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O cantor Gusttavo Lima perdeu a oportunidade de ficar calado.

Em uma fase ótima na carreira – no carnaval só deu “ainda não me chame de bebê”, frase do refrão de sua música de trabalho – resolveu dar um tiro no próprio pé com um rifle AR-15.

Foi com essa arma que ele foi filmado em um clube de tiros na Flórida. Postou o vídeo no Instagram e, na legenda, defendeu a revogação do estatuto de desarmamento. “Hoje no Brasil só o cidadão de bem está desarmado”, escreveu.

Ele estava de férias com a família na Flórida, o mesmo estado em que aconteceu o último dos dezessete massacres com arma de fogo nos Estados Unidos – que deixou dezessete mortos em uma escola.

Péssimo momento pra falar asneiras nas redes: além dos dezessete massacres em menos de dois meses nos EUA, no Brasil a situação também não é das melhores: O Rio de Janeiro enfrenta uma preocupante intervenção federal, na qual soldados do exército revistam o material escolar de crianças nas favelas cariocas.

O filho de Gusttavo, cidadão de bem, certamente nunca foi revistado. Não deve sequer ter pisado em uma favela em toda a sua então breve vida.

O cantor, rodeado de seguranças particulares, também não deve ter oportunidade de sentir na pele o estrago que o armamento do “cidadão de bem” – nota: como definir o “cidadão de bem”? – pode causar.

Aí fica fácil tirar uma onda no Instagram com um AR-15 e defender a liberação de armas em um país em que se mata por brincadeira.

Criticado pelo Fantástico, Gusttavo enviou um vídeo em que se justificava: “Não defendo o armamento sem critério, só o armamento de pessoas que não têm antecedentes criminais.” Este deve ser o conceito de cidadão de bem para o cantor.

O que Gusttavo também não deve saber é que a ausência de antecedentes criminais não diz nada: só uma sentença transitada em julgado – quando já não cabem recursos – gera antecedentes criminais para o agente. Com a lentidão da justiça brasileira, isso pode demorar décadas – e frequentemente demora.

Os Estados Unidos – onde agora se discute armar os professores em vez de endurecer o processo para a aquisição de armas – são uma prova mais do que clara de que armar as pessoas não resolve o problema da insegurança.

O Brasil não precisa de armas, precisa de educação de qualidade – e menos cantores meia-boca que se intrometam em assuntos que não são de sua alçada.

Por Nathalí Macedo