youtube facebook instagram twitter

Conheça nossas redes sociais

A Operação “Luz na Infância” deflagrada pela Polícia Federal e pela Polícia Civil  hoje, 28 de março, aterrorizou o Campus da Universidade de São Paulo (USP) pela manhã. Policiais trajando coletes, fuzis e intimidando alunos e professores tomaram o prédio do Curso de Letras e de Ciências Sociais e Filosofia do Campus.

A intimidação foi brutal. Professores foram acusados de quererem ser cúmplices ao perguntarem por que a truculência e onde estava o mandado. Um aluno foi apontado diretamente por um dos policiais durante uma aula e, sem qualquer evidência, definido como o procurado. Não era. O aluno foi para o Hospital Universitário (HU) com ansiedade e pânico.

Quando identificado o procurado, alguém definido apenas como “Léo” ou “Leonardo”, durante a aula de Introdução aos Estudos Literários, a docente foi intimidada. Pediu o mandado e os policiais a intimidaram, lembrando que andavam em grupos de quatro policiais civis e federais. Todos armados. A docente pediu que esperassem a diretora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Seu pedido nem foi considerado e o aluno levado de forma totalmente agressiva de dentro da sala.

O ocorrido logo se espalhou pelos corredores da faculdade. Alunos que estavam nas salas nas quais a polícia entrou ficaram com muito medo e muitos foram embora traumatizados. Nos corredores só se falava sobre a brutalidade e truculência com que trataram todos os alunos e professores durante a operação. Todo o sistema digital da USP foi desativado, possivelmente em ligação com a operação.

Desde 2011, a reitoria da USP mantém um contrato com a Polícia Militar no campus. Isso foi um ataque total à liberdade de toda a comunidade uspiana, que desde então sofreu com repressão policial, inclusive com tropas de choque em ataque direto aos alunos. A quebra do regimento interno da USP, que é uma autarquia que tinha certa liberdade para ensino, pesquisa e extensão, foi determinante para o medo de alunos, funcionários, professores e pessoas que frequentam a universidade. Com razão: diversos enfrentamentos se deram desde então, com gás lacrimogênio, processos e prisão de alunos.

A ofensiva do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro cada vez toma mais características fascistas. No caso da cidade de São Paulo a ameaça é tríplice: um fascista como presidente, um fascista como governador e um coxinha como prefeito, acabam tornando a cidade, na prática, em um local constantemente em estado de sítio. Vahan Agopyan, reitor da universidade, é capacho desse grupo de fascistas.

Após o golpe de 2016, ficou claro que a direita não arredará o pé sem mobilização popular. É preciso defender a universidade pública, a previdência social sob o controle dos trabalhadores, saúde pública e todos os direitos da classe operária e alunos de conjunto, num esforço para derrotar o golpe, Bolsonaro e todos os golpistas.

Essa reportagem contou com depoimentos de alunos, professores que viram todo o acontecido.

Abaixo, nota da Diretoria da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas:

Nota da Diretoria sobre a ação policial na FFLCH

Na manhã desta quinta-feira, 28 de março de 2019, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP) foi surpreendida por uma ação policial nos edifícios da Diretoria e Administração, Prof. Antonio Candido (Letras) e no de Filosofia e Ciências Sociais. Policiais Civis uniformizados e fortemente armados entraram em salas de aula para buscar um aluno acusado de crime potencialmente grave que choca a comunidade. O estudante foi levado para uma delegacia onde responde a acusações.
Esta Faculdade é inteiramente a favor do combate a crimes potencialmente graves que chocam a comunidade. Temos uma longa tradição de estudos e ações com vistas a combater quaisquer tipos de violência. 
Sem entrar no mérito das acusações, que a Justiça irá julgar, resguardados os direitos também do acusado, de acordo com os preceitos do Estado democrático, chocou-nos a desproporcionalidade entre os fins e os meios do procedimento policial. Por que o aluno não foi preso na sua residência, como seria típico de um flagrante? Para quê interromper aulas com armas à vista na Universidade? Para quê mobilizar duas dezenas de policiais uniformizados e com uso de metralhadoras para prender o acusado nos prédios da USP?
A diretoria da Faculdade está acionando a procuradoria da Universidade com vistas a esclarecer o episódio. Não vamos aceitar calados que a imagem da FFLCH-USP e a autonomia desta instituição sejam violados por ações injustificáveis. O mais do que necessário combate à criminalidade não pode justificar a agressão às instituições universitárias.
São Paulo, 28 de março de 2019