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Ex-ajudante de ordens narrou em delação os bastidores de encontros de Jair Bolsonaro com aliados que defendiam um golpe militar

Em agosto de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid prestou o primeiro depoimento de seu acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal.

O ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência falou a três delegados e dois agentes da PF da equipe que conduz o inquérito das milícias digitais. A coluna teve acesso ao depoimento que foi revelado pelo colunista Elio Gaspari.

Um dos temas abordados foi a tentativa de golpe militar pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após a derrota nas eleições de 2022.

O depoimento é um dos elementos utilizados no relatório final apresentado pela PF no final de 2024 e que indiciou Bolsonaro e outros 36 aliados, entre militares e civis, supostamente envolvidos na trama golpista.Play Video

Após aquele depoimento, Cid ainda prestou vários novos depoimentos e esclarecimentos à PF. Nesse primeiro, o militar faz uma divisão entre os aliados de Bolsonaro, dividindo-os entre conservadores, moderados e radicais, e aponta para dois caminhos tratados pelo grupo de Bolsonaro para reverter a derrota para Lula (PT).

Leia abaixo íntegra do primeiro relato feito por Mauro Cid.

A Polícia Federal conduz investigação que apura a prática de atos relacionados a uma possível tentativa de execução de um Golpe de Estado e Abolição violenta do Estado Democrático de Direito ocorridos após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

Nesse sentido, INDAGADO sobre os elementos que têm conhecimento em relação aos referidos fatos investigados, respondeu QUE depois que acabou o período eleitoral, o então Presidente JAIR BOLSONARO recebia diversas pessoas, sempre no Palácio da Alvorada; QUE as pessoas que visitavam o então Presidente formavam três grupos distintos; QUE tinha um grupo bem conservador, de linha bem política; QUE aconselhavam o Presidente a mandar o povo para casa, e colocar-se como um grande líder da oposição: QUE diziam que o povo só queria um direcionamento; QUE para onde o PRESIDENTE mandasse, a povo iria; QUE o grupo era formado pelo Senador FLAVIO BOLSONARO, ° AGU BRUNO BIANCO, CIRO NOGUEIRA (então Ministro da Casa Civil) e o Brigadeiro BATISTA JUNIOR (então Comandante da Aeronáutica): QUE o outro grupo era formado por pessoas moderadas: QUE apesar de não concordar com o caminho que o Brasil estava indo, com abusos jurídicos, prisões e não concordar com a condução das relações institucionais que ocorriam no país, entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições: QUE qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado; QUE representaria um regime militar por mais 20, 30 anos: QUE esse grupo era totalmente contra isso; QUE o grupo se subdividia em dois: QUE um primeiro grupo era composto basicamente por generais da ativa que tinham mais contato com o então Presidente da República JAIR BOLSONARO; QUE eram as pessoa que o então PRESIDENTE mais gostava de ouvir; QUE o grupo era composto pelo COMANDANTE DO EXERCITO GENERAL FREIRE GOMES; pelo GENERAL ARRUDA, Chefe do DEC – Departamento de Engenharia e Construção: pelo GENERAL TEOFILO, chefe do COTER – Comando de Operações Terrestres; pelo GENERAL PAULO SERGIO, então Ministro da Defesa; QUE esse grupo temia que o grupo radical trouxesse um assessoramento e levasse PRESIDENTE JAIR BOLSONARO assinar uma “doidera”;

QUE o GENERAL FREIRE GOMES estava muito preocupado com essa situação, com que poderia acontecer com esse pessoal que la para o Palácio da Alvorada; QUE estavam preocupados com o grupo radical que estava tentando convencer o então Presidente a fazer “alguma coisa”, um golpe: QUE havia um outro grupo de moderados que entendia que o ex-Presidente deveria sai do pais: QUE o próprio colaborador sugeriu que o ex-Presidente deveria sair do país; QUE o grupo era composto pelo PAULO JUNQUEIRA, empresário do agronegócio, que financiou a viagem do Presidente para os EUA; por NABAN GARCIA, que ocupou algum cargo na secretaria de agricultura, e por fim o senador MAGNO MALTA que tinha uma posição mas radical e se juntou ao referido grupo entendendo que o presidente deveria deixar o país; QUE o terceiro grupo, denominado pelo colaborador como “radicais”, era dividido em dois grupos; QUE o primeiro subgrupo “menos radicais* que queriam achar uma fraude nas umes: QUE o segundo grupo de “radicais” ara a favor de um braço armado; QUE gosteriam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; QUE queria que ele assinasse o decreto: QUE acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apolo do povo e dos CACs: QUE ‘romantizavam” o art. 142 da Constituição Federal como o fundamento para o Golpe de Estado; QUE o primeiro grupo que defendia a identificação de uma possível fraude nas umas era o que o ex-Presidente mais pressionava; QUE JAIR BOLSONARO quena uma atuação mais contundente do GENERAL PAULO SÉRGIO em relação a Comissão de Transparência das eleições montada pelo Ministério da Defesa: QUE JAIR BOLSONARO queria que o documento produzido fosse “duro”; QUE o grupo era composto pelo GENERAL PAZZUELLO, pelo PRESIDENTE DO PL VALDEMAR DA COSTA NETO. pelo MAJOR DENICOLE e por um grupo de pessoas que prestavam assessoramento técnico: QUE nessa época após o segundo turno, recebiam multas informações de fraudes; QUE o presidente repassa as possíveis denúncias para os GENERAIS PAZZUELLO e PAULO SERGIO para que fossem apuradas; QUE o grupo tentava encontrar algum elemento concreto de fraude, mas a maioria era explicada por questões estatísticas: QUE as informações estatísticas foram tratadas pelo MAJOR DENICOLE;

