Para o PT, o diálogo com o partido é diferente nos âmbitos nacional e regional
Neste mês, uma reunião esquentou os rumores sobre uma possível aproximação entre o PT e o PSB em Pernambuco. Em 15 de fevereiro, o ex-presidente Lula recebeu em seu instituto Paulo Câmara, governador do estado, além de Renata Campos e João Campos, viúva e filho de Eduardo Campos.
Uma nota publicada no site do ex-presidente afirma que a pauta do encontro foi o cenário político brasileiro e a responsabilidade do PT e do PSB com o futuro do país. A publicação também afirma que “PT, PSB, PDT, o PSOL, o PCdoB e setores progressistas do PMDB criaram uma frente para discutir pontos em comum para a superação da atual crise política pela qual passa o Brasil”.
Nacionalmente, os partidos estão rompidos desde 2014, quando Campos decidiu lançar-se candidato a presidente. Nas três eleições anteriores, a principal liderança do partido em Pernambuco e no País havia apoiado Lula e Dilma Rousseff. Em meio à campanha, o socialista morreu em um acidente aéreo. Vice na chapa do PSB em 2014, Marina Silva, atualmente na Rede, assumiu a candidatura e terminou o primeiro turno com 21% dos votos, atrás de Dilma e Aécio Neves.
No plano estadual, os partidos também romperam em 2014. Quatro anos antes, haviam integrado uma chapa única. O afastamento das legendas foi agravado quando os socialistas em Pernambuco apoiaram o impeachment de Dilma em 2016.
Neste ano, o PT tem a pretensão de lançar um candidato próprio para rivalizar com Paulo Câmara no primeiro turno. As legendas demonstram, porém, estarem mais abertos ao diálogo.
O PSB ainda não fala em nomes para compor a disputa eleitoral e entende que as nomeações devem acontecer em março, quando está previsto um congresso da legenda. No entanto, não descarta uma aproximação com os petistas, como coloca o prefeito do Recife, o socialista Geraldo Julio. “Estamos abertos ao diálogo com todas as lideranças e partidos políticos que tiverem a intenção de se juntarem ao nosso projeto. E o PT é uma das nossas possibilidades de diálogo.”
O PT, por sua vez, não declara uma aproximação com o partido, pelo menos em primeiro turno. Segundo o presidente da legenda em Pernambuco, Bruno Ribeiro, O diretório estadual defende a apresentação de uma candidatura própria no Estado. Ele cita três nomes como pré-candidatos: “a vereadora Marília Arraes, o militante do movimento negro José de Oliveira e o deputado estadual Odacy Amorim”.
Sobre a possível aproximação, Ribeiro entende que as tratativas entre os partidos são diferentes nos níveis nacional e estadual. “Nacionalmente, é natural e necessário para evitar o aprofundamento da agenda do golpe, preservar os direitos dos trabalhadores, o patrimônio nacional, mas isso não se repercute na agenda de Pernambuco, aqui há uma oposição muito forte”, declara.
Segundo Ribeiro, o PSB vive uma profunda crise de identidade política e de liderança, aprofundada com a morte de Eduardo Campos. “Depois dele, nenhuma liderança, nem em Pernambuco, nem no país, assumiu essa posição. Hoje, o PSB é um território em disputa por Alckmin, tem pedaços cortejados até por Joaquim Barbosa; apoiou Marina na última eleição presidencial e depois votou em Aécio”, observa.
Caso não declare apoio ao PSB, o PT pulverizará ainda mais o cenário em que Paulo Câmara, herdeiro político de Campos, busca reeleição. Em 2014, ele se elegeu ao vencer o senador Armando Monteiro (PTB).
Os planos eleitorais do atual governador se lançam em um contexto de realinhamento de forças políticas na própria chapa majoritária da Frente Popular, aliança que o elegeu. Além de perder alguns partidos da base, o governo terá de enfrentar dissidências políticas como a liderada pelo senador Fernando Bezerra Coelho, que deixou a legenda e se filiou ao MDB em setembro do ano passado.
Bezerra Coelho, inclusive, protagoniza uma disputa jurídica pelo diretório estadual do MDB em Pernambuco, hoje liderado pelo presidente regional da sigla, Raul Henry, e pelo deputado federal Jarbas Vasconcelos, que lutam contra a intervenção da Executiva Nacional.
O embate também é decisivo para as estratégias do governador. O possível controle do diretório pelo senador Bezerra Coelho representaria para Câmara a perda do maior tempo de propaganda na televisão. A indefinição do caso, que segue judicializado, reflete também nas possíveis alianças políticas do governo, já que os aliados correm o risco de perder suas legendas. O grupo ligado a Jarbas, por exemplo, pode seguir para outras siglas caso o MDB fique com Bezerra Coelho.
Para Jarbas Vasconcelos, no entanto, a demora no processo deve fazer com que Bezerra Coelho tome uma decisão. “O filho dele [Fernando Coelho Filho, atual ministro de Minas e Energia] é candidato a governador, então o tempo não é muito favorável a ele”, observa. O deputado reconhece que a disputa afeta as coligações do governo. “Mas isso faz parte do jogo e precisamos superar”, avalia Vasconcelos, que concorrerá a uma cadeira no Senado, na chapa de Paulo Câmara.
Outras lideranças oposicionistas se articulam em torno do movimento “Pernambuco quer Mudar”, lançado em dezembro do ano passado pelo presidente do PSDB em Pernambuco, o deputado Bruno Araújo, e outros representantes como os senadores Armando Monteiro (PTB) e Fernando Bezerra Coelho; pelos ministros Fernando Filho (sem partido) e Mendonça Filho (DEM); pelos ex-governadores Joaquim Francisco e João Lyra Neto (PSDB); pelo ex-prefeito Elias Gomes (PSDB), entre outros.
Os opositores falam em um “sentimento de mudança em Pernambuco” e no fim de um longo ciclo do PSB frente ao estado. “A eleição de 2014, da qual eu participei foi marcada por uma forte comoção em torno do acidente que vitimou o ex-governador e isso mudou todo o curso da disputa”, afirma o senador Armando Monteiro. “À época, ele ficou com o desafio de revelar algo que pelo menos se aproximasse do Eduardo, algo difícil para quem não tem a mesma envergadura e experiência”, avalia. “O fato é que o governo, em decorrência de vários fatores, não correspondeu”, atesta.
O senador afirma que o momento é de análise de uma possível chapa, que deve ser definida até a primeira quinzena de abril, “quando se conhecerão melhor as alianças nacionais e se o PT terá candidatura própria em Pernambuco”. Segundo Monteiro, caso o PT não faça oposição, o grupo terá de avaliar se é válida uma única candidatura da frente ou mais de uma. “Meu nome está à disposição da frente como candidato ao governo”, afirma, embora também haja especulações acerca de seu nome para o Senado.
Para o PSB, a estratégia do partido para reeleger Paulo Câmara é inversa à apresentada pela oposição, considerada por ele desencontrada e desarticulada. “Não foi apresentado nenhum projeto para o Estado diferente daquele que estamos tocando. A única coisa que une a oposição hoje é o apoio ao governo Temer, feito por figuras antigas da política pernambucana, que remetem a um passado”, concluiu Geraldo Julio.
Carta Capital