Jovens estudantes e trabalhadores das juventudes e agrupações impulsionadas pela Fração Trotskista – Quarta Internacional (FT-QI) Argentina, Brasil, Estados Unidos, Chile, México, França, Estado Espanhol, Alemanha, Itália, Venezuela, Bolívia, Peru, Costa Rica e Uruguai nos somamos a Greve Mundial pelo Clima neste 24 de setembro e em sete idiomas diferentes, gritamos o mesmo: se o capitalismo destrói o planeta, destruamos o capitalismo!
Neste 24 de setembro, vamos encher as ruas mais uma vez em uma nova Greve Mundial pelo Clima. Motivos não faltam: o agravamento da crise climática, demonstrado pelas enchentes, secas e incêndios florestais que se alastram de forma devastadora, como foi demonstrado no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e nos planos extrativistas do imperialismo na América Latina e África, que tornam ainda mais urgente a necessidade de mobilização.
Nesta convocatória do 24S exigimos que os governos tomem medidas urgentes para conter o aquecimento global e avançar na transição energética. Diante do agravamento da crise climática, é necessário levantar um programa independente e conquistar uma estratégia para acabar com a causa da catástrofe ecossocial que nos ameaça: o sistema capitalista.
O aquecimento global como resultado da produção capitalista representa uma ameaça direta à vida de centenas de milhões nas próximas décadas. Mas, em vez de sucumbir ao desespero e a desmoralização climáticas, devemos canalizar nossa frustração na luta para derrubar o sistema capitalista. Não é tarde demais para evitar níveis catastróficos de aquecimento. Mas não devemos estar sob ilusões nos partidos do capital para fazer as mudanças que precisamos. Apenas a classe trabalhadora e seus aliados têm o poder de construir um novo sistema que seja de interesse da humanidade como um todo.
Com a crise ambiental se agudizando, não há tempo a perder
A publicação da primeira parte da sexta Avaliação do Relatório do IPCC foi conclusiva: as evidências científicas reunidas mostram que o processo de aquecimento global torna suas consequências mais perigosas, sua reversão é cada vez mais difícil e os tempos para tomar medidas que possam detê-lo se aceleram. As mudanças no clima da Terra ocorrem “em todas as regiões e no sistema climático como um todo“, muitas das mudanças observadas no clima “são sem precedentes não só em milhares, mas em centenas de milhares de anos, e algumas das mudanças que já estão ocorrendo, como o aumento contínuo do nível do mar, não poderão ser revertidas por vários séculos ou milênios”.
Mas, se a comprovação científica do aquecimento global é chave no Relatório do IPCC, a outra é a comprovação de sua ligação direta com o modo de produção capitalista. Não há mais dúvidas sobre o impacto desse modo de produção no sistema climático, que tem aquecido muito rapidamente desde o início da Revolução Industrial, com emissões descontroladas de gases de efeito estufa responsáveis por gerar um desequilíbrio global que está nos levando à catástrofe.
O relatório insiste novamente que, a menos que as emissões de dióxido de carbono (CO2) – e outros gases de efeito estufa – sejam profundamente reduzidas a um nível líquido zero até cerca de 2050, a meta do Acordo de Paris será inatingível. Este acordo, negociado na XXI Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 21) em 2015, busca evitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C e limitá-la de atingir 1,5°C, limiares que são considerados como graves consequências para o desenvolvimento da vida no planeta. Mas, na realidade, esses objetivos estão falhando miseravelmente. De acordo com as estimativas mais pessimistas, espera-se que o planeta exceda o limite de 1,5°C em pouco mais de uma década e até o final do século pode chegar a 3°C de aquecimento.
As consequências catastróficas dessa dinâmica já estão à vista: o aumento das secas de proporções sem precedentes na Argentina e no Brasil, bem como incêndios descontrolados na Turquia, Grécia, Tunísia ou Estados Unidos, chuvas torrenciais e inundações na China, Alemanha e países do norte da Europa; ou na América Latina, uma das regiões mais afetadas por tempestades e inundações, como foi no México algumas semanas atrás.
Estamos testemunhando a intensificação de ciclones tropicais, aquecimento e acidificação de rios e oceanos, ondas de calor, chuvas extremas e inundações, todas as manifestações terríveis de uma situação completamente sem precedentes para a humanidade e, embora pareça senso comum que fenômenos naturais ocorram, eles não devem envolver o custo de vidas ou perdas materiais. Tragédias e danos sociais são de responsabilidade dos governos e são evitáveis, mas planos de construção, planejamento e adaptação são necessários sob o controle dos trabalhadores em conjunto com as populações afetadas.
