A nação brasileira não está representada, hoje, nos jornais. Amanhã, quando um pesquisador se debruçar sobre os acontecimentos de 2021, vai ler que no sábado, dia 29 de maio, o dia transcorreu igual. A manchete de domingo, o day after, dia nobre em torno da mesa, estampa o cantor Gilberto Gil. Gil não é mais povo. Gil só é povo quando canta na beira da praia para a massa esperançosa no réveillon. Gil é querido, mas distante da realidade das ruas. Elitizaram Gilberto Gil, mesmo que ele diga à sua gente o que é preciso dizer: chega! Sofisticaram a sua imagem para esconder a multidão que foi às ruas. Da próxima vez desça daí e venha, Gil, puxar o cordão. Quem sabe assim, a realidade apareça.
Estamparam um Gil em preto e branco porque Gil é preto. E preto não precisa de cor. Precisa dar efeito. Preto na foto em PB enfeita. Ao lado, na manchete de O Globo, a vida é só porvir. As mesmas indústrias que retiraram projetos e investimentos em 2016, para ver Dilma se espatifar contra números da economia decrescente, agora tiram da gaveta os projetos que vão impulsionar a tentativa da “terceira via”.
Nada de pobre com máscara no alto de página. No alto, mesmo, só os números das exportações…
Danem-se senhores! A notícia não mora mais nas redações de vocês. A notícia está nas redes, está nas ruas, está nos jovens, que não perdem tempo com seus colunistas velhos, que tal como tios idiotas, que entram no quarto escuro dos sobrinhos com lençol na cabeça, fazendo buuuu, tentam assustar a população, retirando do passado historinhas do “rouba mas faz”, que não cabem no futuro, só para espantar.
No Brasil de hoje o que espanta é a fome. O que espanta são os 39% da população empurrados para debaixo da linha da pobreza. São os 15 milhões de desempregados, os 6 milhões de desalentados, a inflação batendo no teto, num país que trabalha com manchetes otimistas, que cobrem corpos enregelados nas marquises. O que espanta nesse país são os 460 mil mortos. Espanta o mundo, assombra cientistas renomados, que nos estudam como a um bando de ratos de laboratório. Viramos um covidário a céu aberto. Viramos ameaça. Pouco importa o que escrevam ou estampem em seus jornais, não dá mais para nos jogar para debaixo do tapete. Transbordamos.
Passem a fazer entrega direta, senhores barões de jornais impressos. Não percam tempo de estacionar nas bancas as suas manchetes frias. Vendam direto para as peixarias, para os pet shops, o seu produto inútil. Estamos fora! Estamos espremidos numa foto interna, pequena, tão miúda quanto a visão de mundo de vocês. Não pensem que a reforma tributária irá salvá-los. Para vocês, só os paraísos ficais. Mas ainda pago pra ver o jardim florescer qual vocês não queriam.
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