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Natal é época em que pequenos comerciantes de bairros, cooperativas e artesãos em situação financeira crítica tentam se reerguer na crise da pandemia e pagar as contas 

A troca de presentes entre familiares e amigos, uma tradição do Natal, movimenta a economia e é a esperança de melhorar a renda mensal de milhares de trabalhadores e trabalhadoras desempregados e informais que, para sobreviver, viraram artesãos, cozinheiros, vendedores de panos de pratos, de panetones e tantas outras pequenas coisas.

Para estimular a economia local, Unisol-Brasil (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários) fará uma campanha em todo o território nacional com o slogan “Natal Movimentando Vidas”, de incentivo à compra de presentes da economia solidária. Nesta campanha, a entidade trabalhará com quatro eixos: o financiamento coletivo para doações para as cooperativas da Unisol;  drive-in para receber alimento e kits de higiene para 3 mil famílias , por três meses, os estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo; o adote uma família, que atenderá mil famílias, e o Festival de Economia Popular Solidaria onde além de arte e cultura, serão apresentados os produtos dos empreendimentos solidários ( cooperativas e associações).

“Ao consumir de uma cooperativa, de um artesão, estamos ajudando uma comunidade inteira, e consequentemente retomando o desenvolvimento desses locais”, acredita Anne Sena , tesoureira da Unisol Brasil e presidenta da Unisol Bahia.

Com o país vivendo uma das mais graves crises econômicas da história, sem que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) apresente sequer uma proposta de geração de emprego e renda, os pequenos presentes devem ser a escolha de milhões de pessoas neste final de ano.

É a hora, portanto, de deixar de lado as grandes redes e priorizar os pequenos negócios que funcionam ao lado da sua casa, na sua rua, no seu bairro e são geridos por pais e mães de família que perderam o emprego quando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) aprofundou a crise econômica brasileira.

E eles estão se preparando para aumentar as vendas diversificando produtos e fazendo de tudo para agradar o freguês porque o Natal é a época mais aguardada do ano por todos, em especial pelos pequenos e micro comerciantes, como afirma Janice de Jesus Vieira, presidenta e uma das fundadoras da Cooperativa Múltipla Fontes de Engomadeira (Coofe), em Salvador (BA), que produz pães, desde 2000. Cinco anos depois, em 2005, diversificaram a produção incluindo panetones e roscas natalinas. Há 10 anos, os coooperativados também passaram a realizar buffets.  

“Todos os cooperativados aguardam o Natal com esperança porque é nas festas de fim de ano que conseguimos tirar até um 13º salário”.

A mesma esperança tem a ex- faxineira de São Paulo, Maria Aparecida da Silva Lopes, de 60 anos, que pinta e borda panos de prato, aventais customizados, fraldinhas e mantas de bebê bordas. No Natal, sonha Maria, “vou conseguir um rendimento para pagar as contas”.

O impacto da compra nessas micro e pequenas empresas formais ou informais, além de fazer o dinheiro circular pelo bairro, propiciando mais desenvolvimento local,  ajuda a manter a renda de milhares de pessoas. No Brasil, o pequeno negócio é responsável por 44 % dos salários dos brasileiros e representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Até em países desenvolvidos como a França, políticos de esquerda e ecologistas incentivam a compra nos pequenos comércios. Este mês, eles lançaram uma petição em que pedem aos franceses que não comprem seus presentes de Natal da Amazon. Para eles, a gigante norte-americana de compras online, está tirando os empregos e acabando com o pequeno comércio local, especialmente nesta época da Covid-19 em que as compras virtuais se tornaram cada vez mais comuns.

No Brasil não é diferente. As vendas online cresceram 47% no 1º semestre, a maior alta em 20 anos. Ao todo este tipo de comércio faturou R$ 38,8 bilhões com 90,8 milhões de pedidos feitos entre janeiro e junho deste ano, segundo pesquisa da Ebit/Nielsen.