Os efeitos das mudanças climáticas são sentidos por nós jovens, trabalhadores, mulheres e desempregados em nossas regiões, pelas populações camponesas e indígenas, enquanto um punhado de empresários no mundo, que ficam bilionários as custas do nosso trabalho, pode facilmente se realocar para as áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas. Eles e seu sistema são responsáveis por destruir a natureza, ainda que as consequências não sejam as mesmas para todos.
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Não é a “atividade humana”, é capitalismo. Que o medo do colapso não nos impeça de pensar em novos futuros.
A responsabilidade pelo aquecimento global e pela destruição dos ecossistemas tem uma forma histórica concreta: o sistema capitalista. Marx viu uma incompatibilidade fundamental entre produção sustentável e capitalismo: através da produção de commodities, explicou, que o capitalismo cria uma ruptura metabólica, alterando as condições necessárias para uma troca duradoura entre os seres humanos e a natureza. Embora ele tenha descrito esse fenômeno em relação ao esgotamento dos nutrientes do solo pela agricultura capitalista, hoje estamos testemunhando o mesmo colapso metabólico que ocorre em vários sistemas terrestres e afeta nosso clima, água e ar.
A irracionalidade desse modo de produção, baseando-se na exploração do trabalho, na mercantilização, desapropriação e destruição da natureza, no crescimento ilimitado da produção e do consumo – pensado para o lucro empresarial e não as necessidades das pessoas – torna incapaz de manter uma relação harmoniosa com o sistema terrestre.
São as empresas multinacionais como Chevron, Shell, Total, Repsol, ExxonMobil, British Petroleum, ENI, entre as mais conhecidas, que lucram com a extração e produção de combustíveis fósseis, enquanto os governos as promovem e garantem a continuidade de seus negócios. O capitalismo continua gerando uma série de processos autodestrutivos que têm efeitos brutais sobre pessoas e espécies, em muitos casos ainda desconhecidos. A lógica é destruir uma região – ou “zona de sacrifício” – e passar para a próxima, em busca de mais lucro.
Enquanto milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de fome, a pandemia, de origem zoonótica, deixou claro como o agronegócio e a produção industrial de alimentos impulsionados pela busca do lucro destroem ecossistemas inteiros para entregá-los à monocultura, liberando patógenos como o coronavírus ou produzindo-os em condições ideais com grandes fazendas superlotadas de animais maltratados, lotados de antibióticos, como vimos com a gripe A e muitos outros antes. O capitalismo objetifica os animais como meras máquinas a serem exploradas.
No entanto, há aqueles que decidem focar no problema sendo “seres humanos”, em vez desse modo irracional e anárquico de produção. Esses discursos, somados àqueles que dizem que não há como voltar atrás e que estamos caminhando para o colapso e extinção, bloqueiam a possibilidade de pensar e construir outros futuros possíveis. Eles nos impedem de imaginar um sistema social diferente, como o socialismo, um sistema democraticamente organizado pelos trabalhadores, ouvindo todas as vozes e colocando a ciência a serviço do planejamento da economia, produção e distribuição sob uma nova relação, harmoniosa, racional e sustentável, com a natureza, onde ninguém sofre mais por não ter comida ou moradia.
Cúpulas climáticas: uma grande farsa para não mudar nada
Assim como o último relatório do IPCC mostrou que o Acordo de Paris tinha sido completamente impotente para conter as emissões de CO2, a COP 26 será realizada em Glasgow em novembro como uma nova encenação desta farsa.
A realidade é que essas cúpulas têm sido e continuam a ser dominadas pelas grandes corporações capitalistas e pelos governos das principais potencias poluentes do planeta. Isso ficou evidente na Conferência do Clima de Madrid 2019 (COP25), que foi patrocinada pela Endesa e pela Iberdrola, dois pesos pesados do oligopólio energético e a primeira e oitava empresas mais poluentes da Espanha. Ou no vazamento de documentos que comprovam a interferência das grandes empresas americanas de petróleo e energia nas cúpulas climáticas realizadas entre 1989 e 2002 e na redação final de seus acordos; ou o caso da Shell, que está entre as 10 empresas mais poluentes do planeta e como ela influenciou a elaboração dos próprios Acordos de Paris.
São essas corporações imperialistas e seus lobbies bilionários, juntamente com os grandes bancos e governos capitalistas em cumplicidade com grupos armados privados e paramilitares, que promovem a extração e produção de combustíveis fósseis, ou megaprojetos poluentes em países semicoloniais da América Latina e África, de mãos dadas com o deslocamento de comunidades indígenas e um grande número de ataques e assassinatos contra defensores da terra e ativistas ambientais. Ales.
