“Num jogo de personagens capazes de unir os dois troncos que fazem um país caminhar — a consciência política, a força da cultura – afirmou-se a esperança de um país que pode ser e será infinitamente melhor do que o pesadelo atual. Assim, após o apito final, o único vencedor foi o povo”, diz o colunista Paulo Moreira Leite, sobre o jogo que reuniu Lula, Chico Buarque e amigos
Num jogo em que Chico Buarque e Lula encarnavam a pátria de chuteiras de que falou Nelson Rodrigues, o grande vencedor foi o povo, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Para quem deu os primeiros passos no jornalismo fazendo a cobertura da Seleção Tri-campeã de 1970, o jogo dos Amigos de Lula e Chico contra o MST, em Guararema, foi uma disputa abaixo de sofrível.
Para quem procura entender as glórias e desastres da política brasileira nas primeiras décadas do século XXI, o futebol no gramado da Escola Nacional Florestan Fernandes era parte de outro jogo, em outra esfera.
Septuágenarios, movimentando-se com a morosidade própria da idade, nosso maior líder político e nosso maior poeta entraram em campo como protagonistas da história de um povo que, mesmo enfrentando tantas trapaças do destino, jamais renunciou aos direitos de dignidade e sonhos com uma certa grandeza.
Cronista de outro tempo, Nelson Rodrigues escreveu que a Seleção Brasileira é a pátria de chuteiras.
As chuteiras, em Guararema, ajudavam a Política e a Cultura do país a formar um bloco invencível.
Sem entrosamento nenhum, preparo físico deficiente e técnica acima de tudo esforçada, com ajuda indispensável do anfitrião João Pedro Stédille, Lula e Chico Buarque fizeram bonito num gramado só um pouco melhor do que um campinho de várzea.
Não sei qual antropólogo poderia imaginar uma celebração onde um cidadão duas vezes presidente da República, capaz de comandar a política brasileira do sindicato ao Palácio presidencial por meio século, seria capaz de oferecer a irresistível cena seguinte.
Cair ao chão numa clássica catimba perto da área adversária, espernear, e em seguida bater pênalti numa sequência que parecia extraída de uma comédia de cinema mudo. Enquanto o goleiro jogou-se para um lado, Lula, até jeitoso com os pés, encaixou a bola do outro — para alegria geral.
Demonstrando a humildade de quem na adolescência sonhou que ia ser craque de verdade, a partir daí estabelecendo uma comunhão voluntária com o povo que permitiu expressar uma genialidade reconhecida através do samba, Chico Buarque acompanhava os lances da partida com um nível de concentração acima da média. Correndo com suas pernas finas, jogava para si e para o time. Também fez seu gol.
Com muitas risadas e uma vontade infinita de comunhão, assistimos à utopia possível de um futebol sem ganhadores nem perdedores, ainda que o placar tenha sido 2 a 1 para o time de Chico-Lula. Jogaram homens e mulheres, e mesmo craques que usam muleta.
Num jogo de personagens capazes de unir os dois troncos que fazem um país caminhar — a consciência política, a força da cultura – afirmou-se a esperança de um país que pode ser e será infinitamente melhor do que o pesadelo atual. Assim, após o apito final, o único vencedor foi o povo.
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