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Na semana passada estive na Europa conversando com lideranças políticas em Bruxelas, onde funciona o Parlamento Europeu, e na Espanha, que em abril realizará eleição para presidente e parlamento, e onde aconteceu o Congresso do Partido Socialista Europeu. Conversei com lideranças políticas e brasileiros morando no exterior sobre democracia, os direitos das mulheres, das minorias e dos trabalhadores em um mundo onde eleições são ameaçadas cada vez mais por movimentos de extrema-direita que espalham mentiras e ódio em esquemas milionários de fraudes nas redes sociais. As semelhanças com o Brasil não são coincidências.

Nas conversas com os políticos estrangeiros há sempre três sentimentos: espanto e preocupação com os rumos do nosso país, e solidariedade com o nosso povo e com o presidente Lula.

Em reuniões com os grupos de esquerda e socialdemocrata no Parlamento Europeu, seus representantes expressaram indignação com a prisão de Lula em um processo injusto, por “atos indeterminados”, inexistentes. Hoje está mais claro na Europa a perseguição política ao ex-presidente como parte de um golpe que começou no impeachment de Dilma Rousseff e que tinha que impedir Lula de disputar as eleições para implantarem uma agenda reacionária de redução de direitos sociais e trabalhistas. Essa clareza vem de visitas ao Brasil de deputados como Francisco Assis, do Partido Socialista de Portugal, Miguel Urbán, do Podemos da Espanha e Roberto Gualtieri, do Partido Democrático da Itália, e também da leitura das sentenças de Sérgio Moro sem provas e sem crime, e de artigos de juristas de renome internacional, como o italiano Luigi Ferrajoli. A ascensão ao poder de Moro como ministro de Jair Bolsonaro terminou de escancarar sua parcialidade e uso político do processo contra Lula de forma inadmissível em qualquer país que preze a independência do judiciário e soberania popular.

Só tendo sido eleito por conta de uma armação contra Lula, e um esquema de financiamento irregular de fake news por whastapp contra Fernando Haddad, Bolsonaro causa espanto no exterior, por ser uma pessoa despreparada para ser presidente, com discurso autoritário e atrasado, ministros polêmicos, e ataques sistemáticos aos direitos sociais, aos direitos humanos, aos movimentos sociais, às mulheres e aos povos indígenas. Lá fora, as lideranças ficam chocadas com a disposição de Bolsonaro de negar a ciência e atacar o meio ambiente, danificando o futuro das próximas gerações, tema que mobiliza cada vez mais os europeus. Hoje crescem na Bélgica, Suécia e Inglaterra greves estudantis, com paralisações de um dia lideradas por adolescentes que exigem que os políticos atuem já, agora, na proteção do meio ambiente, para que eles não sofram as consequências do descaso ambiental.

Eles também sabem quem foi Marielle Franco e cobram justiça para um crime cujos suspeitos têm relação próxima com a família do presidente.

O Brasil, que com Lula era exemplo admirável de democracia, estabilidade e avanço da classe trabalhadora, que caminhava para ter trabalhadores com condições sociais e de vida mais próximas das da Europa, hoje é um país sem nenhuma credibilidade, onde a pobreza cresce de novo e as aposentadorias são ameaçadas por uma Reforma da Previdência selvagem, que irá jogar seus idosos na miséria. Um país sem política externa independente, submisso aos desejos dos Estados Unidos de Trump, um governante instável e agressivo que promove líderes de extrema-direita e autoritários pelo mundo. Onde antes havia uma América do Sul de paz, hoje há o risco de um conflito militar na Venezuela para saciar o desejo do governo Trump por guerra e petróleo.

Há atenção e solidariedade do mundo com a luta social dos trabalhadores e do povo no nosso país. Essa solidariedade foi importante no passado, na ditadura militar, e volta a ser importante agora. Há interesse em ampliar o acompanhamento das questões democráticas, dos direitos sociais e do meio ambiente, na defesa de valores comuns entre Brasil e Europa.

É importante sabermos que a luta democrática no nosso país tem a atenção internacional e é parte importante de uma luta maior no mundo contra o ódio e a intolerância na política. É preciso vencer as forças do atraso para construirmos um futuro sustentável, com menos desigualdade social, e evitarmos em todo o planeta o “museu de grandes novidades” do fascismo, da intolerância e da guerra.

Gleisi Hoffmann é deputada federal (PT-PR) e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores

Do PT.org

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