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Partido decidiu que vai apoiar “frente unitária” contra “extrema-direita”. Só não deixou claro com quem seria essa frente…

Lula – Foto: Ricardo Stuckert

No fim de semana passado, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em razão de seu 7º Congresso Nacional, reuniu seus dirigentes e delegados para tomar uma posição em relação às eleições de 2022. E a posição é… nenhuma!

Conforme veiculado pela imprensa burguesa e pelo próprio psolista Glauber Braga, deputado federal pelo Rio de Janeiro, as decisões só serão tomadas de fato em 2022, na conferência eleitoral da sigla. Trata-se, portanto, de uma tentativa de empurrar com a barriga. Mas a política de empurrar com a barriga já é, em si, uma posição: mostra que o partido não está preparado para assumir publicamente uma posição em relação ao próximo pleito eleitoral.

E que dúvidas o PSOL poderia ter? Bom, se o PSOL fosse um partido operário, que estivesse envolvido na luta contra o golpe, não haveria o que titubear: a posição da esquerda deveria ser a de apoiar a candidatura de Lula, a única que mobiliza massas contra a extrema-direita e os golpistas. Mas como esse não é o caso do PSOL, há, no partido, ao menos três posições correntes:

1) “Nem Lula, nem Bolsonaro (lado A). É a posição dos setores mais abertamente frente-amplistas do PSOL, como a deputada estadual Isa Penna, de São Paulo. É representada por aqueles que se dizem contra Bolsonaro, mas se negam a apoiar o PT porque o partido seria “corrupto” ou por qualquer outro pretexto tirado da revista Veja. Alérgicos à polarização política, não se envergonham de apontar o PSDB como um aliado em potencial — são, portanto, líderes de torcida da “terceira via”.

Vale lembrar que o próprio presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, convidou o MBL para os atos Fora Bolsonaro e defendeu a participação do PSDB nas manifestações, mesmo após seus cabos eleitorais terem sido expulsos violentamente pelos manifestantes.

2) “Nem Lula, nem Bolsonaro” (lado B). É a posição do deputado Glauber Braga, que não quer apoiar Lula para apoiar a sua própria candidatura. Segundo essa corrente, a esquerda não deveria apoiar Lula, e sim um candidato “melhor”, mesmo que esse candidato não tenha votos nem mesmo na família dele.

É, no fim das contas, uma variação da campanha da “terceira via”. A única diferença é que quem defende essa política, está apostando em um cavalo que, com certeza, não será capaz nem de chegar ao segundo turno.

3) “Lula 2022, se o PT me der cargos”. É a posição típica dos oportunistas, que passaram a flertar publicamente com a candidatura de Lula após o ex-presidente ter seus direitos políticos reestabelecidos. Afinal, sabem que Lula é o maior candidato da esquerda e que, sob sua imagem, virá uma poderosíssima máquina eleitoral. Mas como o objetivo é puramente eleitoral, só estão dispostos a apoiar Lula se receberem muito em troco.

Todo mundo já sabe que o PSOL está chantageando o PT — usando até mesmo a Folha de S.Paulo — para que o partido apoie a candidatura de Guilherme Boulos ao governo de São Paulo. Por trás dessa negociação, haveria, naturalmente, muitas outras, que dificilmente virão à tona, mas que são um episódio certeiro na política burguesa e oportunista.

O PSOL não se definiu em seu Congresso porque o partido não tem uma única política para 2022 — embora todas as três correntes defendam uma política podre de colaboração com a burguesia. No entanto, cabe a seguinte pergunta: qual das três correntes se saiu melhor nessa “prévia de conferência eleitoral” que foi o Congresso do partido?

Não é preciso grande esforço para ver. O partido decidiu, por ora, não lançar candidato próprio — o que desautoriza um pouco Glauber Braga, mas, conforme ele mesmo deixou claro, ainda há tempo para reverter a situação. Se o que diz for verdade, 44% dos delegados teriam votado a favor de uma candidatura própria, contra 56% que não necessariamente estariam contra, mas que preferiram deixar a decisão para o ano seguinte.

A posição de “Lula 2022”, mesmo que seja para que o PT lhe dê cargos, foi quem saiu verdadeiramente derrotada. Não há menção alguma ao ex-presidente nas resoluções do Congresso, o que deixa claro que o nome do petista não está no centro da discussão do PSOL. É apenas uma possibilidade, um nome, dentro tudo o que pode sair da próxima conferência.

A derrota dessa posição, neste momento, é particularmente importante porque o apoio à candidatura de Lula é a posição que mais depende de uma decisão prévia. Afinal, como Lula é o candidato contra a burguesia, quanto mais o tempo passa, maior será a pressão contra a sua candidatura. O PSOL, no fim das contas, deliberou por não fazer nenhuma campanha por Lula presidente — sem campanha, não há sequer como existir a candidatura de Lula, visto que é uma candidatura sob risco. Felizmente, não depende do PSOL se vai haver ou não uma campanha prévia por Lula presidente. Ela já existe e está nas ruas graças ao PCO e aos militantes do PT.

A grande vitoriosa do Congresso foi a corrente da “terceira via”. A resolução destaca que “a prioridade, ao nível nacional, deve ser a construção da unidade entre os setores populares para assegurar a derrota da extrema-direita. Esse processo de diálogo deve envolver elementos programáticos, arco de alianças e não pode ser uma via de mão única”. Está claro para todo mundo ver: em 2022, pode acontecer tudo, inclusive um apoio à direita golpista.

Não é possível afirmar categoricamente que o PSOL não apoiará Lula em 2022. A política, afinal, é muito dinâmica. No entanto, o que é fácil de concluir é que essa indecisão fortalece os setores mais frente-amplistas do partido para que, em 2022, encontrem um pretexto para dizer: “desculpe, Lula, mas a unidade é com o PSDB”. O Congresso não colocou freio algum nessa possibilidade, pelo contrário: estimulou-a.

Vale lembrar que um filme parecido com esse já aconteceu em 2020. Marcelo Freixo, então pré-candidato do PSOL à prefeitura do Rio de Janeiro, renunciou em nome da “unidade”. Quando ficou claro que a unidade mais natural dar-se-ia em torno da candidata do PT, Benedita da Silva, o PSOL lançou outro candidato. E Freixo, no segundo turno, fez aquilo que já queria fazer desde antes: apoiou o candidato do DEM, Eduardo

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