Temer e Aécio são unha e carne. Não param de se encontrar clandestinamente, apesar das seguidas declarações do PSDB de que o ex-líder nacional do partido, praticamente proscrito da vida pública, estaria totalmente afastado das costuras políticas. Foram nada menos que seis encontros desde as gravações de conversas entre o empresário Joesley Batista com ambos e do tucano se tornar réu no STF por conta do caso da J&F, em 17 de abril. Apesar da intensa atividade de Aécio, Alckmin garante que ele “não está tendo protagonismo político”.
O último encontro apenas entre os dois foi há duas semanas. Além disso, estiveram juntos há quatro dias, em outra reunião fora da agenda oficial, na residência do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) -Aécio foi flagrado numa foto por uma porta entreaberta.
O levantamento sobre as reuniões clandestinas dos dois principais articuladores do golpe de 2016 foi feito pelo jornal Valor Econômico. “A intensificação das reuniões de Temer com Aécio coincidiu com uma mudança na divulgação da agenda do presidente. Desde maio, o Planalto publica apenas seus compromissos previstos para o mesmo dia, sem disponibilizar a pesquisa de encontros em datas anteriores”, relatam os repórteres Carla Araújo e Vandson Lima. A Secretaria de Comunicação da Presidência tentou explicar a mudança, que esconde a agenda de Temer, sob a desculpa de que os portais foram repaginados “para implementação da nova identidade padrão de comunicação digital do Poder Executivo Federal”. Não contentes, os funcionários informaram que a migração do portal “começou a apresentar instabilidade no dia 30/05 e nossas equipes estão trabalhando para estabilizar os ambientes e corrigir as falhas no site”.
O PSDB, partido de Aécio, garante que ele está totalmente afastado das costuras políticas, tanto em Minas quanto nacionalmente. Reservadamente, afirmam tucanos, pelo potencial tóxico que sua participação nos acordos teria junto à opinião pública. “Aécio está cuidando da vida dele. Não tem interesse nenhum de participar de qualquer discussão na área política”, garante o articulador político da pré-campanha de Geraldo Alckmin, Marconi Perillo.
Pré-candidato da sigla, Alckmin afirmou na semana passada, em evento em Belo Horizonte, que Aécio “não está tendo protagonismo político”. Pré-candidato ao governo mineiro e vice de Aécio em seu último mandato como governador, Antonio Anastasia também procurou se desvencilhar. “O candidato não é o Aécio, a campanha é de minha responsabilidade e quem irá aos debates sou eu”.
Então, afinal, o que Temer e Aécio têm a tratar em tantos encontros? “O senador Aécio Neves mantém relação pessoal com o presidente da República há mais de 20 anos e, como senador, discute com o presidente periodicamente assuntos referentes à pauta do Congresso Nacional, à agenda política do país e a demandas relacionadas a Minas Gerais”, diz a assessoria do senador, sem maiores detalhes.
De fato, Aécio esteve com Temer nos dias 4 e 6 de junho e, neste último dia, viu recursos de emendas que ele apresentou, que somavam R$ 10,6 milhões e eram destinadas a serviços de saúde em Minas, serem liberadas. O próprio tucano comemorou o feito em suas redes sociais.
No Senado, Aécio tem tido papel discreto. As matérias de sua autoria com encaminhamento mais avançado são um projeto que prevê maiores punições a empresas por prática de cartel, que está na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e uma emenda constitucional, parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que explicita a possibilidade de responsabilização do Presidente da República por atos praticados em mandato anterior.
Temer e Alckmin chegaram em maio a ensaiar conversas por uma aliança, mas a resistência de Alckmin em defender o legado do governo e um mal-entendido à época esfriaram a aproximação. Alckmin ligou para Temer, no dia 3 daquele mês, para “marcar um café”. A ligação virou assunto dos jornais minutos depois. Alckmin, irritado, culpou o Palácio do Planalto pelo vazamento.