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Presidente do IBGE destaca que o crescimento do emprego no Brasil depende de investimentos e dinamismo econômico, não de reformas trabalhistas ou sorte

247 – Em entrevista ao Boa Noite 247, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, traçou um panorama da economia brasileira, com foco na geração de empregos e nas transformações estruturais necessárias para o desenvolvimento do país. Pochmann destacou o papel das políticas públicas e da gestão econômica na criação de postos de trabalho, além de projetar desafios que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos. “Não é milagre, é determinação de que o país precisa crescer”, afirmou.

A análise de Pochmann revela um quadro de avanço econômico em meio a dificuldades herdadas da década passada, período que ele definiu como uma “década perdida”, em razão da recessão e do baixo dinamismo econômico. Ele sublinhou que o crescimento do emprego está diretamente relacionado à demanda da economia e não ao grau de proteção do mercado de trabalho. “O nível de emprego não depende necessariamente da situação individual de cada um, mas sim se há ou não demanda por postos de trabalho. Isso resulta da dinâmica econômica”, explicou.

A Era Digital e a divisão internacional do trabalho

Para Pochmann, a necessidade de reindustrialização e a transição para uma economia digital são fundamentais para que o Brasil altere sua posição na divisão internacional do trabalho. Atualmente, o país é um dos maiores consumidores de bens e serviços digitais, mas grande parte dessa demanda é atendida por importações. “O Brasil é o quarto maior mercado consumidor de bens e serviços digitais do mundo, mas estamos integrados à era digital, de certa forma, por conta do dinâmico setor do agronegócio”, afirmou. Ele defende que uma mudança nesse cenário dependerá de investimentos robustos em tecnologia e educação, o que permitirá a criação de empregos de maior remuneração.

Crescimento econômico e desafios estruturais

A geração de empregos, segundo o presidente do IBGE, está concentrada em setores de baixa remuneração. Ele observa que a grande maioria dos postos de trabalho gerados no Brasil atualmente está na faixa de até um salário mínimo e meio. “Estamos ocupando capacidade ociosa instalada, por isso, a questão do investimento é determinante para o diálogo com o futuro em relação ao tema do emprego”, disse Pochmann, ressaltando a importância de políticas voltadas à inovação e à industrialização.

O comportamento da inflação também foi um ponto abordado na entrevista. Segundo Pochmann, a taxa de inflação relativamente baixa tem permitido um aumento no poder de compra dos trabalhadores, embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido para melhorar as condições de trabalho e de renda no país.

O papel do IBGE e as novas pesquisas

O IBGE, sob a liderança de Pochmann, tem se empenhado em oferecer dados mais precisos e atualizados para subsidiar a formulação de políticas públicas. Ele mencionou a criação do Sistema Nacional de Geociência, Estatísticas e Dados (SIND), que integra diversas bases de dados para fornecer uma visão mais completa do país. “As pesquisas que temos revelam uma nova realidade histórica do país”, afirmou.

Entre as pesquisas em andamento, destaca-se a Pesquisa de Orçamento Familiar e Uso do Tempo, que acompanhará 103 mil famílias ao longo de doze meses. Essa pesquisa será crucial para atualizar a estrutura de consumo do país e avaliar se o Brasil saiu ou não do mapa da fome, além de entender melhor os padrões alimentares e de saúde da população.

Pochmann também mencionou o Censo Agropecuário, que o IBGE está preparando para o próximo ano, e o papel fundamental das estatísticas para orientar as políticas públicas. Ele ressaltou que, sem dados adequados, há risco de formulação de políticas inadequadas.

A mudança de época no Brasil

O presidente do IBGE destacou que o Brasil vive uma “mudança de época”, deixando de ser um país predominantemente agrário ou industrial para se consolidar como uma economia de serviços, fortemente ancorada na era digital. “Isso é uma outra sociedade, e o IBGE precisa estar conectado com essa nova realidade”, afirmou Pochmann, destacando o desafio de modernizar a instituição e torná-la mais ágil na produção e divulgação de dados.

A era digital também trouxe novas formas de organização do trabalho, e Pochmann alerta para a necessidade de repensar as definições de trabalho, especialmente em relação às atividades informais e digitais. Ele citou o exemplo dos jovens que trabalham em redes sociais, como youtubers, cujas atividades muitas vezes não são contabilizadas como trabalho nas estatísticas oficiais. “Precisamos entender melhor essas novas formas de ocupação e atualizar nossas pesquisas para refletir essa realidade”, concluiu. Assista:

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