Steve Rosenberg, que trabalha para a BBC na Rússia, diz que o risco não deve ser descartado
O jornalista Steve Rosenberg, correspondente da BBC em Moscou, publica hoje um artigo em que alerta para o risco de um conflito nuclear. “Deixe-me começar com uma admissão. Tantas vezes, pensei: ‘Putin nunca faria isso’. Então ele vai e faz. ‘Ele nunca anexaria a Crimeia, certo?’ Ele fez. ‘Ele nunca começaria uma guerra no Donbass.’ Ele fez. ‘Ele nunca lançaria uma invasão em grande escala da Ucrânia.’ Ele fez. Concluí que a frase ‘nunca faria’ não se aplica a Vladimir Putin. E isso levanta uma questão desconfortável: ‘Ele nunca apertaria o botão nuclear primeiro. Não é?’ Não é uma questão teórica. O líder da Rússia acaba de colocar as forças nucleares de seu país em alerta ‘especial’, reclamando de ‘declarações agressivas’ sobre a Ucrânia por líderes da Otan”, escreve Rosenberg.
“As palavras de Putin soam como uma ameaça direta de guerra nuclear”, acredita o Prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, segundo aponta o correspondente da BBC. Ele lembra um documentário de 2018, em que o presidente Putin comentou que “… se alguém decidir aniquilar a Rússia, temos o direito legal de responder. Sim, será uma catástrofe para a humanidade e para o mundo. Mas sou um cidadão da Rússia e seu chefe de Estado. Por que precisamos de um mundo sem a Rússia nele?”
“Se Vladimir Putin escolhesse uma opção nuclear, alguém em seu círculo próximo tentaria dissuadi-lo? Ou impedi-lo?”, questiona. “A guerra na Ucrânia é a guerra de Vladimir Putin. Se o líder do Kremlin atingir seus objetivos militares, o futuro da Ucrânia como nação soberana ficará em dúvida. Se for percebido que ele está falhando e sofrer pesadas baixas, o medo é que isso possa levar o Kremlin a adotar medidas mais desesperadas. E o ‘nunca faria’ não se aplica mais”, finaliza.