As medidas ditadas pelas cúpulas e pelas agendas “verdes” dos governos só são realizadas desde que não afetem os negócios e interesses das grandes corporações, do comércio mundial e da produção capitalista. As chamadas energias renováveis, intensivas em capital e tecnologia, são desenvolvidas por grandes multinacionais como uma nova fonte de acumulação de riqueza. O discurso verde dessas corporações e dos países imperialistas coloca ênfase especial na necessidade de incentivos fiscais para garantir a rentabilidade das energias renováveis. Continua a considerar a energia como uma mercadoria e reduz o problema às emissões de GEE, ocultando deliberadamente, entre outras coisas, o impacto social e ambiental da mineração necessária para a obtenção dos materiais utilizados na infraestrutura de renováveis. Quando países imperialistas e multinacionais conseguiram reduzir suas emissões de gases poluentes, eles o fizeram realocando sua produção e poluição para países semicoloniais com a cumplicidade dos capitalistas nativos e seus governos, e reforçando os laços de dependência.
Para se ter uma ideia da farsa, basta dizer que, desde o Protocolo de Quioto, em 1997, 50% das emissões totais de CO2 que ocorreram desde o início da era industrial (em 1750) foram liberadas na atmosfera, e somente nos últimos sete anos foram emitidas 10%. Após a Cúpula de Paris (2015) houve o maior aumento das emissões de CO2 na história do capitalismo.
A crise climática, que tem sido cada vez mais relevante em cúpulas e fóruns internacionais, como as cúpulas da Terra e os diálogos convocados por Joe Biden este ano (como no Dia da Terra e nos Fóruns de Energia), a CELAC e a cúpula do G7, são liderados do início ao fim pelas grandes potências imperialistas, tanto para abrir novos mercados, quanto para desenvolver negócios ligados à energia limpa.
Negacionismo reacionário e capitalismo verde, duas respostas dos poderosos que nos levam ao desastre
Diante do aquecimento global, diferentes estratégias são propostas no âmbito do capitalismo. De um lado, o negacionismo da extrema direita, com figuras como Bolsonaro, Abascal, Morrison ou na época Trump, alinhado sem mais com os interesses do grande capital dedicado ao combustível fóssil e ao agronegócio (mas também ao que já prepara os negócios da transição, como no caso de Elon Musk, sem escrúpulos em apoiar a interferência imperialista na Bolívia para garantir o lítio destruindo ecossistemas e populações). Essa posição, financiada por grandes corporações das indústrias de petróleo, energia e automotiva, ainda está em voga e está tentando se espalhar, especialmente na América Latina, em setores da juventude que se autodenominam “libertários”.
Por outro lado, todas as variantes do capitalismo verde e seus representantes políticos, desde os governos e partidos do establishment imperialista mundial até os partidos social-liberais e os verdes, demonstram a cada passo que só usam o discurso verde como greenwashing (buscam esconder toda a exploração e destruição promovida por trás de um discurso “verde”) para favorecer suas burguesias ou aplicar políticas reacionárias.
Apesar de suas promessas de campanha e flerte com a política de Green New Deal, o imperialista Joe Biden tem atuado como um feroz defensor dos interesses das grandes corporações que lucram com combustíveis fósseis, concedendo mais de 2.000 novas autorizações para exploração de petróleo e gás em terras públicas e tribais nos primeiros seis meses do ano (e o plano de conceder 6.000 licenças até o final do ano), enquanto pressionava a OPEP a aumentar sua produção de petróleo. Ao mesmo tempo, os militares dos EUA e sua máquina de guerra infernal implantada em todo o mundo consomem mais combustíveis fósseis e emitem gases mais poluentes do que 140 países. Por sua vez, a China é o maior produtor mundial de C02, com 30% do total. E não só planeja começar a reduzir suas emissões apenas até 2026, mas continua a construir usinas a carvão enquanto terceiriza ativamente sua destruição e riscos ambientais com sua matriz extrativa na América Latina e outras regiões com grande exportação de suínos, megaprojetos hidrelétricos, etc.
