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Já se fala abertamente em renúncia do presidente Jair Bolsonaro. Enquanto isto, o general Hamilton Mourão, como já fartamente anunciado, será recebido na Fiesp para uma reunião, seguida de banquete, com os nomes mais significativos do empresariado de São Paulo – estado responsável por 32,5% do PIB. Estão previstos 500 comensais. O gesto, num momento em que se acirra a crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem muito mais simbologia do que podem supor os responsáveis pela elaboração do cardápio.

Certamente não ficarão de fora da mesa desse jantar, assuntos fervilhantes tais como: a ameaça ao agronegócio, a alta súbita do dólar, a queda vertiginosa de venda da soja brasileira para a China, e a mudança da embaixada do Brasil, para Jerusalém, conforme anunciou desde a campanha, para desconforto dos empresários do ramo de proteína animal, cujas exportações, para a Palestina, serão interrompidas. A ameaça é real e concreta. Os palestinos já deram mostra de que o farão, ao deixar de comprar os cortes de frango do Brasil. E não esconderam que o motivo era político.

Isto, sem contar a queda no mercado acionário e na aceitação de Bolsonaro, que tem perdido apoio popular. Em menos de três meses de poder, vê minguar os que consideravam o seu governo “ótimo” ou “bom”.

Por onde passa, o presidente do Brasil vai acumulando comentários desalentadores. No final de semana, em carta, conforme publicado aqui, no 247, parlamentares progressistas dos EUA, escreveram ao secretário de Estado, Mike Pompeo, condenando Donald Trump por ter recebido e feito elogios ao presidente brasileiro. Eles destacaram no documento: “tem uma longa história de discurso de ódio homogêneo, misógino e racista, elogiou a tortura e expressou admiração pela ditadura militar do Brasil”.

No Chile, mal o seu avião decolou de volta ao país e o presidente Piñera tratou de se recompor com o seu eleitorado, condenando em entrevista numa das emissoras de TV, as falas de Bolsonaro “no passado”. Tanto a imprensa progressista quanto a sociedade organizada trataram de fazer protestos por onde ele passou, na capital, Santiago. E não foi só por suas falas no passado. Foi pelo conjunto da obra. Bolsonaro é, como se vê, a bola da vez.

Todo este cenário desfavorável, apimentado pelas acusações até entre seus pares, de “desleixo” para com a pauta mais cara do mercado financeiro, como de resto de todos os presentes ao banquete – a reforma da Previdência -, nos leva a crer que com a aproximação da data “esotérica” para o Brasil, o 31 de março, (ou para sermos exatos com a história, o primeiro de abril), está a inspirar os que de fato dão as cartas. Os donos do capital.

A manobra é radical e perigosa. É preciso estar ciente de que o Mourão que subiu a rampa “repaginado”, com um discurso mais ameno do que apresentou em suas entrevistas ao longo da campanha, quando chegou a também defender o torturador Brilhante Ustra, falar em autogolpe, e deixar transparecer um discurso racista, ao destacar que o neto estaria “melhorando a raça”, por ter a pele mais clara que a sua, é e continua sendo “linha dura”.

Mourão ingressou na Academia Militar de Agulhas Negras em 1972. Nove anos depois, uma parcela dos militares sentia-se abandonada pelo projeto da “revolução redentora”, e fazia explodir bancas de revistas e locais vistosos para demonstrar a insatisfação pela “abertura” em curso. Esta era a turma do Coronel Brilhante Ustra, contrária aos ventos democráticos que sopravam por aqui, e cuja memória o atual vice defende.

Quando palestrou na Maçonaria, em Brasília, pouco antes de ser alçado à condição de candidato a “vice”, era a volta desse tempo que Mourão preconizava em sua fala. Difícil acreditar numa mudança brusca e em tão pouco tempo, de pensamento e propósito. Servi-lo como prato de resistência num banquete na Fiesp pode cair bem no paladar da turma da Av. Paulista, mas para o país será muito indigesto.

Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia 

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