“Direita brasileira compreendeu que Lula é eleitoralmente imbatível. Talvez seja por isso que uma via judicial foi desenhada para removê-lo do poder”, diz pesquisador especializado em América Latina
Em artigo publicado na versão em espanhol do jornal mais influente dos Estados Unidos, o The New York Times, o pesquisador mexicano Hernán Gómez Bruera, especializado em América Latina, afirma que a perseguição judicial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a um “julgamento de origem viciada e sem o tipo de evidência que exige um processo criminal”.
O articulista observa que as pesquisas apontam o nome de Lula como imbatível na eleição presidencial. “A direita brasileira há muito compreendeu que Lula é eleitoralmente imbatível. Talvez seja por isso que uma via judicial foi desenhada para removê-lo do poder, transferindo para os tribunais uma decisão que em uma democracia deveria corresponder aos cidadãos. Talvez seja por isso que a Bolsa de Valores de São Paulo reagiu com alegria na ratificação da decisão”, escreve Bruera.
O pesquisador observa também que a estratégia, além de tirar o ex-presidente da disputa, visa a prejudicar sua imagem e reputação: “O objetivo é pôr fim ao mito de um líder que capacitou os setores populares, causar um golpe mortal à esquerda brasileira e promover uma agenda econômica, política e social conservadora”.
A análise do articulista decorre de sua interpretação de que na Operação Lava Jato há políticos de todas as matizes citados, do governo e da oposição, mas que – embora o combate à corrupção sistêmica seja “louvável” – os promotores e juízes que conduzem a operação ostentam “ânsia de se tornarem super-heróis e se promoverem politicamente em sua cruzada moral: “Investigaram com maior agilidade e dedicação figuras de partidos políticos de esquerda e Lula com uma particular violência. Não em vão, o juiz Moro tornou-se tão popular em setores identificados com a direita, na medida em que aparece em algumas pesquisas como concorrente potencial”.
A decisão dos juízes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), ao ratificar a condenação que já havia sido sentenciada por Sérgio Moro, dá, na avaliação do colunista, carta branca a um conjunto de perigosas práticas legais que criam um Estado de exceção típico dos regimes autoritários. “Parece que, no Poder Judiciário brasileiro, vale tudo em um julgamento anticorrupção: de romper as regras de um processo criminal, inventar figuras legais inexistentes ou manipular mecanismos de detenção preventiva”, afirma o artigo.
“O objetivo do processo contra Lula não foi promover o surgimento de uma nova república de honestidade e transparência, mas tirar o rival mais temido do caminho”, diz o pesquisador, para quem Lula, qualquer que sejam os desdobramentos da perseguição judicial que sofre, continuará a influenciar a política brasileira por muitos anos, “mesmo que as elites de direita insistam em sepultá-lo e apesar do incalculável custo político que isso poderia ter para a democracia brasileira”.
Leia aqui o artigo na íntegra em sua versão original em espanhol