O mesmo acontece com o discurso verde do governo de Alberto Fernández na Argentina, que em nome de um falso “desenvolvimento” promove a exploração de hidrocarbonetos até mesmo offshore alocando subsídios estatais milionários para fracking em Vaca Muerta (considerada pela própria ONU como uma “bomba de carbono”), como parte de toda uma matriz extrativista que inclui megamineração, agronegócio e produção de suínos industriais; ou o do governo do PSOE e do Podemos no Estado espanhol, que mostra seu compromisso com o meio ambiente, mas está distribuindo bilhões de euros de fundos da União Europeia entre as empresas mais poluentes do país, para citar apenas alguns exemplos. Ou em outros casos na América Latina, onde governos que se autodenominam “anti-neoliberais” combinam uma retórica de defesa das empresas estatais, a maioria delas produtores de hidrocarbonetos, com megaprojetos de investimento privado imperialista, com os quais buscam manter uma retórica progressista enquanto continuam com planos ecocidas e de desapropriação.
A Utopia do Green New Deal
A política do Green New Deal (GND) é defendida pela ala “progressista” do Partido Democrata Americano, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez e o Democratic Socialists of America (DSA), bem como por outras figuras da esquerda neo-reformista europeia, como Pablo Iglesias e Iñigo Errejón no Estado Espanhol, e até Mesmo Pedro Sánchez do PSOE flertou com a ideia, assim como Biden fez.
Enquanto o GND levanta alguns aspectos que são vistos favoravelmente pelo movimento ambientalista – como garantias para os empregos dos trabalhadores deslocados dos combustíveis fósseis, um grande programa de obras públicas ou garantias para os direitos de sindicalização – as grandes partes do capital colocam todos os obstáculos possíveis para a realização dessas demandas. Mas seu maior limite não é este, mas sim como um programa que sustenta que as mega corporações responsáveis pela atual crise ecológica são aquelas que através de subsídios estatais devem desenvolver a infraestrutura para sair do desastre.
Isso além de ser somente uma ilusão – as corporações se recusaram a abandonar os combustíveis fósseis mesmo quando receberam um financiamento estatal significativo – também recompensa as próprias empresas responsáveis pela crise climática e ecológica que estamos enfrentando. Gigantes de energia, empresas de combustíveis fósseis e todos os maiores poluidores do mundo não serão incentivados a mudar para energia verde, enquanto existam possibilidades de seguir obtendo grandes benefícios nos setores de petróleo, gás e carvão.
Seja defendendo a implementação de programas como o GND ou tornando-se portadores-padrão de propostas semelhantes, como a Agenda 2030 da ONU, correntes neorreformistas como o Podemos ou o Más País no Estado Espanhol, a DSA americana ou a La France Insoumise na França, elas se subordinam à estratégia do capitalismo verde. Dessa forma, acabam agindo como justificadores de “esquerda” da ideia utópica e reacionária de que um “capitalismo sustentável” é possível e que as corporações que geraram a crise atual podem se tornar os salvadores do planeta.
Nenhum dos governos e partidos capitalistas, nem mesmo aqueles que se apresentam como “verdes”, “progressistas” ou de esquerda neorreformista, está disposto a tomar as medidas que a situação exige. Porque para isso eles teriam que enfrentar decisivamente os interesses dos capitalistas. Ao contrário disso, alguns deles pretendem promover pseudo medidas de controle contra as mudanças climáticas, fazendo com que a classe trabalhadora e os setores populares paguem seus custos. É o caso dos Verdes na Alemanha, que querem aumentar o imposto sobre o CO2, afetando fundamentalmente a classe trabalhadora e estão preparando demissões em massa para avançar na “mudança estrutural” para a produção de carros elétricos, produção que, por si só, não é uma medida verde devido ao enorme custo dos materiais que ela necessita. É a mesma política promovida por Macron na França, com o aumento do preço do diesel que desencadeou o movimento dos Coletes Amarelos, ou o fechamento da refinaria Grandpuits, cujos trabalhadores em aliança com os movimentos ambientais responderam com um plano para manter as fontes de trabalho reconvertendo a empresa de forma sustentável. Na América Latina, o mecanismo imperialista da dívida externa serve como extorsão para o avanço extrativista; os governos, sem distinção, reconhecem a dívida e a usam como desculpa para “conseguir dólares” para pagá-la e justificar essa matriz empresarial destrutiva e poluente.
O movimento de juventude pelo clima e as estratégias em disputa
O movimento de juventude, que tem se destacado ao redor do mundo nos últimos anos, demonstrou uma determinação em denunciar a crise climática como ninguém teve. Diante das “potências infernais” que o capitalismo gerou, cujas consequências hoje são inevitáveis, é hora de continuar a trazer à tona as táticas da greve, tanto estudantis quanto de trabalhadores, como um método de luta para tornar nossas demandas visíveis.
