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O fantasma de Marielle ronda Bolsonaro

“Há sangue que corre de Marielle Franco e Anderson Gomes até os Bolsonaros”

por Urariano Mota, no Vermelho

As notícias desta semana não deixam mais dúvida: há uma ligação clara entre o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, atirador de elite envolvido na execução de Marielle, e o senador Flávio Bolsonaro.

Por enquanto, a ligação se dá por desvio de dinheiro público, na famosa rachadinha. Mas existem elos mais brutais, no reino do sindicato da morte.

Isso quer dizer mais simples: há sangue que corre de Marielle Franco e Anderson Gomes até os Bolsonaros.

Notem que a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não teve o condão de mudar a realidade mesma.

O ministro arquivou duas notícia-crime contra Jair Bolsonaro por obstrução de justiça nas investigações da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Mas vale a pena voltar ao reino do mundo do crime, para melhor retomar a ligação a partir da portaria do condomínio Vivendas da Barra onde moram papai e filhinho Bolsonaro.

Todos lembram: em outubro deste ano, o Jornal Nacional publicou extensa reportagem em que mostrava registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde moram os Bolsonaros.

Em depoimento, o porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato, em 14 de março de 2018, o suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro.

Nesse dia, às 17h10, o porteiro escreveu no livro de visitantes o nome de quem entrou, Élcio, o carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa que o visitante iria, a de número 58.

O porteiro contou que, depois que Élcio se identificou na portaria e disse que iria para a casa 58, ligou para a casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar. Então uma voz que identificou ser a do “Seu Jair” autorizou a entrada.

Depois da reportagem, em um pânico e confusões sem precedentes, Bolsonaro sequestrou a memória da secretária eletrônica da portaria, para confirmar que a voz não era a sua.

E o filho Carlos, para completar, divulgou que a autorização para a entrada do suspeito partiu da casa em que morava outro suspeito – Ronnie Lessa – e não da casa do presidente. Muito bem, para o crime.

Mas fatos não se apagam. O que continua sem resposta é por que o porteiro escreveu no registro da portaria que Élcio de Queiroz iria para a casa 58, de Jair Bolsonaro.

Em princípio, o porteiro não poderia fazer essa inclusão a posteriori, com o objetivo de incriminar Bolsonaro, na época deputado federal. O registro é do dia do crime.

Em depoimento na polícia, o porteiro afirmou que Élcio Queiroz, acusado pelo assassinato de Marielle e Anderson, chegou ao condomínio em que Jair Bolsonaro tem casa, na Barra da Tijuca, e falou na portaria que iria à residência do então deputado federal, número 58.

O porteiro ligou para a casa 58 para confirmar se Élcio estava autorizado a entrar e identificou a pessoa que o atendeu como “seu Jair”, como se referiu ao presidente.

E mais: o porteiro disse que acompanhou a movimentação pelas câmeras de segurança e viu que, ao entrar no condomínio, o carro de Élcio se dirigiu à casa 66. Lá morava Ronnie Lessa, também acusado pela morte de Marielle.

O porteiro então ligou novamente para a casa 58 e a mesma pessoa, que ele identificou como “seu Jair”, disse que sabia para onde Élcio se dirigia.

No livro de registro do condomínio estão anotados o nome de Élcio, a placa do seu carro, a casa a que ele disse que se dirigira para a 58, de Bolsonaro, a hora (17h10) e o dia em que ele entrou no condomínio.

O jornalista Luis Nassif pesquisou: com o porteiro do depoimento tendo entrado de férias, moradores do condomínio foram, por conta própria, conversar com os demais porteiros. E eles garantiram que a ligação foi feita para Bolsonaro mesmo. Sem dúvida.

E depois veio o cúmulo da criação que atesta o nível do criador, como uma obra-prima da inteligência inculta.

A saber: o filho Bolsonaro mostrou que no dia 14/03/2018, às 17h13, houve uma ligação para a casa 65, a casa do Ronnie Lessa, e não para a casa do Bolsonaro.

Observem que o caso deixou de ser desaparecimento do áudio das 17h10min, o caso virou “criação” no feito às17h13min.

Por quê? Segundo o filho Bolsonaro, esta foi a ligação:

“Porteiro: Portaria, boa tarde.

Ronnie Lessa: Boa tarde

Porteiro: É o senhor Élcio

Ronnie Lessa: Tá, pode liberar aí

Porteiro: Tá ok”.

O que esse diálogo quer dizer? A resposta mais simples: os criminosos de Marielle e Anderson são péssimos dramaturgos.

Eles não sabem criar uma fala que se harmonize com a fala de pessoa do povo.

“Tá OK”? Seria bom que os investigadores levantassem outras gravações do porteiro para saber se esse é o seu padrão: “Portaria, boa tarde”. Isso é frase de quem responde, não de quem se apresenta ou pergunta. E mais: não há qualquer transição, liga, entre o”boa tarde” de Lessa e a resposta do porteiro: “É o senhor Élcio”. A não ser, claro, que o o porteiro tivesse o nome de Élcio. Que estranha montagem!

E ficam mais perguntas, por acréscimo.

Por que a perícia do Ministério Público não apurou se algum áudio foi excluído do sistema do condomínio?

Quem é o porteiro?

Quem é o síndico que entregou, em clara “boa vontade”, os áudios da portaria?

Áudios do interfone podem ter sido excluídos.

Há um princípio geral do comum dos vigaristas e ladrões: o seu nível de alfabetização e leitura sempre são muito baixos.

É o que nos salva dos seus golpes. Então, fiquemos neste primor de dramaturgia do crime, no diálogo que se inicia como resposta: portaria, boa tarde. O porteiro OK que disse.

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