O que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – ambos suplentes da CPMI do 8 de Janeiro — cochicham no ouvido do presidente Arthur Maia (União Brasil-BA), sob os olhares do sargento Luís Marcos dos Reis? Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL/RJ), o militar depôs nesta quinta-feira, 24/08. Fotos: Lula Marques
Ex-assessor confirma ter feito pagamento de boleto para família Bolsonaro, mas silencia em seguida
Sargento Luís Marcos dos Reis prestou depoimento nesta quinta (24) à CPI dos Atos Golpistas. Coaf apontou movimentações atípicas na conta do militar
Por Filipe Matoso e Pedro Alves Neto, g1 — Brasília
Ex-assessor de Jair Bolsonaro, o sargento Luís Marcos dos Reis confirmou nesta quinta-feira (24), em depoimento à CPI dos Atos Golpistas, ter feito o pagamento de um boleto para a família do ex-presidente. Mas, em seguida, silenciou diante de questionamentos mais detalhados sobre o tema (veja diálogo abaixo).
Luís Marcos dos Reis foi chamado a depor em razão da suspeita de integrantes da CPI de que pessoas próximas a Bolsonaro teriam financiado os atos golpistas.
A colunista do g1 Andréia Sadi já havia informado que, no depoimento, Reis confirmaria pequenos pagamentos para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Segundo dados da comissão, o militar recebia em média R$ 13 mil de salário mensal, mas o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações em torno de R$ 3 milhões na conta dele em um ano e meio.
Inicialmente, ao ser questionado se havia feito pagamentos para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle, Luís Marcos dos Reis disse que não. Depois confirmou, mas não respondeu a mais questionamentos.
Mais cedo, ele havia negado categoricamente ter feito depósitos nas contas do ex-presidente Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. “Eu, pessoalmente, nunca fiz nenhum depósito. Nem na conta da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, nem na conta do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.”
VEJA COMO FOI O DIÁLOGO
“O senhor fez algum pagamento ou não, a pedido do presidente da República [Bolsonaro]? Não estou falando de valores”, indagou o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).
“Não. Do presidente da República, não”, respondeu o militar.
“De interesse dele, sim?”, indagou novamente o deputado.
“Do presidente da República, não”, respondeu Luís Marcos dos Reis.
“Da senhora Michelle Bolsonaro, o senhor fez algum pagamento?”, voltou a questionar o deputado.
“Não”, respondeu.
“De qualquer que seja o valor?”, insistiu Rubens Pereira Júnior.
“Eu recebia quando era, vamos dizer assim, para fazer… Um exemplo”, começou a responder o militar.
Rubens Pereira Junior, então, insistiu: “Pequenos pagamentos?”.
“Já fiz”, admitiu o militar.
“O senhor acabou de dizer que não fez. O senhor fez ou não fez?”, questionou o deputado petista.
“Estou falando aqui. Fiz um pagamento de boleto da filha do presidente, do colégio que ela estudava”, respondeu Luís Marcos dos Reis.
Indagado, então, se o pagamento foi feito com dinheiro próprio, o militar disse que ficaria em silêncio.
Sargento nega acusações na CPMI e relatora vê movimentação atípica
Militar atuava na ajudância de ordens de Bolsonaro
Por Lucas Pordeus Léon – Repórter da Agência Brasil – Brasília
O sargento do Exército Luís Marcos dos Reis negou as acusações que pesam contra ele de fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro; de participação nos atos de 8 de janeiro e de qualquer irregularidade em movimentação financeira considerada atípica.
Ele prestou depoimento nesta quinta-feira (24) na comissão mista parlamentar de inquérito (CPMI), no Congresso Nacional, que apura os atos golpistas.
O militar atuava na ajudância de ordens do ex-presidente Bolsonaro junto com o tenente-coronel Mauro Cid e está há mais de três meses preso por força de operação da Polícia Federal (PF) que investiga a suposta fraude no cartão de vacina do ex-presidente.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que teve acesso ao relatório sobre a movimentação financeira do sargento, afirmou que os valores são incompatíveis com a renda recebida pelo militar.
“A sua renda mensal no período analisado, de fevereiro de 2021 a janeiro de 2022, era algo em torno de R$ 13 mil a R$ 14 mil, e o senhor teria movimentado algo perto de R$ 3 milhões em sua conta”, afirmou a parlamentar.
SOLDOS EXTRAS E CONSÓRCIO COM AMIGOS
Dos Reis justificou o valor da soma que entrou e saiu na conta. Ele disse que parte desse dinheiro é de recursos que recebeu quando foi para reserva, quando ganhou soldos extras, de consórcio que fez com amigos, de empréstimos pessoais e da venda de um carro que fez a pedido de Mauro Cid.
“Quem vê assim, R$ 3 milhões…Quando o meu advogado falou: ‘cara, eu queria que você tivesse esse dinheiro’, nunca passou na minha conta. Aí, eu fui ver aqui, diminuindo R$ 550 mil, que foram TEDs (Transferência Eletrônica Disponível) que foram e voltaram”, explicou.
A relatora Eliziane questionou os R$ 74 mil recebidos da empresa Cedro do Líbano e de seu dono, que tinha contratos com o governo federal. O sargento respondeu que o caso já foi investigado e não deu mais detalhes.
“O senhor tem movimentações que são absolutamente estranhas com empresas que fizeram convênios com o governo federal”, afirmou Eliziane. Acrescentou que “as explicações que o senhor está colocando são incompatíveis com os dados que estão aqui diante de nós e de posse desta CPMI”.
DINHEIRO SEM EXPLICAÇÃO
Parlamentares da base governista disseram que o depoimento do sargento não respondeu aos questionamentos. O deputado federal Rafael Brito (MDB-AL) calculou que, retirando os valores que ele justificou, ainda haveria R$ 500 mil sem explicação.
“O senhor até agora deixou lacunas gigantescas que provam que o senhor passará ainda um bom tempo contando os dias que estará preso”, afirmou.
Já o senador da oposição Marcos Rogério (PL-RO) opinou que o depoimento do sargento foi inútil e sem relação com o dia 8 de janeiro. “Nenhum fato novo”, observou.
Para o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), o sargento Luis Marcos está sendo alvo da CPMI apenas porque “é amigo do (ex-) presidente Jair Messias Bolsonaro” e porque o atual governo “é revanchista”.
Edição: Kleber Sampaio
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