Mas dentro do movimento nem todos defendem a mesma estratégia. Embora existam setores que defendem como perspectiva o Green New Deal ou políticas similares geridas pelos Estados capitalistas, outros enfatizam a necessidade de promover mudanças individuais, por exemplo, modificando hábitos de consumo, e que a luta política ocorra no nível local ou micro, enquanto a burguesia tem governos, Estados e organizações internacionais para promover seus negócios. Outra tendência generalizada tem um forte componente antipolítico e critica em pé de igualdade qualquer tipo de organização política, sem delimitação de classe ou distinção se são partidos ou organizações ligadas ao interesse burguês, Estados e governos, ou ações e organizações dos próprios jovens e das maiorias exploradas e oprimidas. Isso inclui tanto grupos quanto ONGs que não querem denunciar partidos e governos para não perderem seu apoio nesses setores, mesmo dando-lhes seu apoio “crítico”; quanto àqueles que acreditam que para vencer apenas a luta social e seus movimentos são suficientes, e negam a luta política. Finalmente, em muitos setores há uma confiança no papel dos Estados capitalistas como agentes de cuidado e redistribuição, o que significa que as mudanças necessárias para superar essa crise são inteiramente possíveis dentro das democracias burguesas, ignorando tanto a experiência histórica quanto a potencialidade da auto-organização do proletariado.
A única maneira de atacar as causas da catástrofe ambiental global que nos ameaça é que a maioria da população esteja envolvida na luta com a classe trabalhadora na vanguarda. Se a relação da sociedade com o resto da natureza é mediada pela produção, é revolucionando a produção que o metabolismo pode ser racionalmente regulado com a natureza. É por isso que a classe trabalhadora, a única classe genuinamente produtora na sociedade, é a única classe que pode atuar como articuladora de uma aliança social capaz de ativar o “freio de emergência” diante do desastre ao qual o capitalismo está nos levando.
A necessidade da classe trabalhadora se integrar à luta climática com suas próprias demandas e seus próprios métodos de luta é vital para o desenvolvimento do movimento. É preciso ajudar a quebrar os preconceitos existentes em amplos setores da classe trabalhadora com o movimento ambientalista, embora muitas vezes sejam justificados por políticas que, em nome da “defesa do meio ambiente”, a desprezaram ao equipará-la aos chefes poluidores ou mesmo promoveram medidas que implicam um ataque direto às suas condições de vida sem qualquer alternativa. Mas, acima de tudo, é necessário confrontar e denunciar o papel reacionário desempenhado pela maioria dos sindicatos burocratizados. Especialmente nos setores da indústria pesada e da indústria energética, as burocracias sindicais atuam como os melhores parceiros dos capitalistas. Muitas vezes se opõem a qualquer medida de transição ecológica, ainda que superficial, sob o argumento de “salvar empregos”, quando o que eles escondem na realidade é uma política para salvar os lucros dos capitalistas, amarrando o destino da classe trabalhadora ao bom negócio dos empreendedores.
A classe trabalhadora tem mostrado, em muitas ocasiões, seu potencial para encontrar uma saída para a catástrofe ambiental, unindo suas demandas às do movimento ambientalista, como na greve da refinaria Total em Grandpuits (França); ou no estaleiro Harland e Wolff, na Irlanda, que foi declarado falido, mas seus trabalhadores assumiram as instalações exigindo sua nacionalização e a implementação de energia limpa; ou com a participação de setores de trabalhadores nas lutas contra a mega mineração na Argentina, unindo-se ao movimento ambientalista e aos jovens que enfrentam o extrativismo. Essas experiências incipientes são uma tendência que precisa ser desenvolvida por meio da promoção de corpos de luta e auto-organização que unam a classe trabalhadora com os movimentos da juventude e do meio ambiente.
A juventude tem o direito inalienável de se rebelar contra um sistema que está literalmente tirando o futuro das próximas gerações. Mas para que essa rebelião triunfe precisa de uma organização independente da classe trabalhadora e juventude, de explorados e oprimidos, que defenda um programa e uma estratégia de luta para conquistar governos dos trabalhadores e povos oprimidos em ruptura com o capitalismo. Contra aqueles que dizem que essa perspectiva é utópica, defendemos que, pelo contrário, é a mais realista: sem planejar racionalmente a economia e acabar com a dinâmica ecodestrutiva do capitalismo que está nos levando à catástrofe, não seremos capazes de parar o ecocídio.
Precisamos construir partidos revolucionários para promover a auto-organização e derrotar todos aqueles que se opõem a essa perspectiva, começando pelas burocracias sindicais e movimentos sociais e pelas lideranças políticas reformistas que fazem tudo ao seu alcance para evitar que os jovens se rebelem e os movimentos de luta se desenvolvam.
