Na edição de ontem (26) do JN, o aparecimento da clássica imagem com um fundo vermelho e o cano carcomido por onde escorre muito dinheiro já antecipava o tema – a grande corrupção – e o mote – ela está sempre à espreita e precisa da imprensa sempre atenta.
O assunto era a Operação Lava Jato. Mais especificamente, a reportagem de dois minutos mostrava a defesa aguerrida do ministro Luis Fux (“In Fux We trust”) da Lava Jato.
Abertura:
“O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Fux, afirmou que a corte não vai permitir o que chamou de ‘desconstrução’ da Lava Jato. Fux falou sobre o combate à corrupção nas instituições públicas ao participar do Encontro Nacional do Poder Judiciário”.
Na sequência da reportagem, o ministro ressaltou que o STF não vai permitir a tal “desconstrução” e enfatizou que todas as ações penais e todos os inquéritos passarão pelo plenário, pois o STF “tem o dever de restaurar a imagem do país a um patamar de dignidade da cidadania, de ética e de moralidade do próprio país”.
E enfatizou, vejam só, a importância da imprensa no combate à corrupção:
“Eu elegeria, dentre outros meios, um meio muito importante que é a imprensa investigativa. Porque a imprensa investigativa tem um efeito preventivo para aqueles que não querem se submeter à execração pública. Então, é preciso saber que, se tiver mala de dinheiro em algum lugar, a imprensa descobre. E ela denuncia. E ela traz à lume esses fatos. Então, quanto mais livre for a imprensa, mais eficiente será o combate à corrupção”.
Sendo leiga em questões jurídicas, o que pude entender, pela ilustre fala, a voz de autoridade, é que a imprensa pode, livremente, investigar o que julga incorreto de acordo com seus critérios, condenar e julgar, expondo à opinião pública aquele ator a quem ela, de alguma forma, imputa culpa.
E tudo isso sob os aplausos dos garantidores da lei. Mas, como disse, sou leiga e entendo pouco.
No entanto, mesmo leiga, um incômodo me persegue: no cenário de mídia corporativa altamente concentrada, em que a pluralidade e a voz para grupos distintos não é prática corriqueira, seria essa uma atribuição confortável para o funcionamento democrático?
MOMENTO 2
Reportagem do UOL, hoje (27), traz em destaque o livro da advogada conja Rosângela Moro:
“Sistema detonaria Moro mais dia menos dia, diz Rosangela sobre marido sob Bolsonaro” (essa construção final sobre/sob é deles, não minha).
Matéria grande para a conja anunciar o livro novo dos bastidores, dizer que votou em Lula em 2002 e se arrependeu e afirmar que o voto em Bolsonaro foi por falta de opção. Tudo nos conformes.
Reportagem de O Globo sobre depoimento de Moro à PF afirma que “Moro diz à PF que foi alvo de ataques do ‘gabinete do ódio’ e cita ligação de Carlos Bolsonaro com o grupo”.
Ou seja, ele estava no governo mas não sabia que agiam assim e estava lá para praticar a justiça. Por isso foi perseguido.
MOMENTO 3
Matérias de hoje (27) mostram grande queda na aprovação de Bolsonaro.
No Valor, a falta de rumo de Paulo Guedes é exposta também (já esteve em destaque no Estadão).
O Valor dialoga com a elite refinada. Enfim, o que segurava de alguma forma o apoio ao governo era a perspectiva das reformas, da privatização desenfreada, ou seja, do controle da economia. A constatação e exposição de que Paulo Guedes está em desgraça diz muito, portanto.
Em resumo, num momento bem crucial para o Brasil – nova e forte onda da pandemia, sem ações efetivas do poder público para contê-la, economia em frangalhos – Bolsonaro vai caindo em leve desgraça, e Moro vai retornando à cena política como paladino da moralidade perdida, aqui e acolá.
O herói da justiça que foi ludibriado ao decidir entrar para o governo ogros. Tão inocente, tadinho.
Um personagem realmente importante e de peso na narrativa de que o Brasil precisa de candidatos “ao centro”, equilibrados.
E, claro, nessa narrativa, o conceito de centro será ressignificado, reconstruído para abrigar figuras como Moro, Huck, Doria, ACM Neto…
Aguardemos as cenas.
*Eliara Santana é jornalista e doutora em Estudos Linguísticos pela PUC/MG
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