O deputado Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde, afirmou nesta quarta-feira (24), que a política adotada pelo governo Bolsonaro no combate à pandemia é “genocida”, e que a estratégia de apostar na “imunidade rebanho” para tentar controlar a expansão da Covid-19 já se transformou na “maior tragédia humana da história do Brasil”. A declaração do parlamentar aconteceu durante o seminário virtual “Ciência, Saúde Pública e Covid-19”, que faz parte da Semana da Ciência e da Educação Pública Brasileira, promovida por várias frentes parlamentares da Câmara ligadas aos temas.
Segundo o parlamentar, “a maior tragédia humana da história do Brasil”, causada pela pandemia, poderia ter sido minimizada se o governo Bolsonaro tivesse adotado medidas sanitárias, econômicas, sociais e políticas para evitar a explosão do números de infectados e de apoio à população. Ele observou que, as mais de 52 mil mortes oficiais causadas pelo vírus, já ultrapassou o número de brasileiros mortos na Guerra do Paraguai, o conflito bélico que causou mais óbitos em nossa história.
“O Bolsonaro é um genocida, porque está usando a estratégia clara de tentar controlar a propagação da Covid-19 por meio da “imunidade de rebanho”, que só é alcançada quando 70% da população já entrou em contato com o vírus. O problema é que as evidências apontam que isso causa milhares de mortes e colapsa o sistema de saúde. O estado de Nova York, por exemplo, que já passou do pico da pandemia, teve 25 mil mortos pela Covid-19, e apenas 25% da população entrou em contato com o vírus. Se eles fossem atingir a ‘imunidade rebanho’, com 70% da população infectada, esse número seria 4 a 5 vezes maior”, apontou Padilha.
Lockdown
O reitor da Universidade Federal de Pelotas (RS), Pedro Hallal, disse que o Brasil deveria apostar em um lockdown (bloqueio total) de, ao menos 15 dias, para aumentar o índice de distanciamento social, achatando a curva de crescimento dos casos de Covid-19. Segundo ele, se isso não for feito o Brasil corre o risco de só conseguir reduzir drasticamente o contágio quando atingir a “imunidade de rebanho”, com alto custo em vidas.
“Não temos vacina, nem medicamento totalmente eficaz para a Covid-19 e o Brasil nem chegou ao pico da pandemia. Se não cogitarmos um lockdown nesse momento, a situação é preocupante. A ‘imunidade de rebanho’ já se mostrou catastrófica. Se no Brasil, segundo estimativas, 3% da população entrou em contato com o vírus e já ultrapassamos os 52 mil mortos, se fizemos uma regra de três simples, vamos ver que ao alcançarmos a ‘imunidade de rebanho’, com 70% da população, podemos chegar a um milhão de mortos. Será que alguém em sã consciência acha que precisamos chegar a esse número?”, questionou Hallal.
Segundo Alexandre Padilha, se o Brasil não conseguir achatar a curva drasticamente antes de atingir a ‘imunidade rebanho’, a população mais pobre, e negra, seria a mais afetada. “Estamos lidando no Brasil com questões de moradia, de higiene, com pessoas carentes que não teriam como se proteger da contaminação. E o perigo da morte pela Covid-19 tem cor e raça. Em São Paulo, um negro corre 63% mais risco de morrer pela Covid-19 do que um branco”, comparou.
A médica sanitarista Lúcia Souto, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), também criticou a estratégia do governo Bolsonaro de combate à Covid-19. Ela lembrou que, além de boicotar os esforços de governos estaduais e prefeituras no distanciamento social, o próprio presidente já minimizou a pandemia chamando-a de “uma gripezinha”, desacreditando a ciência, e ainda incentivando a invasão de hospitais.
“E o pior é que nem ministro da Saúde temos. Aliás, nem na época da ditadura tivemos uma ocupação de militares como vemos hoje no Ministério da Saúde, com afastamento de técnicos. Isso é um projeto genocida, com tentativa de ocultação de dados, obrigando a mídia a se unir para buscar informações.
Essa pandemia não precisava ser uma catástrofe humanitária como está acontecendo no Brasil. Espero que em algum momento esse governo seja responsabilizado em tribunais Internacionais por essa política genocida”, defendeu.
O seminário contou ainda com a participação do senador Jean Paul Prates (PT-RN) e a deputada Fernanda Melchiona (RS), líder do PSOL.
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