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Veremos, ao longo do dia, mais detalhes sobre os “hackers de Araraquara”.

Por enquanto, as informações são poucas e, ao que parece, “testadas” através de sites simpáticos a Moro e à Polícia Federal antes de serem dadas oficialmente, como ocorria em outras operações, quando logo depois da ação, uma turma de delegados e procuradores punha-se à frente das câmeras e microfones para deitar falação sobre o espetáculo.

As “oficiais”, até agora, pouquíssimo dizem.

Os sujeitos detidos terem hackeado ou tentado hackear as contas de Moro não é, em hipótese alguma, o mesmo que serem a fonte dos diálogos mostrados pelo The Intercept e seus parceiros.

Hackers existem aos montes e qualquer um que tenha sido vítima de fraude bancária sabe disso, inclusive eu, que tive minha conta no Banco do Brasil invadida e dinheiro transferido para um sujeito de Pernambuco, há pouco mais de um ano, quando me mudei e usei a rede aberta da Net por dois ou três dias, enquanto esperava a instalação da minha.

Os arquivos da Polícia Federal, com certeza, possuem listas e listas de pessoas metidas com isto.

Os nomes apontados até agora são de pessoas que têm um histórico de prisões juntos, como o de Suellen Priscila de Oliveira, ex-vendedora de roupas que, em 2015, também foi presa com Gustavo Elias Santos, seu companheiro, e com e Walter Delgatti Neto.

O Globo – que, como os demais jornais diz que houve apenas a clonagem do número dos telefones e sua reinscrição no aplicativo Telegram – traz, porém, uma informação interessante, ao descrever as ordens de busca e as de prisão:

Obter provas relacionadas à invasão de contas do aplicativo Telegram utilizadas pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o desembargador Abel Gomes (do Tribunal Regional Federal da 2ª Região); o juiz federal Flávio Lucas (da 18ª Vara Federal do Rio) e os delegados da PF Rafael Fernandes (lotado na Superintendência da Polícia Federal paulista) e Flávio Vieitez Reus (atua na PF de Campinas). O nome do procurador Deltan Dallagnol não consta no mandado de busca e apreensão.

Que eu me recorde, exceto Moro, nenhum dos outros personagens aparece, ao menos de forma significativa, nos diálogos vazados.

Todo o material divulgado até agora mostra ter como centro o Telegram de Dallagnol, inclusive trocas de mensagens que não teriam nenhuma razão de terem sido publicadas em grupos, como aquelas em que discutia com o procurador Roberson Pozzobon as perspectivas de lucros com palestras.

Uma nota do site nem tão extraoficial de Moro e da PF, publicada há minutos, corrobora o fato de que não se apurou tentativa de invasão ao telefone do chefe dos promotores e peça-chave de todos os diálogos: “A PF já sabe que os hackers que invadiram o telefone celular de Sergio Moro são os mesmos que hackearam as mensagens de Deltan Dallagnol no Telegram.”

Se o celular de Dallagnol não foi periciado ou se periciado isso não foi detectado e registrado nos pedidos feitos ao juiz, resta a confissão dos detidos como “prova”.

Pelo padrão dos detidos, nenhuma dúvida do poder de coerção a que estão submetidos para dizerem o que for mandado.

Não acho que seja “teoria da conspiração” o que publica hoje Luís Nassif, no GGN:

A operação da Polícia Federal contra os supostos hackers do interior paulista indica o início da estratégia Operação Incêndio de Reichstag, que marcou a ascensão do nazismo na Alemanha.
É uma tática recorrente em governos que caminham para o autoritarismo. Vão sendo testadas armações que insuflem a malta contra o inimigo comum fabricado. Mantém o clima de conflito permanente até que se tenha o grau de fervura adequado para o golpe final.
Nos últimos dias, além dos hackers de Moro houve a capa estapafúrdia de Veja com os supostos terroristas, a tentativa de reavivar as teorias conspiratórios sobre o Foro de São Paulo e, agora, o caso dos hackers amadores – desses que deixam pista e dão trote nas vítimas.
Por enquanto, o caso dos hackers parece mais uma tática restrita de autopreservação de Sérgio Moro, uma tentativa canhestra de tirar o Ministro da defensiva. O Rubicão a ser atravessado seria uma eventual tentativa de investir contra Glenn Greenwald, tentando associá-lo ao grupo. Dependerá exclusivamente da resistência que encontrar pelo caminho. E há um misto de cumplicidade e ignorância de alguns jornais e jornalistas, brincando de acender fósforo no barril de pólvora das redes sociais.

O interesse de parte dos grupos de mídia em “blindar” Moro, a aceitação bovina do que dizem as fontes da PF, o recalque com o furo do The Intercept e a perda do indispensável e saudável hábito jornalístico de duvidar de toda versão antes que esta se prove um fato ajudam a propagar a história dos “mocinhos que prendem” e dos “bandidos porque são bandidos”.

POR FERNANDO BRITO

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