A sociedade brasileira continua profundamente dividida um ano e meio depois de a presidente Dilma Rousseff ter sofrido um impeachment e sido destituída, disse a diretora de um novo documentário sobre o período.
“O Processo”, dirigido por Maria Augusta Ramos, mescla filmagens do julgamento de Dilma com imagens de manifestantes favoráveis e contrários a ela nas ruas.
“Ele diz muito sobre o que está acontecendo neste momento”, disse Maria Augusta em uma entrevista concedida nesta quinta-feira, um dia depois de sua produção estrear no Festival Internacional de Cinema de Berlim. “O país continua completamente dividido.”
Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil, perdeu o cargo em agosto de 2016, depois de um processo de impeachment que rachou a opinião pública em meio a um escândalo de corrupção e uma crise econômica. Seus aliados sustentam que sua deposição, decorrente das chamadas “pedaladas fiscais”, foi um golpe.
“Quando você tem um golpe parlamentar, isso tem consequências profundas para a sociedade como um todo em todos os níveis, e é isto que estamos vendo agora”, argumentou a diretora.
A democracia está “doente” no Brasil, e o país precisa lidar com grandes questões, disse ela.
“É impossível, quando você tem um golpe de Estado, um golpe parlamentar… acreditar que isso não afetou em nada a democracia.”
Maria Augusta disse esperar que “O Processo” ajude os brasileiros a enxergarem estes acontecimentos de uma maneira menos emotiva.
O Brasil terá eleições em outubro e o popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provavelmente será impedido de concorrer devido a uma condenação por corrupção em segunda instância.
“Estou realmente preocupada com as eleições deste ano”, disse Maria Augusta. “Espero sinceramente que tenhamos eleições realmente democráticas e abertas, com todos os candidatos nos quais o povo quer votar, e isso inclui Lula”.
Perto do fim, o documentário ressalta que, nove meses após o impeachment de Dilma, seu sucessor, Michel Temer, foi acusado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de corrupção.
“A história se repete”, afirmou Maria Augusta, acrescentando que a desilusão e a frustração são predominantes no Brasil.
Reuters