Precisamos de uma estratégia para ativar o “freio de emergência”
As mudanças climáticas já estão gerando catástrofes e efeitos sociopolíticos inevitáveis dos quais as grandes potências e as corporações capitalistas não são apenas as mais responsáveis, mas também estão plenamente conscientes. Por essa razão, há anos realizam uma adaptação militarizada às mudanças climáticas, que contempla seus efeitos como riscos políticos e de segurança nacional para as classes dominantes. Um documento do Departamento de Defesa dos EUA de 2015 argumenta que “a mudança climática é uma ameaça crescente e urgente à nossa segurança nacional, contribuindo para o aumento de desastres naturais, fluxos de refugiados e conflitos sobre recursos básicos, como comida e água”. E como se preparam para isso? Com mais exércitos (tanto estatais como paraestatais), cercas para controle de fronteiras, proliferação de discursos racistas e medidas contra a imigração, mais campos de concentração para migrantes e refugiados, mais forças de segurança privadas e repressão diante de desastres naturais para eventualmente defender arquipélagos de prosperidade em meio aos oceanos de miséria e degradação.
Vale ressaltar que aqueles que sofrem as piores consequências da crise climática são os países que menos contribuem para as emissões de CO2, ao mesmo tempo em que são os que começam a registrar deslocamentos de sua população devido a catástrofes sociais como resultado de eventos climáticos mais fortes e extremos, como no caso da América Central, que, segundo a ONU, é a região que tem se caracterizado como particularmente vulnerável aos impactos das mudanças ambientais e climáticas.
Diante disso, e contra qualquer visão catastrófica que leve ao ceticismo, a classe trabalhadora, a juventude e as mulheres trabalhadoras e setores populares em todo o mundo também têm que se preparar. A catástrofe ambiental trará a luta de classes e a rebelião dos explorados para a sobrevivência, não apenas a possibilidade de soluções reacionárias e até mesmo “ecofascistas” sendo julgadas.
Mas não devemos lutar apenas pela sobrevivência, porque o capitalismo não só devasta nosso futuro sob a forma de destruição ambiental, mas destrói nossas expectativas de vida. Vivemos em um sistema que condena grande parte dos seres humanos a viver em condições de miséria, para o qual nós jovens não devemos mais nada. Depende de nós que o futuro ocorra dentro dos limites biofísicos do planeta, mas também em um sistema que permita o desenvolvimento das capacidades e habilidades dos seres humanos, possibilitando a felicidade e a realização pessoal e dessassociando o valor humano de sua produtividade. Só assim podemos enfrentar os grandes problemas que vivenciamos, entre os quais destaca-se uma saúde mental cada vez mais destruída pela impotência diante da precariedade, do fracasso acadêmico, da falta de tempo e da exploração do trabalho.
Nunca foi mais urgente do que agora “ativar o freio de emergência” contra o capitalismo; enfrentar as consequências da crise climática que afeta as maiorias trabalhadoras do mundo, enquanto lutamos para destruir suas causas.
Um programa de transição anticapitalista para evitar catástrofes
Diante de uma perspectiva absolutamente irracional à qual o capitalismo nos conduz, é evidente a necessidade de medidas drásticas e urgentes para tomar o presente e o futuro em nossas mãos através de um planejamento racional da economia mundial; ou como diria Marx, através da “introdução da razão na esfera das relações econômicas”. Isso só pode ser possível se o planejamento da economia estiver nas mãos da única classe que, devido à sua situação objetiva e seus interesses materiais, tem a capacidade de liderar o resto dos setores oprimidos para evitar uma catástrofe: a classe trabalhadora. Uma classe que em toda a sua heterogeneidade – que inclui suas diferentes nacionalidades, povos indígenas e a luta das mulheres contra a opressão patriarcal – tem a força social para realizar uma aliança de trabalhadores, populares e jovens que termina com dupla alienação do trabalho e da natureza imposta pelo capitalismo e avançar no planejamento verdadeiramente democrático e racional da economia.
Esta é a perspectiva para a qual lutam as organizações juvenis que compõem a Fração Trotskista – Quarta Internacional. Diante da farsa das cúpulas climáticas capitalistas e das promessas do “capitalismo verde”, é necessário implantar um programa transitório orientado para uma completa reorganização racional e ecológica da produção, distribuição e consumo com medidas como:
• A desapropriação de toda a indústria energética sob a gestão democrática dos trabalhadores e o controle das comunidades e populações camponesas, nativas ou indígenas afetadas pela produção, juntamente com comitês de consumidores e usuários populares. Dessa forma, o setor energético poderia iniciar uma transição urgente para uma matriz energética sustentável e diversificada, proibindo o fracking (gás e petróleo), exploração offshore e outras técnicas extrativas, reduzindo drasticamente as emissões de CO2, desenvolvendo energias renováveis e baixo impacto ambiental considerando as características de cada território, e em consulta com as comunidades locais.
