Felipe Nunes aponta que a maior preocupação neste momento deve ser a sucessão de Arthur Lira: “o Lula vai ter que se meter”
Com a conclusão das eleições municipais, o cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, oferece uma visão estratégica do cenário político para 2026. Em entrevista ao O Globo, Nunes afirma que, diferentemente do que muitos acreditam, o presidente Lula (PT) não precisava obter grandes vitórias para garantir sua posição nas próximas eleições presidenciais. “Lula não precisava ganhar ou perder este ano para ser forte em 2026″, destacou, mencionando o histórico de que eleições municipais pouco refletem nas presidenciais. No entanto, ele alerta que, para a governabilidade do atual mandato, a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados se mostra crucial. “O Lula vai ter que se meter se não quiser ficar sem governabilidade nos últimos dois anos”.
A análise de Nunes também enfatiza a complexidade da eleição de 2026, na qual as emendas parlamentares e um fundo eleitoral substancial são determinantes para a baixa renovação no Congresso. De acordo com o diretor da Quaest, o poder das emendas aumentou exponencialmente nos últimos ciclos eleitorais, consolidando o peso dos prefeitos reeleitos como cabos eleitorais dos parlamentares federais. “Se o mecanismo das emendas se mantiver, teremos alto padrão de reeleição parlamentar e baixa renovação em 2026”, analisa.
Cenário partidário e o fortalecimento do Centrão – Os resultados das eleições municipais mostram um fortalecimento dos partidos do Centrão, o que, segundo Nunes, levará a um aumento nas fusões e federações partidárias para sobreviver à cláusula de barreira em 2026. Esse cenário já era esperado como consequência da reforma eleitoral de 2017, que visava reduzir o número de legendas. No entanto, a aposta desses partidos em candidaturas majoritárias à presidência segue incerta devido ao peso ainda marcante da polarização entre PT e PL. “Existe a força do voto de opinião, e esse sim é muito mobilizado pela polarização ainda”, afirma Nunes, que considera o Congresso como o centro do poder político e econômico no país.
A sucessão de Arthur Lira na Câmara, prevista para fevereiro de 2025, é ponto de destaque para Nunes. O próximo presidente da Câmara será essencial para direcionar as emendas e decidir as pautas que dominarão o Congresso, exercendo influência direta sobre os últimos dois anos de Lula. A possibilidade de Lula evitar interferir nessa disputa não parece viável, na opinião de Nunes, que aponta que o presidente precisará agir para garantir governabilidade: “Lula sabe como foi difícil governar com Arthur Lira”.
Desafios para a esquerda e a busca por novas lideranças – Apesar de um leve crescimento em prefeituras, a esquerda não alcançou o desempenho esperado em 2024, o que traz desafios para o campo progressista. Nunes acredita que é necessário formar lideranças que dialoguem com a realidade atual da sociedade, em que temas como meritocracia, empreendedorismo e valores familiares possuem peso crescente. Além disso, ele sugere uma atenção especial ao eleitorado feminino, que tem desempenhado papel decisivo em disputas acirradas.
Entre as figuras com potencial de liderança, Nunes menciona o prefeito de Recife, João Campos (PSB), e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Ambos se destacaram por sua habilidade em conectar-se com diferentes vertentes políticas, revelando traços de carisma e empatia que, na visão do cientista político, são atributos essenciais para conquistar o eleitorado. “Campos e Paes serão lembrados pelo eleitor por sua personalidade, empatia e carisma mais do que por suas propostas,” observa Nunes, enfatizando a importância de personalidades marcantes na política brasileira.
Bolsonaro, Boulos e a reconfiguração da direita – Por outro lado, a direita enfrenta um cenário de fragmentação. Nomes apoiados por Jair Bolsonaro sofreram derrotas significativas nas capitais, abrindo espaço para uma nova liderança emergente: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo Nunes, a força de Tarcísio o coloca como o principal representante do campo conservador, mas isso também indica uma divisão entre a direita tradicional e a direita bolsonarista. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, também ganha destaque como moderador nesse campo, apoiando tanto candidaturas locais quanto o governo federal.
Guilherme Boulos (Psol), que teve um desempenho sólido em São Paulo, também reconfigura sua imagem, movendo-se em direção a um posicionamento mais moderado. Para Nunes, Boulos consolidou-se como uma figura carismática da esquerda, mas precisará de mais tempo para converter essa imagem em capital eleitoral.
Pablo Marçal e a dinâmica interna da direita – Além de Tarcísio e do PSD, outro elemento novo para a direita é Pablo Marçal, que teve alta visibilidade em 2024 e mostrou apelo com a juventude e os setores mais precarizados. A ascensão de Marçal, segundo Nunes, representa um desafio que a direita moderada precisará enfrentar, pois ele possui potencial de “dinamitar” o bloco conservador, complicando o cenário para 2026.
Em resumo, Nunes aponta que tanto Lula quanto a oposição terão que trabalhar ativamente para consolidar suas bases e ampliar seu alcance. Enquanto Lula deve agir para assegurar uma base de apoio estável no Congresso, a direita precisa encontrar uma forma de manter sua unidade para não enfraquecer suas chances em 2026.
Com informações do Brasil 247
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