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O escândalo envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o presidente Bolsonaro e um de seus filhos, Flávio Bolsonaro, está aí para mostrar que o governo atual vai se consolidando como um dos mais corruptos da história da democracia brasileira, com efeitos muito mais danosos hoje do que qualquer período após a ditadura militar (1964-1985).

Agora, segundo a revista Época, a Abin colocou seus quadros para traçar uma estratégia destinada a livrar Flávio da Justiça, no caso da “rachadinha”. A Abin teria produzido pelo menos dois relatórios para Flávio Bolsonaro e seus advogados sobre o que deveria ser feito para sustentar um pedido de anulação do caso Queiroz.

O governo Bolsonaro tenta, a toda oportunidade que surge, destacar o “fim da corrupção” como uma marca que o distinguiria dos governos anteriores, em especial as gestões de Lula e Dilma, do PT. Chegou a dizer inclusive que acabou com a Lava Jato “porque não tem corrupção no governo”.

Mas o escândalo envolvendo a Abin é só mais uma maneira de tornar evidente como o governo Bolsonaro está absolutamente comprometido com o uso do poder público, consequentemente, dos recursos públicos, a seu favor.

Em abril, o Comando Logístico do Exército admitiu ao Ministério Público Federal que revogou três portarias de controles de armas e munições por pressão do governo, tendo à frente, a interferência de Carlos Bolsonaro, vereador filho do presidente, além do próprio presidente.

O controle de armas e munições eram cruciais inclusive para o rastreamento e dificultar o acesso às armas pelo crime organizado e, sobretudo, pelas milícias do Rio de Janeiro. Não há corrupção mais imbuída de violência e descaso com a proteção da população mais fragilizada nas periferias do país do que essa.

Em junho, a imprensa noticiava o trabalho de lobista do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, para fabricantes de armas, como a alemã SIG Sauer e a italiana Beretta. O Exército passa a negociar parceria com as empresas “ajudadas” pelo filho do presidente.

Este mês, o presidente Bolsonaro decide zerar a taxa de imposto para pistolas e revolveres. Em meio ao caos da pandemia, um auxílio emergencial limitado, um intenso debate em torno da produção e compra de vacinas, o presidente prioriza “cuidar” de demandas das industrias de armas. Se isto não é corromper sua função de priorizar as necessidades do país, nada mais seria.

Em julho, com o país ultrapassando o número de 80 mil mortes por covid-19, Bolsonaro vetou a obrigação do governo fornecer água potável, higiene e leitos hospitalares a indígenas. Este veto é um flagrante ato de corrupção e infração de seu juramento.

A menos que, ao dizer que jura “manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro”, o presidente não se referia a indígenas como parte deste povo.

É corrupção de sua função de chefe e responsável pelo país, quando ignora e zomba de uma pandemia da gravidade que o novo coronavirus se tornou. Debochou, fez pouco caso das mortes que aumentavam drasticamente. Convocou jejum e oração ao invés de apresentar um plano de ação sério e competente para enfrentar a doença.

Bolsonaro não reclamou da Abin na reunião de 22 de abril

Corrompeu sua função e o cuidado público quando demitiu o ministro da saúde no meio da crise e deixou o país, por meses, sem um titular para a pasta. Trocou as comunicações diárias feitas por Mandetta por uma omissão de dados que deixou a população no escuro, salvos pelo consórcio de imprensa que atualiza os dados diariamente.

Na sua fatídica reunião de 22 de abril, aquela que veio a público depois das denúncias de Sergio Moro, Bolsonaro já reivindicava as carências do seu autoritarismo, reclamando informações que não recebia.

Bolsonaro reclama da Polícia Federal, reclama do serviço de Inteligência do Exército. Mas Bolsonaro não reclama da Abin, diz apenas que ela “tem seus problemas”. Talvez fosse esse “os problemas”. Corrupção, autoritarismo e uso familiar de instituições públicas.

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