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Nesta terça-feira 26/10, o ministro da saúde Marcelo Queiroga esteve em Lisboa, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), para fazer conferência sobre a pandemia da covid-19.

Grupos de brasileiros que vivem em Portugal logo se manifestaram contra o convite para o ministro de Bolsonaro falar sobre a pandemia e informaram que fariam manifestação em frente à Faculdade.

Para dissuadir manifestantes, em ato diversionista, a FMUL emitiu nota informando que o ato seria “exclusivamente” em formato virtual, dando a entender que o ministro bolsonarista não estaria presencialmente na Faculdade. Mas esteve.

Falando para cerca de 20 pessoas que estavam presencialmente no teatro, e com audiência nunca superior a 121 pessoas no Youtube, Queiroga discorreu sobre um paraíso de ações desconectadas da realidade brasileira.

O neófito no SUS falou sobre o Sistema Único de Saúde, e claro, fez propaganda de ações do governo Bolsonaro que a população brasileira desconhece e não percebe impacto positivo das mesmas.

Queiroga disse que “o governo Bolsonaro priorizou desde 2019 a atenção básica”, omitindo que o mesmo governo Bolsonaro mandou médicos cubanos embora, desidratando Mais Médicos, e não repôs médicos para preencher as vagas.

O ministro de Bolsonaro também propagandeou o “aumento do orçamento do Ministério da Saúde em R$ 50 bilhões”, deixando de referir a EC 95 que surrupiou centenas de bilhões de reais do orçamento do SUS.

Também divulgou abertura e habilitação de leitos de UTI que chegaram, segundo ele, em cerca de 42 mil no total, devidamente equipados e financiados, omitindo que governos estaduais recorreram ao Supremo Tribunal Federal em 2020 para receber financiamento dos leitos.

Integrante de governo patrimonialista, Queiroga citou Sérgio Buarque de Hollanda, fazendo referência crítica ao patrimonialismo de setores da sociedade brasileira.

Em outra citação, o ministro cardiologista recorreu ao ex-presidente Kennedy dos Estados Unidos, ao reverberar frase “não pergunte o que o país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo país”. Frase que soa sem sentido na boca de ministro do governo Bolsonaro.

Queiroga ainda encontrou espaço para fustigar cientistas brasileiros, ao dizer que não basta pedirem por orçamento público, mas que pesquisas tem que ser divulgadas em revistas consagradas, não bastando divulgar no Instagram, como se cientistas brasileiros tivessem essa prática, e não o governo que se comunica pelas redes sociais divulgando fakenews, como por exemplo, de que vacina contra covid-19 desenvolve AIDS nas pessoas. Aliás, o ministro nada falou sobre isso.

Entretanto, no panfleto publicitário do ministro Queiroga duas frases soaram mais fortes.

A primeira ao dizer que “o governo do presidente Bolsonaro tem atenção especial para a vida”.

O que até poderia ser uma verdade, dado o ângulo do qual você observa, ou respondendo à pergunta “para a vida de quem?”

Certamente não para a vida de mais de 605 mil pessoas que morreram asfixiadas, sob o deboche presidencial.

A segunda pérola lapidar de Queiroga foi afirmar, após discorrer sobre alguns números, em especial da vacinação e se referir às mesmas como “atitudes concretas do governo Bolsonaro” contra a pandemia.

Numa conferência para não mais que 200 pessoas, entre presenciais e Youtubue, o ministro da saúde indiciado pela CPI da Pandemia omitiu tudo que o Ministério da Saúde fez contra a segurança sanitária da população, como indicar “kit covid” com medicações sem eficácia no tratamento da covid-19, disponibilizar aplicativo Tratecov que sempre prescrevia medicações do “kit covid”, não referendar ações de lockdown, atrasar compra de vacinas em meio a tratativas espúrias de compra de vacinas não existentes, etc.

Queiroga também deixou de citar todas as inúmeras ações do presidente a quem ele serve para colocar população em extremo risco sanitário, induzindo centenas de milhares de pessoas à morte.

Não bastasse todas as omissões e distorções de fatos, Queiroga torrou dinheiro público para que mesmo?

Para falar para diminuto público que, na totalidade no Youtube, o atacava em comentários críticos e ácidos.

A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa perdeu a oportunidade de demonstrar respeito pelas vidas de mais de 605 mil brasileiros que foram perdidas e aos familiares enlutados, ofertando para seus alunos deprimente exposição de um governo diversionista, que faz da mentira um método, e que fez da pandemia oportunidade para potencializar projeto eugenista e genocida.

Por mais propaganda diversionista que seja feita, a necropolítica de extermínio não será apagada por simples narrativa, como não foi apagado o holocausto judeu.

Caxias do Sul, 26 de outubro de 2021

*Luís Carlos Bolzan é psicólogo, mestre em gestão pública com ênfase em saúde.

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