por Marco Aurélio Carone, para o Viomundo e Novojornal
O Novojornal teve acesso e disponibiliza com exclusividade (na íntegra, ao final) a perícia realizada pela Polícia Federal (PF) em onze HDs e dois pendrives do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.
A solicitação de perícia, recebida pela PF em 28 de maio de 2018, foi feita pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) e do inquérito 4.436, que investiga o agora deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).
Em 9 de agosto de 2018, o setor técnico-científico da PF encaminhou a conclusão do laudo.
A perícia da PF comprova o repasse (entre janeiro de 2009 e dezembro de 2010) de R$ 28,2 milhões para Mineirinho.
Comprova também o depósito (novembro e dezembro de 2008) de US$ 900 mil na conta da Offshore Embersy Services Limited, para Mineirinho.
Em valores atualizados, os pagamentos somam R$ 49 milhões.
A alcunha Mineirinho consta na aba Codinome da planilha, que na aba seguinte, Tradução, informa que Mineirinho é Aécio Neves.
Os valores citados e pagos pela Odebrecht (R$ 28 milhões mais US$ 900 mil) estão relacionados ao Projeto Madeira.
Eles estavam alocados no Centro de Custo da Obra UA77222, Projeto Madeira.
A perícia confirma as informações presentes nas delações premiadas celebradas com executivos e ex-executivos do Grupo Odebrecht e Andrade Gutierrez e homologadas pelo STF.
Essas delações indicavam que Aécio Neves teria recebido R$ 50 milhões (2009 e 2010) para atuar em favor dos interesses dos grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez na Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e em Furnas (Furnas Centrais Elétricas).
Detalhando. Em delação premiada, Marcelo Odebrecht, então presidente da Odebrecht, e Henrique Valladares, na época presidente da Odebrecht Infraestrutura, informaram que a empreiteira havia pago R$ 30 milhões para que Aécio influenciasse a favor do projeto Rio Madeira (Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia).
A respeito do pagamento de R$ 30 milhões, Marcelo Odebrecht em depoimento à PF, em 23 de outubro de 2017, diz que:
*os recursos alocados foram em virtude da influência política de Aécio Neves e do PSDB no setor elétrico, em Furnas e Cemig, especialmente;
* o relacionamento com Aécio Neves ajudou nas discussões do projeto Rio Madeira e objetivamente a contrabalançar o peso da Andrade Gutierrez na Cemig;
*foi acertado um valor total de R$ 50 milhões entre Henrique Valadares e Dimas Toledo (preposto de Aécio), sendo que à Odebrecht coube os R$ 30 milhões e à Andrade Gutierrez, R$ 20 milhões.
Em depoimento à Polícia Federal, em 17 de abril de 2018, Sérgio Andrade, acionista majoritário da Andrade Gutierrez, informou repasse de R$ 20 milhões a Aécio Neves por conta do projeto Rio Madeira.
Quase ao final do depoimento, Sérgio Andrade diz que soube através de Flávio Barra que os pagamentos feitos a Aécio foram realizados por meio de contrato fraudulento firmado pela Andrade Gutierrez e a empresa A.A. L.U. Participações, do empresário carioca Alexandre Accioly.
Barra era administrador da Andrade Gutierrez.
Houve a simulação de contrato da Andrade Gutierrez com a A.A. L.U., empresa controladora da rede de academias Bodytech pertencente a Alexandre Accioly e sócio de Aécio.
Foi a empresa de Accioly, portanto, que recebeu os R$ 20 milhões da Andrade Gutierrez destinados ao então senador Aécio Neves. Em valores atualizados, somam R$ 32,6 milhões.
Segundo o delator Henrique Valladares, a conta da Offshore Embersy é também vinculada ao empresário Alexandre Accioly.
Sediada nas Ilhas Marshall, Cingapura, a conta da Offshore Embersy, recebeu US$ 900 mil da Odebrecht para Aécio.
A peça pericial é completa, pois descreve separadamente os valores pagos, as ordens de pagamento e a quem as importâncias foram entregues.
Como dissemos no início desta matéria, a perícia foi concluída em 9 de agosto de 2018.
Depois disso foi juntada ao inquérito 4.436, que investiga Aécio Neves.
Só em 6 de fevereiro de 2019, ela foi conclusa ao ministro Fachin, como mostra a movimentação do inquérito no STF.
Dois dias depois, em 8 de fevereiro de 2019, o ministro Fachin despachou para procuradora-Geral da República, Raquel Dodge:
Em 27 de fevereiro, o inquérito retornou a Fachin com pedido da PGR para realizasse mais diligências.
Em 14 de março, Fachin reencaminhou o inquérito à Polícia Federal.
Os R$ 50 milhões da Odebrecht e Andrade Gutierrez somados aos R$ 128 milhões pagos pela J&F totalizam R$ 178 milhões de propinas até agora comprovadamente recebidas por Aécio Neves.
Aí. não estão incluídos os valores relativos a uma dúzia de inquéritos ainda pendentes e os depósitos em contas pertencentes a Aécio e seus familiares no Principado de Liechtenstein.
Em tempo. O laudo da perícia da Polícia Federal tem 30 páginas. No finalzinho da 29ª está escrito:
Por fim, por determinação da 13ª Vara Federal de Curitiba, os peritos fazem constar a seguinte informação:
O responsável pela 13ª Vara Federal de Curitiba era o então juiz Sérgio Moro. Portanto, ele tinha conhecimento da perícia comprometendo o então senador Aécio Neves.
Daí a pergunta óbvia: Por que ela não foi tornada pública antes da eleição de 2018?
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