Ao dizer que ficou eufórico quando percebeu que poderia reduzir internações com o inexistente “tratamento precoce”, o contador Fernando Parrillo apenas comprovou que a saúde deve ser um bem público, gratuito e universal
“Quando percebemos que o tratamento precoce evitava internações, ficamos eufóricos, dissemos: aqui tem uma esperança”, disse o contador Fernando Parrillo, que fundou a empresa Prevent Senior, numa entrevista às jornalistas Patrícia Pasquini e Suzana Singer, na Folha de S. Paulo. Foi a primeira entrevista exclusiva concedida pelo fundador da empresa que hoje está no epicentro da crise política brasileira e que será alvo de uma investigação do Ministério Público para apurar suas condutas. Investigação esta que pode atingir o governo Bolsonaro, que fez da mentira e do negacionismo um método de ação política durante a pandemia.
Até o caso Prevent Senior, eu imaginava que o grande estímulo econômico ao negacionismo vinha de três forças principais: o lobby de empresários do comércio e do setor de serviços, contrários ao fechamento por razões óbvias, o lobby de alguns laboratórios farmacêuticos, interessados na venda de remédios ineficazes, e o próprio radicalismo ideológico da extrema direita, que enxerga na pandemia uma “fraudemia” criada por “globalistas” para para destruir seus projetos políticos.
O caso Prevent Senior revela que, no caso brasileiro, há um fator ainda mais determinante do que todos esses: a privatização da saúde pública. Fundada por um contador, a empresa havia conseguido criar um nicho de mercado interessante: o de planos de saúde mais baratos, direcionados ao público mais vulnerável e desprezado pelas operadoras tradicionais: os idosos.
No entanto, o modelo da Prevent só funciona com uma lógica de administração de custos rigorosa, que exige que os clientes sejam tratados nos seus próprios hospitais, e sem externalidades, como uma pandemia. Internação, para uma seguradora como a Prevent, é sinônimo de sinistralidade. É isso que explica a frase do seu presidente, na entrevista concedida à Folha. Um “tratamento precoce” que evitasse internações era uma esperança não para os doentes – mas para a administradora do plano, que poderia continuar vendendo a ilusão de saúde para seus clientes, sem arcar com os custos no momento da doença.
Esse tipo de entrevista geralmente acontece quando um empresário se vê no meio de um furacão político. Lobistas, assessorias de imprensa e profissionais de comunicação dizem ao empresário que o melhor é falar, que nada deve ser escondido. O ponto é que Fernando Parrillo escorregou nas suas próprias palavras, na sua sinceridade. Provavelmente, ele crê que presta um bom serviço a seus clientes. Cobra em média 800 reais por mês de seus segurados, que eram desprezados por outras operadoras de saúde, e oferece atendimentos básicos e menos onerosos. É possível também que ele se enxergue como um bom empreendedor, que foi capaz de enxergar uma oportunidade e atender a uma necessidade de mercado.
A raiz do problema, no entanto, é justamente esta. A saúde de uma população jamais deveria ser tratada como uma mercadoria submetida à lógica da exploração privada, mas sim como um bem público, gratuito e universal, como, aliás, foi consagrado na Constituição de 1988. No entanto, há muito tempo a saúde privada vem avançando e esse processo se acelerou depois do golpe de 2016, quando Ricardo Barros foi ministro de Michel Temer, e após a eleição de Jair Bolsonaro, quando seu primeiro ministro, Henrique Mandetta, passou a ser um claro operador dos interesses privados na saúde pública, antes de se apaixonar pelo SUS, sem que saibamos até hoje se essa paixão é realmente sincera.
Desde o golpe de 2016, não por acaso, os novos grandes bilionários brasileiros têm vindo da área da saúde privada – o que apenas ressalta as distorções da sociedade brasileira se partirmos da premissa de que a saúde de uma população não é nem deve ser tratada mercadoria.
Ao acompanhar o debate do caso Prevent Senior, no Brasil 247 e na TV 247, vejo que muitos trazem o argumento de que se deve evitar o modelo Lava Jato, ou seja, seria correto punir a direção da seguradora, sem destruir a empresa. Mas esta é uma proposta que não atinge a raiz do problema. O indivíduo que fica eufórico quando percebe que um tratamento fake pode reduzir as internações e seus custos pode até se encaixar no papel de vilão da hora, mas o problema central é a privatização da saúde. Do ponto de vista progressista, a única saída real e verdadeiramente humanista é a estatização completa de todos os serviços de saúde no Brasil. Pode parecer utópico, mas todo o resto é ilusório.
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