O novo faltou ao encontro, na eleição em que se decretou a morte da velha política.
Com o apoio dos partidos do Centrão e de outras siglas ligadas à corrupção e ao fisiologismo, o candidato tucano Geraldo Alckmin passa a ser seu mais genuíno representante.
O MDB ficará de fora, mas o apoio dos partidos que decidiram o impeachment e sustentaram o governo vincularão o tucano a Temer, com sua impopularidade e seu governo desastroso.
O segundo turno pode acabar sendo um formidável acerto de contas entre o PT que foi derrubado e a coligação que o derrubou.
Até agora falamos muito do que Alckmin ganha, e pouco dos custos que ele pode ter com a grande aliança.
Ganhará um tempo colossal de televisão, mas o maior tempo nem sempre garante a vitória.
Lula não tinha o maior tempo em 2002, nem em 2006, quando se reelegeu.
Mas FHC foi ajudado pelo maior tempo tucano em suas duas eleições (1994 e 1998).
Em 1989, Ulysses Guimarães (PMDB), que fora o líder parlamentar da resistência, o Senhor Diretas e o Senhor Constituinte, tinha um tempo enorme, mas ficou em quinto lugar.
E isso aconteceu porque, embora não tenha defendido o governo, Ulysses foi associado a Sarney, quase tão impopular quanto Temer hoje. Este é um risco para Alckmin.
A grande coligação será apresentada como evidência de que o tucano é conciliador e desperta confiança.
Talvez cole, mas os adversários vão explorar suas más companhias.
Principalmente o PT, que sabe muito bem o que é governar com a canga dos fisiológicos no pescoço.
Dos partidos do atual Centrão, só o DEM não integrou a base petista.
O PT conhece todos eles e principalmente o grande costureiro do apoio a Alckmin, Valdemar Costa Neto, mandachuva do PR.
O outro que muito ajudou foi Temer. Primeiro, ameaçando com a perda de cargos os partidos que apoiassem Ciro.
Depois, articulando diretamente com Rodrigo Maia, com seu líder Aguinaldo Ribeiro, do PP, e seu ex-ministro Marcos Pereira, do PRB. Coitado do Henrique Meirelles.
A virada do Centrão começou no dia em que o senador Magno Malta, do PR, desistiu de ser vice de Bolsonaro.
Ele se dizia honrado com o convite, mas de repente mudou de ideia, a mando de Valdemar, segundo fontes do partido, que vislumbrara um melhor negócio.
Bolsonaro achava que, pela honra de integrar sua chapa, o PR tinha que ajudá-lo, inclusive com recursos.
Com Ciro ou Alckmin, o PR e seus parceiros é que seriam recompensados pelo apoio. Quando a conversa com Bolsonaro azedou, Valdemar aderiu ao Centrão, descartou Ciro e arrastou os demais para o lado do tucano.
Em 2002, Lula queria um empresário de vice.
Descartados alguns nomes, José Dirceu sugeriu José Alencar, dono da Coteminas.
Como nos casamentos arranjados, fez a ponte e marcou com Lula uma viagem a Minas para conhecer a noiva.
A empatia foi imediata. Alencar estava no PMDB, que apoiaria Serra, teria de mudar de partido.
Filiou-se ao PL, origem do atual PR.
No fechamento da coligação, Valdemar exigiu R$ 10 milhões do PT, para financiar os candidatos do partido a deputado.
Esse pagamento, realizado via valerioduto, ajudou a alimentar a narrativa de Roberto Jefferson, de que o PT pagava mesadas a deputados.
A danação do PT foi a coalizão com os partidos fisiológicos, entrando no velho jogo, em nome da governabilidade.
Serão eles agora diferentes na relação com Alckmin?
No acerto com o tucano, entraram coisas não combinadas com o eleitor.
O DEM ficará com a presidência da Câmara e o PP com a do Senado. Isso é de uma arrogância atroz.
Para terem direito a estes cargos, DEM e PP terão que eleger a maior bancada nas respectivas casas.
Não por acaso, o Centrão agora quer ser chamado de blocão.
É para ver se o eleitor esquece seu passado, pontilhado por casos de corrupção ou pela prática do fisiologismo.
Se Alckmin for eleito, o país terá optado por ter mais do mesmo, embora hoje esteja torcendo o nariz para partidos e candidatos.