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Confesso que não consegui ver o programa até o fim, tamanha a minha revolta com o que estava assistindo.

Na noite de segunda-feira, o novo Roda Viva, que tinha começado tão bem, desceu ao grau mais baixo do jornalismo de sarjeta, ao literalmente massacrar uma entrevistada.

A vítima foi a valente Manuela D´Ávila, jovem política gaúcha, que teve a ousadia de se candidatar a presidente da República pelo Partido Comunista do Brasil.

Tratada como se fosse uma criminosa de guerra no tribunal de Nüremberg, Manuela foi interrogada por uma bancada de fuzilamento, acusada de todos os crimes praticados por regimes comunistas ao longo da história.

Nem os interrogatórios do juiz Sérgio Moro e seus procuradores em Curitiba tratam desta forma os réus da Lava Jato.

Raridade no mundo político, sem ter nenhuma denúncia de corrupção contra ela, queriam simplesmente negar a Manuela o direito de se candidatar e defender suas propostas para o país na série de entrevistas com os presidenciáveis.

Só para se ter uma ideia da arapuca que armaram, convidaram como entrevistador um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro, Fernando D´Ávila, líder radical dos setores mais retrógrados do agronegócio, que só estava interessado em atacá-la por motivos ideológicos e não em lhe fazer perguntas que interessassem aos telespectadores.

O principal responsável pelo pior Roda Viva da história do mais antigo programa de entrevistas da TV brasileira foi o apresentador Ricardo Lessa, que eu já elogiei aqui, por não querer aparecer mais do que os entrevistados.

O que aconteceu? De um momento para outro, o discreto Lessa, não contente com as barbaridades cometidas por seus convidados, resolveu ele próprio confrontar a candidata, não a deixando responder às suas inquirições.

Parecia visivelmente alterado. Como explicar este comportamento diante de uma candidata desarmada, sempre sorridente, que só queria defender suas teses de desenvolvimento para o país, não tem espaço na mídia e não disputa os primeiros lugares nas pesquisas?

Lessa só queria saber opinião dela sobre Stálin, Mao e outros líderes comunistas do século passado, na mesma linha dos demais inquisidores, como se tivessem ensaiado o bombardeio.

Perguntaram-lhe mais sobre a crise da Venezuela do que sobre o Brasil, como se aqui também não tivéssemos gravíssimos problemas econômicos e de legitimidade das instituições para serem discutidos numa campanha eleitoral.

Como havia na bancada também jornalistas, fiquei envergonhado com o que estão fazendo da nossa profissão, sem o menor respeito ao público que assistia ao programa e queria ser melhor informado sobre a candidata, que está há vinte anos na vida pública e não é uma paraquedista como tantos outros.

Em nenhum outro programa da série se viu isso, nem com Guilherme Boulos, outro candidato considerado maldito pela grande mídia. Pelo menos, o deixaram falar.

Manuela teve que ser muito forte para suportar tudo aquilo e se impor falando mais alto, mas sem perder o controle em nenhum momento.

Fosse um homem o entrevistado, duvido que agiriam da mesma forma.

A ela rendo minhas homenagens por ter resistido bravamente ao massacre desenhado já na formação da bancada, que fugiu ao padrão de equilíbrio ideológico dos programas anteriores.

Só quero ver quem vão convidar para entrevistar o tucano Geraldo Alckmin na entrevista marcada para o dia 30. E como vão se comportar Ricardo Lessa e seus entrevistadores.

Vida que segue.

Por Ricardo Kotscho