Mas, desses R$ 38,8 bilhões não chegou R$ 1,00 ao caixa da Cope, cooperativa presidida pela Janice. Em média, o rendimento dos cooperados, antes da pandemia, ficava entre um salário mínimo e meio (R$ 1.567,50), Na pandemia, com a falta de clientes, zerou o caixa da Coofe. A esperança agora vem com a venda de panetones para o Natal.

Para diversificar suas vendas, ao invés de pães, o carro-chefe passa a ser o panetone de 500 gramas. A produção vai do tradicional com frutas cristalizadas aos especiais: chocolate, doce de leite, brigadeiro e até de carne seca, com preços de R$ 10,00 a R$ 30,00 cada.

“Passamos a fabricar panetones há 15 anos e deu certo. No ano passado vendemos duas mil unidades. Esta é a nossa esperança porque com a pandemia não realizamos nenhum buffet, só acumulamos dívidas”, diz Janice.

Segundo ela, para ajudar no processo das vendas de panetone, a cooperativa lançará em breve um aplicativo para que seus clientes façam os pedidos. Enquanto tenta se adequar aos novos tempos, a Coofe vem recebendo apoio da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol), do estado da Bahia – a entidade está presente em diversos estados do país. 

“Nossa Central de Empreendimento fomenta o consumo solidário de produtos locais. Isto gera renda no bairro, na comunidade”, diz Anne Sena.

Diversificação de produtos é a arma da artesã Carla Monize, de 32 anos, da “Artes da Mô”, de São Paulo. Ela produz capas de cadernos personalizados, sacos para roupa suja e para guardar lingerie, bolsas artesanais e caixinhas de MDF (madeira) e outras personalizadas em papel , além de lembrancinhas de festas.

Mãe de uma menina de três anos de idade, Carla se preparou para se tornar uma empreendedora fazendo diversos cursos de costura, moda e administração, após ter parado a faculdade de artes, durante o período em que o marido ficou desempregado. O marido voltou a trabalhar e ela se dedicou a mais cursos até que chegou a pandemia  e ela passou a fazer máscaras de tecido, em abril.

“Eu mal dormia, fazia em média 100 máscaras por dia. As coisas só começaram a melhorar em junho, quando vi a oportunidade de customizar agendas e cadernos para quem está trabalhando em home office. Mas, precisei do auxílio emergencial para pagar as contas e consegui receber a primeira parcela em agosto”, diz.

Ainda assim o faturamento que esperava não veio. Segundo ela, a pandemia afetou em 80% do que esperava crescer. “Eu calculei faturar R$ 4 mil ao mês e consegui apenas R$ 1.800,00, e ainda porque agreguei novos produtos”, conta Carla.

Apesar da decepção no faturamento, a artesã vê a solidariedade como ferramenta para auxiliar outras pessoas que, como ela, precisam se virar para pagar as contas. “Eu passei a utilizar uma máquina que corta letras para uma artesã que faz balões e só cobro o custo do material. Parte do dinheiro que arrecadei com a fabricação de máscaras, doei para a compra de cestas básicas para quem precisa mais do que eu”.

Ao contrário de Carla que se preparou e queria ter o próprio negócio, o “empurrão” que fez Maria Aparecida a procurar novas formas de conseguir um rendimento para pagar suas contas, foi o desemprego.

Agora, vendedora de produtos de beleza, Maria viu nas clientes que compravam em salões de beleza, uma oportunidade de diversificar e passou a customizar aventais para essas profissionais, e para quem quer dar um presente customizado.

REPRODUÇÃ

“Ainda não dá para sobreviver só com o artesanato, e com o fim do auxílio emergencial, a dependência das vendas será ainda maior. Por isso, espero que com a proximidade do Natal as vendas melhorem”, diz Maria, esperançosa de um Natal mais solidário.

Edição: Marize Muniz

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