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As falas do ministro da Educação, Milton Ribeiro, têm algum outro propósito além de rejeitar pobres e minorias sociais? É tanta barbaridade, que fica até difícil de acreditar que uma pessoa humana carrega tamanho ranço dentro de si. E por mais que as teses sobre os porquês desse comportamento variem, o mais provável é que as falas do representante do governo Bolsonaro sejam exatamente o que ele pensa e pretende colocar em prática.

Milton Ribeiro nunca apareceu nas capas de jornais ou na TV por ter implementado um grande projeto para a Educação. Seu nome sempre ganha visibilidade quando, sem meias verdades, segrega pessoas com deficiência, condena homossexuais, defende que gente – essa gente que dá duro para viver – exista só para trabalhar. Milton Ribeiro, enquanto ministro, trai o povo; enquanto pastor, trai o Cristo.

O projeto que serve o ministro da Educação, desde o primeiro minuto como representante do Estado, é aquele que coloca cada um em “seu devido lugar”, ou melhor, que mantém a prática cruel de privilegiar ricos e explorar pobres.

O compromisso é apenas com aqueles que acumulam grandes fortunas em cima da mão de obra barata; que recriminam a trabalhadora doméstica que faz faculdade; que escondem a bolsa debaixo do braço ao passar ao lado de um negro; que acham que gay é resultado de falta de porrada. 

Além das falas explícitas contra a sociedade que deveria cuidar, Milton Ribeiro também joga com o cinismo. No seu discurso de posse, em julho do ano passado, o ministro disse: “Nós precisamos resgatar o respeito pelo professor”. A frase foi dita após Ribeiro considerar “equivocadas” as políticas e filosofias educacionais que, segundo ele, “desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula”. 

Em primeiro lugar, o ministro deixou de falar que este terrível cenário de violência nas escolas diz mais respeito ao contexto social imposto do que a uma fantasiosa investida comunista no ambiente escolar. No governo Bolsonaro, ao qual Milton Ribeiro representa e segue fielmente, crianças e adolescente são gravemente marcadas pelo desespero da fome, pela angústia do desemprego dos pais, pela pobreza que anula qualquer tipo de perspectiva. 

Além disso, o ministro da Educação que fala em “resgate do respeito aos professores” é o mesmo que afirma que a internet gratuita para professores e alunos torna a situação orçamentária do Ministério da Educação “complexa”; é o mesmo que pressiona governadores a determinarem o retorno presencial às aulas em plena pandemia, independente da criação de protocolos específicos de segurança sanitária para o setor; é o mesmo que teve a audácia de dizer que “hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”.

Com Milton Ribeiro no MEC, a reestruturação das escolas públicas ficou parada, a educação básica perdeu programas de cooperação com estados e municípios, os cortes nos orçamentos de universidades e institutos de pesquisa foram ampliados.

E mais: o ministro da Educação é uma das vozes mais potentes em defesa da Lei da Mordaça (Escola Sem Partido), que impede professores de expressarem seus conhecimentos; da militarização das escolas, que coloca policiais como gestores; e da Educação Domiciliar, que banaliza a figura do professor e da professora. 

Mas aonde o ministro da Educação quer chegar? Não há mistério, está explícito; e é dito pelo próprio Ribeiro quando fala, por exemplo, que as universidades deveriam “ser para poucos”. Sem o acesso à educação, jovens trabalhadores ficam entregues ao desemprego ou, no máximo, ao subemprego, com salários menores, explorados por aqueles que nunca precisaram de cotas, de bolsa, de incentivo para poder estudar.

O povo sem educação se torna um povo sem perspectiva, amuado, sem consciência da sua própria história; que tende aceitar de cabeça baixa o que o patrão disser. Um povo sem educação é um povo que não pode sequer sonhar.

E é com um povo calado, contido, que fica mais fácil consolidar a velha história de que, no Brasil, o rico cada vez fica mais rico e o pobre, cada vez mais pobre. Isso acontece sim com a exploração da mão de obra, mas acontece também com a venda das empresas públicas e o fim dos serviços públicos, mais um projeto da equipe Bolsonaro.

Para entender, questione-se: se o Estado não vai prestar um serviço para a população, quem vai prestar? Claro, a iniciativa privada, que vai lucrar enquanto o povo pobre ficará, na melhor das hipóteses, ainda mais endividado ao ter que pagar por serviços básicos para a dignidade humana, como saúde, segurança e educação.

As falas de Milton Ribeiro, ministro da Educação, são lamentáveis, abomináveis, escandalosas, vergonhosas, intragáveis, reprováveis, repreensíveis, imorais, detestáveis, indignas. Mas o que esperar de um LGBTfóbico, capacitista, machista, elitista, entreguista, negacionista e fiel seguidor de Jair Bolsonaro?

Não podemos nos enganar, assim como não se pode esperar que nasça abacate de laranjeira.

(*) Rosilene Corrêa, dirigente do Sinpro – DF  e da CNTE

Fonte: SINPRO-DF

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