Há uma variável que precisa ser levada em consideração na blitz ininterrupta de Carlos Bolsonaro contra Hamilton Mourão:
o ressentimento.
Por que Carlos faz o que faz? De que modo essa estratégia poderia beneficiar o pai?
De jeito algum.
Quem está enxergando lógica e razoabilidade está mentindo.
O caso é que o Zero 2 não perde, necessariamente, com os ataques.
Pelo contrário, aparece para seu eleitorado como um sujeito corajoso, leal, bom filho, capaz de enfrentar um general.
Vai se eleger no próximo pleito.
O pai, Jair, é quem se lasca entre os militares, no Congresso, nas ruas. Um presidente fraco, chefe inepto, pai sem autoridade, atrapalhado.
Perde o cargo.
Mourão, como de hábito, está jogando parado, sem contestar ou pular na lama — e ganhando.
Carlos não recuou em sua louca cavalgada porque o ódio pelo pai é do tamanho do amor.
Ele vive se sacrificando desde a adolescência.
Foi obrigado a tomar partido contra a mãe, Rogéria Nantes Nunes, segunda mulher de Jair.
No ano 2000, ela era vereadora no Rio de Janeiro pelo PMDB. Tentava a reeleição para seu terceiro mandato.
O casamento acabara três anos antes porque, basicamente, ela resolveu pensar por conta própria.
Já não contava mais com o apoio de Bolsonaro, que resolveu apostar em outro nome: o de Carlos.
Vinícius Segalla contou aqui no DCM:
Carlos Bolsonaro tinha 17 anos quando seu pai o lançou na política no ano 2000. Era estudante do ensino médio, menor de idade.
Para que pudesse se candidatar, de acordo com a lei, era preciso que fosse emancipado. Jair Bolsonaro assim o fez, como noticiou a imprensa carioca na época.
A partir daí, naquela eleição no Rio de Janeiro, a mãe Rogéria e o filho Carlos passaram a ser adversários, disputando o mesmo eleitorado: os simpatizantes do ex-capitão.
“Bolsonaro emancipou o filho para jogá-lo contra a mãe. Em seu grupo político, não há ninguém merecedor de sua confiança. Já que não é a (ex-)mulher, tem que ser o filho.
Um menino ainda, sem o mínimo preparo, com o único objetivo de dizer aos seguidores do deputado-capitão que o seu preposto na Câmara Municipal não é mais a ex-mulher, mas sim o filho, disputando os dois o patrimônio eleitoral do parlamentar. Se isso não é nepotismo, o que é?”
Assim noticiou o fato, no dia 25 de setembro de 2000, o jornal carioca “Tribuna da Imprensa” (que deixou de circular em 2008).
Isso não sai de graça. Não tem perdão. É pior que alienação parental.
Ninguém aceita ser um escravo mental impunemente. Ninguém aceita destruir a mãe numa boa.
É uma dívida impagável que Jair contraiu com o filho.
O Globo noticia hoje que Carlos, desde que foi obrigado a retirar do canal oficial da Presidência o vídeo de Olavo de Carvalho esculhambando os “milicos”, deu um perdido em Jair se refugiando num clube de tiro em Florianópolis.
Segundo a reportagem, ele “se recusa a atender telefonemas do pai, que pediu ajuda a um amigo da família de longa data para tentar acalmar o filho”.
Carlos também não perdoou que Olavo fosse desautorizado por meio de uma nota.
No centro do alvo em Floripa, é fácil pensar em quem Carlos está imaginando quando dispara sua arma.
E não é apenas em Mourão.
Por Kiko Nogueira
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