• Ampliar o transporte público gratuito e de qualidade em todos os níveis para reduzir drasticamente o transporte individual, com a perspectiva de alcançar a nacionalização e a reconversão tecnológica sem indenização e sob o controle dos trabalhadores de todas as empresas de transporte, bem como grandes empresas automobilísticas e metalúrgicas para alcançar uma redução maciça na produção automotiva e no transporte privado, priorizando o transporte de meios de carga, como trilhos ou barcaças ao invés de caminhões. Essas medidas devem visar reduzir o consumo de energia. Boa parte dos objetos transportados compõem enormes circuitos mercantes, o que não faria sentido se não fosse a busca de lucros. É por isso que, essas medidas são inseparáveis da necessidade de decidir democraticamente o que, como e onde ela ocorre.
• A luta para alcançar condições de trabalho seguras em todas as fábricas e empresas, livres de tóxicos e poluentes, juntamente com a redução da jornada de trabalho e a distribuição de horas de trabalho sem redução salarial entre todas as mãos disponíveis, como parte de um plano geral de reorganização racional e unificada da produção e distribuição nas mãos da classe trabalhadora e de suas organizações. Nenhuma dessas medidas pode envolver demissões, condições precárias de trabalho ou afetar as condições de vida das populações e seus territórios.
• A criação de grandes programas de obras públicas, sob o controle dos trabalhadores e da comunidade, para construir rapidamente infraestruturas de energia renovável, como parques solares e eólicos; casas resistentes ao clima e eficientes em energia; desenvolver transporte público limpo, rápido e gratuito; modernizar redes de energia e muito mais, criando dezenas de milhões de empregos com salário digno. Esses programas devem ser financiados pela tributação progressiva de grandes fortunas e grandes corporações poluidoras.
• A desapropriação de grandes propriedades do latifúndio e reforma agrária para pequenos camponeses e povos indígenas. Expulsão de empresas imperialistas, confisco de seus bens e desapropriação sob o controle dos trabalhadores de todo o complexo industrial agroalimentar e exportador. Além disso, o monopólio do comércio exterior e a nacionalização dos bancos para financiar a reconversão e diversificação do modelo agroalimentar em bases sustentáveis e democráticas. Proibição do glifosato, eliminação progressiva de todas as agrotoxinas e proibição de sua comercialização gratuita, além de investimento em pesquisas para promover métodos alternativos como a agroecologia, entre outros. Proibição da produção industrial de animais, produtor de GEE como o metano, responsável pelo desmatamento e criadouro de pandemias.
• A imposição de orçamentos robustos para a conservação da biodiversidade, tanto de espécies quanto da grande variedade de ecossistemas do planeta, com ênfase especial naqueles que estão em maior risco. Regeneração de áreas degradadas (mares, rios, lagos, florestas e campos) com base em impostos progressivos sobre grandes capitais.
• Proibição de megamineração poluidora, nacionalização da mineração tradicional sob controle dos trabalhadores e articulação com o desenvolvimento de uma indústria de recuperação de minerais a partir de sucata eletrônica, implementando “mineração urbana” para a reciclagem de minerais escassos de dispositivos eletrônicos e outros produtos. Expulsão das mineradoras imperialistas e confisco de seus bens para remediar os danos causados às comunidades afetadas. Proibição da apropriação privada de bens públicos, como a água.
• A abolição da dívida externa em países dependentes e semicoloniais, que é uma forma de coerção das potências imperialistas para adotar ajustes neoliberais antiecológicos e extrativistas, bem como a desapropriação de todas as empresas poluidoras nos países periféricos. É inimaginável resolver a crise ecológica nesses países sem independência do imperialismo, que por sua vez sustenta um complexo militar altamente poluente. Chega de militarismo!
• Liberação de patentes e nacionalização sob o controle dos trabalhadores de todas as grandes empresas farmacêuticas diante da persistência da crise do coronavírus e da previsão de novas e piores pandemias, e para fornecer vacinas gratuitas e seguras para toda a população mundial.
• A abertura das fronteiras e o fechamento de centros de detenção de migrantes diante do drama da imigração, o resultado da pobreza e do saque imperialista, e também em muitos casos devido à crise climática.