QUE O MAJOR DENICOLE era quem geralmente trazia os dados ao ex-presidente: QUE o grupo não identificou nenhuma fraude nas umas: QUE a única coisa substancial que encontraram foi a questão das umas antigas que ensejou a ação do PL; QUE o Senador HEINZ, que também integrava esse grupo, usava um documento do Ministério Publico miitar que dizia que como o país estava em GLO, para garantia des eleições, o Senador entendia que as forças armadas poderiam pegar uma uma, sem autorização do TSE ou quaiquer instancia judicial, para realização de testes de integridade; QUE o senador encaminhava esse entendimento tanto ao Colaborador, quanto ao ex-presidente JAIR BOLSONARO para que repassassem esse entendimento ao Ministro da Defesa: QUE o ex-presidente não encampou esse entendimento; QUE o ex-Diretor-Geral da PRF SILVINEL VAQUES era politizado; QUE ela comparecia a todos os eventos políticos; QUE ele esteve com o ex-Presidente por agumas ocasiões durante o período pré-eleitoral: QUE não informar o que tratava: QUE a questão de compra de votos era um preocupação constante do ex-Presidente; que reclamava de maneira genérica; QUE não participava das reuniões entre o ex-Presidente e os Ministros e os Generais; QUE esse grupo tinha ligação com o Argentino: QUE quanto a parte mais radical, não era um grupo organizado, eram pessoas que se encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigi uma atuação mais contundente do então Presidente: QUE uma dessas pessoas era FELIPE MARTINS, ex assessor internacional do ex presidente e ligado à área mais ideológica; QUE FELIPE MARTINS vinha acompanhado de um jurista, que não se recorda um noma; QUE o colaborador se recorda que o referido jurista escreveu livros sobre Garantias Constitucionais; QUE os encontros ocorreram em meados de novembro de 2022:

QUE em um dos encontros o jurista também foi acompanhado de um padre; QUE foram mais de dois encontros dessas pessoas com o ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE FELIPE MARTINS juntamente com esses juristas apresentaram um documento ao Presidente JAIR BOLSONARO, no Palácio da Alvorada; QUE o documento tinha várias páginas de “considerandos’, que retratava as interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e no final era um decreto que determinava diversas ordens que prendia todo mundo; QUE determina as prisões dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dentre eles ALEXANDRE DE MORAES, GILMAR MENDES e outros; QUE determinava também a prisão do Presidente do Senado RODRIGO PACHECO e de outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente; QUE decretava novas eleições: QUE não dizia quem iria fazer, mas sim, o que fazer; QUE o ex-presidente recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização de novas eleições devido a fraude no pleito:

QUE o colaborador teve ciência do documento quando FELIPE MARTINS apresentou ao colaborador o documento impresso e de forma digital para que fossem feitas as corações: QUE FELIPE MARTINS tinha uma versão digital em seu notebook, que levou para a reunião; QUE FELIPE MARTINS não alterou o documento, conforme pedido pelo então PRESIDENTE JAIR BOLSONARO, naquele momento; QUE alguns dias depois FELIPE MARTINS retomou juntamente com o jurista trazendo o documento alterado conforme solicitado pelo então PRESIDENTE JAIR BOLSONARO, no Palácio da Alvorada: QUE o presidente concordou com os termos ajustados e em seguida mandou chamar, no mesmo dia, os Generais, comandantes das forças; QUE participaram o ALMIRANTE GARNIER, GENERAL FREIRE GOMES & • BRIGADEIRO BATISTA JUNIOR:

