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Sem cargos públicos desde que deixou o Senado, em 2014, Pedro Simon (PMDB-RS) agora anda “fazendo campanha ética, pela seriedade”, como ele diz. Foram 41 anos seguidos exercendo cargos públicos, de deputado estadual a governador do Rio Grande do Sul. Prestes a completar 88 anos, na próxima quarta-feira (31), ele se vê ainda mais à vontade para falar de política. “Não estando na política, eu tenho mais autoridade para falar. Temos que buscar uma solução a favor do Brasil”, disse ao UOL.

Simon analisou o cenário político para a eleição presidencial de outubro e não enxerga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nele após o julgamento do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que o condenou a 12 anos e um mês de prisão.
Ele também acha que o adversário mais próximo do petista nas pesquisas de intenção de voto, deputado federal Jair Bolsonaro, não reúne capacidade para governar.
Ainda para Simon, o atual presidente e colega de partido, Michel Temer (PMDB), não deveria sequer cogitar disputar a eleição. E para Marina Silva (Rede), que considera ser o nome certo, ele só tem elogios: diz que o Brasil não a merece.

Na entrevista, o veterano recordou a última eleição que disputou, há quatro anos: “minha candidatura foi de mentirinha”. “Meu nome foi preenchido para ajudar na campanha do Sartori”, comentou, citando o atual governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB).

Sobre a ideia de membros do PMDB gaúcho de lançar seu nome na disputa presidencial deste ano, ele ri e diz: “meu tempo já passou”.

Confira os principais trechos da entrevista:
O que o senhor achou da decisão do TRF-4?

O voto foi muito claro, foi muito preciso. Eu acho, com toda sinceridade, que a questão está consumada. O Lula pode querer insistir, mas esse vai ser um trabalho que não vai redundar em nada porque não vejo como refazer a posição. Ele está fora do páreo.

CONDENADO, LULA PODE SER CANDIDATO?
O PT tem reafirmado que, mesmo com a condenação, vai registrar a candidatura de Lula. O senhor acha que ele estará na eleição presidencial?

Acho que não. Acho que ele não vai estar na eleição presidencial. Tem gente que está a pé. Ciro Gomes [pré-candidato do PDT] está fazendo uma campanha na expectativa de que o Lula não seja candidato. Se o Lula não for candidato, ele quer ter o apoio do PT. Eu acho que está consumada essa posição: o Lula está fora do páreo.

Ciro atrairia mais votos do Lula do que Marina Silva?

Não sei. Acho que a Marina vai ser a mais beneficiada com a saída do Lula. É uma candidatura mais séria, mais responsável. Em duas eleições, ela fez 20 milhões de votos. É uma biografia limpa, absolutamente limpa, correta, decente. A Marina, acho que, hoje, dos nomes que estão aí, é a candidata ideal. Só que ela é boa demais para nós, né? Ela é integra, correta, é séria. Não tem defeitos. Então não serve para nós.

O PT está certo em não ter um plano B, em querer exclusivamente Lula?

Ele [partido] está dizendo o que tinha que dizer. Se já tivesse apresentado plano B, o PT tinha acabado na quarta [dia 24, quando aconteceu o julgamento]. Então, eles dizem: não tem plano B, é o Lula. O PT tem que ir com essa tese até o momento em que eles vão ver que não tem chance do Lula, e aí vão preparar, arranjar um nome.

O TRF-4 indicou que vai pedir o cumprimento da pena de prisão contra Lula, que tem apoiadores criticando intensamente a Justiça. Que efeitos a prisão de Lula teria?

É imprevisível. Ele é uma bandeira muito forte para o PT. Ele é uma vítima, e a gente gosta de uma vítima. Esse é um argumento que eles vão usar muito na campanha. Eu vejo com muita preocupação esse negócio da prisão.

Eu acho que para a política, para o bem-estar da sociedade brasileira, é melhor ter o Lula solto do que preso
Ex-senador Pedro Simon

Confrontos políticos têm marcado o país desde 2013, deixando de lado propostas e planos de governo. O senhor vê algo diferente no horizonte quanto a isso?

Não, lamentavelmente, não. Uma coisa que pode ser é terminar com a corrupção, né? Assim como o Lula não pode ser candidato porque, com a condenação dele, ele está comprometido com a Ficha Limpa, tem muita gente que é candidato aí, deputado que quer ser candidato que tem a ficha até dez vezes mais suja que a do Lula. Se retirar da política os que são “ficha suja”, já é uma grande coisa.

Atualmente, o cenário eleitoral de 2018 está polarizado entre extremos, com Lula de um lado e Bolsonaro de outro. O senhor acha que esse cenário se sustenta até outubro?

Bolsonaro não reúne nenhuma condição para governar o Brasil

O nome de um cidadão que não apresentou nada a não ser essa tese de defender a ditadura militar, de que vai botar comunistas ou quem mais na cadeia, não tem condições de que ele seja capaz de empolgar a sociedade. O Lula, sim. Se for ele, claro que empolga. Mas se o Lula não for candidato, também acho difícil que alguém substitua a figura dele para polarizar.

O nome, hoje, para mim, seria o da Marina. Se o Lula não for candidato, o nome que tem para preencher esse vazio é a Marina. Em 2014, ela estava espetacularmente bem. Aí, quando veio a televisão (horário eleitoral), ela se esvaziou. Ela tinha um minuto. A Dilma tinha dez. Isso é um problema sério no Brasil

Se tiver uma frente em torno dela, ela [Marina Silva] pode ser o grande nome desta eleição

Com os indicadores econômicos apresentando sinais de melhora, o senhor acha que Temer deve disputar a eleição de 2018?

De jeito nenhum, acho que a pior coisa que ele poderia fazer seria disputar a eleição. Acho que ele vai entender que ele não tem nenhuma chance. Ainda que ele faça um bom governo, que ele vá bem –Deus queira que vá–, não há condições de ele ser candidato à Presidência.

As pessoas têm muita dificuldade em entender o PMDB, que, em cada Estado, pensa de uma forma. Como o senhor explicaria o PMDB?

Eu estou dentro da sua tese. Eu sou daqueles que também não consegue explicar o PMDB. Cada lugar é um PMDB diferente. É exatamente isso. Agora não há um comando-geral, não tem uma chefia. Então, na verdade, o senador Renan [Calheiros] é um PMDB; o Sarney, outro PMDB; nós do Rio Grande do Sul, mais outro. Infelizmente, não temos um fator de unificação nacional.

UOL