• Uma política radical voltada para evitar desperdícios e reciclá-los. Não basta filtrar, depurar, etc. Uma conversão industrial ecológica fundamental é necessária para evitar, a priori e em sua fonte, a poluição. Isso também significa acabar com a obsolescência planejada.
• Fim dos segredos comerciais (que permite, por exemplo, ocultar emissões tóxicas) e a obrigação de manter registros públicos especificando as matérias-primas e produtos utilizados. Para uma produção científica livre das amarras do capitalismo e de sua competição irracional.
• Planos de obras de contenção de água, hidráulica e infraestrutura, bem como estudos de solo necessários para atender milhões de famílias em situações de emergência habitacional, bem como realocar em condições dignas e saudáveis a população que está em risco de inundações, deslizamentos de terra ou poluição. Isso está de mãos dadas com o desenvolvimento de planos de contingência social reais e obras públicas, sob o controle de trabalhadores e moradores.
Este programa, juntamente com outras medidas de necessidade imperativa, obviamente é impossível de alcançar dentro dos quadros do capitalismo. Para realizá-lo, é necessária uma estratégia revolucionária que confronte decisivamente os responsáveis pelo desastre.
Os jovens que hoje tomam as ruas ao redor do mundo para lutar pela “justiça climática” têm o desafio de avançar na radicalização de seu programa para impulsionar a luta de classes e acabar com o sistema capitalista, acabar com o Estado que garante a ordem burguesa e colocar todas as alavancas da economia mundial nas mãos da classe trabalhadora. Essa é a pré-condição indispensável para o estabelecimento de um sistema baseado na solidariedade, que recomponha racionalmente o metabolismo natural entre a humanidade e a natureza, e que reorganiza a produção social respeitando os ciclos naturais sem esgotar nossos recursos, ao mesmo tempo em que acabe com a pobreza e as desigualdades sociais.
Em nosso século, as condições da época de crises, guerras e revoluções são atualizadas, confrontando a classe trabalhadora e os povos do mundo não apenas com a barbárie da guerra e da miséria, mas com a catástrofe ambiental e a potencial destruição do planeta. Um projeto verdadeiramente ecológico que enfrenta a crise ambiental à qual o capitalismo nos leva só pode ser assim, se for comunista, com a classe trabalhadora, aliada a todos os setores populares, se colocando subjetivamente na vanguarda para impor esse programa através da luta revolucionária, contra a resistência dos capitalistas.
Não há tempo a perder: organize-se conosco!
As, os e es jovens que impulsionam as agrupações e grupos revolucionários socialistas que assinaram esta declaração fazem parte do movimento climático e das lutas em defesa do meio ambiente em diferentes países e continentes: contra o avanço extrativista do fracking, contra a megamineração predatória, as megafazendas de suínos, a extensão da fronteira agrária e o ataque às comunidades nativas e indígenas na Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Peru, Venezuela, Costa Rica e México; assim como na Europa contra os ataques à classe trabalhadora sob discursos verdes como na França, a expansão de aeroportos no Estado Espanhol ou os constantes megaprojetos na Itália, na luta contra os oleodutos Dakota Access (DAPL) e Linha 3 nos EUA, apoiando as populações indígenas deslocadas e contra os ataques à classe trabalhadora em todo o mundo.
Convocamos os jovens do mundo inteiro que não se resignam a ter seu futuro tirado de nós para dar essas lutas juntos de uma perspectiva revolucionária. Não podemos perder tempo. Temos a força para acabar com esse sistema. O capitalismo e seus governos destroem o planeta, destruamos o capitalismo!
Assinam:
Juventudes e agrupações anticapitalistas, socialistas e revolucionárias impulsionadas pela Fração Trotskistas – Quarta Internacional (FT-QI)
Juventud del Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) – Argentina | Faísca Anticapitalista e Revolucionária (MRT + independentes) – Brasil | Left Voice – Estados Unidos | Agrupación Anticapitalista Vencer (PTR + independentes) – Chile | Agrupación Juvenil Anticapitalista (MTS + independentes) – México | Le Poing Levé – Révolution Permanente – França | Contracorriente (CRT + independentes) – Estado Espanhol | Revolutionäre Internationalistische Organisation (RIO) – Alemanha | Frazione Internazionalista Rivoluzionaria (FIR) – Itália | Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS) – Venezuela | Liga Obrera Revolucionaria (LORCI) – Bolívia | Corriente Socialista de las y los Trabajadores (CST) – Peru | Organización Socialista Revolucionaria (OSR) – Costa Rica | Corriente de Trabajadores Socialistas (CTS) – Uruguai.
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