Pequim intensifica ações diplomáticas com o Sul Global para equilibrar balança e enfraquecer tentativa do Ocidente em ditar regras das negociações pela paz
Os dias têm sido de agitações para a China no campo geopolítico. Na última sexta-feira (23), o país sofreu sanções que considera “ilegais e unilaterais” dos Estados Unidos – que alega que o gigante asiático vem supostamente exportando produtos e serviços para favorecer a Rússia no conflito com a Ucrânia – e, nesta terça-feira (27), Pequim recebe pela primeira vez em oito anos um conselheiro de Segurança Nacional dos EUA [no caso, Jake Sullivan] para uma “rodada de comunicação estratégica”, que envolverá discussões sobre Taiwan e também sobre a guerra entre Kiev e Moscou.
Especificamente falando sobre a questão ucraniana, o país liderado por Xi Jinping tem intensificado suas ações diplomáticas em busca do que chama de uma “tentativa de resolução negociada”, com participação dos mais diversos atores. Nos últimos 14 meses, o representante especial do governo chinês para assuntos da Eurásia, Li Hui, realizou quatro rodadas de ‘diplomacia de vaivém’, com diversas visitas a países centrais no debate, como Rússia, Ucrânia, Polônia, França e Alemanha, e outros mais distantes geograficamente, como o próprio Brasil, Egito, Indonésia, Turquia, África do Sul, entre outros.
Foi, inclusive, como resultado de uma dessas viagens que surgiu, em maio deste ano, a “Proposta dos Seis Entendimentos Comuns entre o Brasil e a China sobre uma Resolução Política para a Crise na Ucrânia“. O documento, encabeçado pelo Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o Chefe da Assessoria-Especial do Presidente da República do Brasil, Celso Amorim, defende, entre outros pontos, a realização de “uma conferência internacional de paz realizada em um momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz”.
Em uma coletiva de imprensa realizada em Pequim hoje, da qual o Brasil247 participou, Li Hui enfatizou a importância da Proposta dos Seis Entendimentos, destacando-a como “um caminho valioso para promover a resolução da crise na Ucrânia”. O foco da coletiva era apresentar os resultados da última rodada de diplomacia de vaivém chinesa, promovida entre 28 de julho e 7 de agosto. Na ocasião, o representante especial chinês visitou especificamente o Brasil, a África do Sul e a Indonésia – citados como “representantes do Sul Global” e “forças importantes para promover a paz mundial e o desenvolvimento” – para, segundo ele, “conhecer suas visões na atual situação do conflito e discutir formas de desescalar as tensões”.
CRÍTICAS AOS EUA – Apesar de o tema da coletiva ser voltado aos três países citados, Li não deixou de enviar um recado a Washington, quatro dias após o anúncio das sanções à China e na mesma data em que o conselheiro Sullivan inicia sua agenda em Pequim. O representante chinês afirmou que a razão de o conflito na Ucrânia ainda existir está relacionada ao contínuo apoio do Ocidente em fornecer armas a Kiev e avaliou que isso pode ‘levar o conflito a se exacerbar e se espalhar’.
“Não se trata apenas da Rússia e da Ucrânia. O conflito é, na verdade, manipulado por alguns complexos militares-industriais e pelas forças globais que eles representam. Todos os lados [Brasil, África do Sul e Indonésia] concordaram com o lado chinês, acreditando que um determinado país usa a crise para transferir a culpa na tentativa de fabricar a chamada ‘Teoria da Responsabilidade da China’ e ameaçar países que têm laços econômicos e comerciais normais com a Rússia, com sanções unilaterais ilegais. Essas palavras e ações são totalmente motivadas por interesses egoístas e não se baseiam em fatos, e a comunidade internacional nunca as aceitará”, declarou o representante chinês.
Li também analisou que “a situação recente está se tornando cada vez mais complexa”, mas enfatizou a “necessidade de que as nações se mantenham firmes em prol da paz”. Ele também lembrou que a China sempre se guia pelos quatro princípios estabelecidos pelo presidente Xi Jinping na questão ucraniana, os quais prezam por não buscar ganhos egoístas, não adicionar combustível ao fogo, criar condições para a restauração da paz e não prejudicar a estabilidade das cadeias globais de produção e suprimento.
Em um contexto de possível estremecimento nas relações com os EUA [a ver o resultado das conversas entre Wang Yi e Sullivan em Pequim entre hoje e quinta-feira], os recentes esforços chineses de aproximar laços com países de regiões mais distantes podem gerar frutos que dificultarão a missão do Ocidente em tentar impor uma solução unilateral para a questão entre Rússia e Ucrânia – e também para outras disputas sensíveis do presente e futuro.
Com informações do Metrópoles
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