, com a monocultura, as compras são feitas em escala mundial, não sobrando nada para o comércio local. Até papel higiênico vem de um atacadista, fornecedor de algum mega-arrendatário com glebas espalhadas pelo território nacional.
A ampliação da fronteira agrícola, com novas cidades nascendo pelo Mato Grosso e Matopiba (região formada por Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) dá uma falsa impressão de prosperidade. São lindas cidades planejadas, não resta dúvida. Mas, a que preço?
O Capital para tanto investimento não vem somente do Banco do Brasil, muito menos da percentagem que todos os bancos têm que destinar ao setor. Existem outros papéis, negociados em bolsa, como as CPR (Cédulas de Produto Rural), que são uma venda antecipada em que um produtor (originador) promete plantar determinada quantidade de um bem, um comprador (offtaker) garante a compra a um preço predefinido e um captador põe o papel no mercado trazendo recursos para o originador. As CPR devem cobrir somente o custo, deixando um saldo em produto para o originador negociar oportunamente. Teoricamente, qualquer produto pode gerar CPR, só que ninguém estaria interessado em pôr dinheiro num produto que não conta com um preço à vista em alguma bolsa, servindo de referência para a viabilidade da operação. O resultado é que somente commodities produzem-se com capital de curto prazo conseguido nas bolsas de mercadorias.
Existem derivativos que aumentam o prazo dos papéis e os desvinculam de uma determinada safra, como é o CDA (Certificado de Depósito Agrícola para instituições financeiras), CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio, para negociações de balcão ou por fundos) e a CDA-wa que garante que o produto esteja em armazém homologado.
Somente as commodities têm mecanismos de mercado para mitigar o risco. São os contratos de futuros e opções. Pelo primeiro, comprador e vendedor protegem-se de variações desfavoráveis; pelos segundos, protegem-se de eventuais perdas por variação de preços. Travado um preço e o preço subir no período, o comprador deixa de perder e o vendedor deixa de ganhar. Se o preço cair, o vendedor deixa de perder e o comprador deixa de ganhar. Assim para protegerem-se, os negociantes transferem o risco para o especulador. O vendedor, adquire contratos de opção de compro pelo preço travado, enquanto ele entrega sua mercadoria pelo preço do dia. O vendedor compra contratos de opção de venda pelo preço travado, tal que, se o preço cair, ele exerça a opção e venda mercadoria recebida pelo preço travado, comprando a mesma mercadoria pelo preço do dia, tudo financeiramente, poucas vezes fisicamente. O especulador cobra um prêmio para assumir o risco. Se os negociantes não exercerem suas opções, o especulador fica com o prêmio, caso contrário, pode se dar muito mal.
Assim, a especialização em commodities , com seu risco socializado, faz pessoas passarem fome enquanto milhões de toneladas de grãos, açúcar, café, suco de laranja e carne escoam-se pelos portos. Qualquer outra coisa, por lucrativa que possa ser, depende do plantio por conta e risco do agricultor.
Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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