QUE nessa reunião com os Generais o presidente apresentou apenas os “considerandos” (fundamentos dos atos a serem implementados) sem mostrar as ordens a serem cumpridas (prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização de novas eleições); QUE na reunião com os Generais, FELIPE MARTINS foi explicando cada item QUE o colaborador participou da reunião, operando a apresentação no computador; QUE o ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura; QUE queria mostrar a conjuntura do país; QUE o colaborador saiu da sala, não participando do restante da reunião QUE depois o GENERAL FREIRE GOMES relatou ao colaborador a conteúdo do que conversaram: QUE o ex-presidente apresentou o documento aos GENERAIS com intuito de entender a reação dos comandantes das forças em relação ao seu conteúdo QUE o ALMIRANTE GARNIER, comandante da Marinha, era favorável a um intervenção mitar, afirmava que a Marinha estava pronta para agir: QUE aguardava penas a ordem do ex-presidente JAIR BOLSONARO, QUE no entanto, o ALMIRANTE GARNIER condicionava a ação de intervenção militar à adesão do Exército, pois não tinha capacidade sozinho; QUE o Brigadeiro BATISTA JUNIOR, comandante da aeronáutica, era terminantemente contra qualquer tentativa de golpe de Estado; QUE afirmava de forma categórica que não ocorreu qualquer fraude nas eleições presidenciais; QUE o GENERAL FREIRE GOMES, era um meio-termo dos outros dois Generais;

QUE ele não concordava como as coisas estava sendo conduzidas; QUE no entanto, entendia que não caberia um golpe de Estado, pois entendia que as instituições estavam funcionando; QUE não foi comprovado fraude nenhuma; QUE não cabia às Forças Armadas realizar o controle Constitucional, QUE dizia que estavam “romantizando” o art. 142 da CF: QUE dizia que tudo que acontecesse seria um regime autoritário pelos próximos 30 anos, decorrente de um Golpe Miltar, QUE o ex-Presidente teve várias reuniões com os Generais; QUE o ex-Presidente JAIR BOLSOANRO não queria que o pessoal saísse das ruas; QUE o ex-Presidente JAIR BOLSOANRO tinha certeza que encontraria uma fraude nas umas eletrônicas e por isso precisava de um clamor popular para reverter a narrativa; QUE o ex-Presidente estava trabalhando com duas hipóteses: a primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por maio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado; QUE o ex-Presidente não interferia nos manifestantes que estavam nas ruas; QUE o ex-Presidente pediu apanas para que os caminhoneiros não parassem o pais; QUE acredita que os militares não adeririam a uma idela de golpe de Estado: QUE como não teve apoio dos Comandantes do Exército e da Aeronáutica, a proposta de FELIPE MARTINS não foi executada; QUE acredita que o ex-Presidente não assinaria esse documento; QUE as outras pessoas que integravam essa ala mais radical era composta pelo ex-ministro ONIX LORENZONE, pelo atual SENADOR JORGE SEIFF, o ex-ministro GILSON MACHADO, SENADOR MAGNO MALTA. DEPUTADO FEDERAL EDUARDO BOLSONARO, GENERAL MARIO FERNANDES (secretário executivo do General RAMOS); QUE GENERAL MARIO FERNANDES atuava de forma ostensiva, tentando convencer os demais integrantes das forças a executarem um golpe de Estado: QUE compunha também o referido grupo a ex- primeira dama
MICHELE BOLSONARO; QUE tais pessoas conversavam constantemente com o ex-Presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado: QUE afirmavam que o ex-Presidente tinha o apoio do povo e dos CACs para dar o golpe;

QUE não sabe se essas pessoas levavam documentos para o ex-Presidente; QUE não presenciou todos os encontros dessas pessoas radicais com o ex-Presidente; QUE o GENERAL BRAGA NETO conversava constante com o ex-Presidente; QUE ele seria o elo entre os manifestantes e o ex-Presidente: QUE o GENERAL BRAGA NETO atualizava o ex-Presidente sobre as manifestações; QUE não sabe informar se o GENERAL BRAGA NETO tinha contato com AILTON BARROS: INDAGADO sobre pessoas que exerciam influência em relação às pessoas acampadas e que entraram no Palácio do Alvorada, responde QUE no dia 12/12/2022, após a prisão do CACIQUE SERÉRE, na saída do palácio da Alvorada, a pessoas de BISMARK e PAULO SOUZA, integrantes do canal do YouTube HIPOCRITAS e OSWALDO EUSTAQUIO, com medo de também serem presos ligaram para o ex-presidente JAIR BOLSONARO; QUE JAIR BOLSONARO mandou que autorizassem a entrada de BISMARK, PAULO SOUZA e OSWALDO EUSTAQUIO no Palácio da Alvorada: QUE a intenção era evitar que fossem presos; QUE após a advertência do colaborador de que a permanência de OSWALDO EUSTÁQUIO no Palácio da Alvorada poderia causar problemas, o ex-Presidente determinou que um carro da Presidência levasse OSWALDO EUSTÁQUIO para o local que estava hospedado em Brasília/DF; QUE os integrantes do HIPÓCRITAS jantaram com o ex-Presidente no Palácio da Alvorada; QUE não se recorda se os referidos jornalistas dormiram no Palácio da Alvorada; QUE os integrantes do HIPÓCRITAS tinham contato direto com o ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE entendiam que os CACs apoiariam o ex-Presidente em uma tomada de decisão, como um tropa civil em caso de um Golpe; QUE o Deputado Federal EDUARDO BOLSONARO tinha mais contato com os CACs. Nada mais havendo, este Termo de Depoimento foi lido e, achado conforme, assinado pelos presentes.

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