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Exclusivo: está em curso armação da campanha de Bolsonaro para vincular tiroteio e malas de dinheiro em Juiz de Fora a Haddad. Por Joaquim de Carvalho

Está em curso uma armação da campanha de Jair Bolsonaro para tirar de Fernando Haddad a possibilidade de virada nesta reta final das eleições.

Assim como em 1989, quando o sequestro de Abílio Diniz foi usado para que se espalhassem mentiras para tentar vincular o crime à candidatura de Lula, desta vez apoiadores de Bolsonaro estão tentando vincular o tiroteio entre policiais paulistas e mineiros em Juiz de Fora à candidatura de Haddad.

No depoimento que prestou ontem na Corregedoria da Policia Civil em São Paulo, a que o DCM teve acesso, o empresário Flávio Guimarães respondeu a um estranho questionamento do delegado Marques de Araújo, que conduz o inquérito para apurar a participação dos policiais no tiroteio.

O delegado quis saber se havia vinculação político-partidária no negócio que supostamente ele estaria tentando fazer na cidade mineira. Flávio respondeu que não, e foi esse trecho do depoimento (ver abaixo) que me levou a procurar mais informações sobre o empresário.

E não foi difícil encontrar. O blog jornalista de extrema-direita Políbio Braga tem uma postagem de domingo, 21 de outubro, em que ele publica a imagem do que seria a página do empresário no Facebook.

É uma foto de Flávio Guimarães sob a moldura da campanha de Haddad e Manuela. Procurei a página na rede social e não encontrei.

O caso lembra a foto divulgada na véspera da eleição de 1989, quando policiais obrigaram um dos seqüestradores de Abílio Diniz a vestir camiseta da campanha de Lula.

Políbio Braga, que mora em Porto Alegre e tem um blog na internet, publicou a nota às 11h30 da manhã de domingo com a imagem do que seria a página de Guimarães.

O tiroteiro em Juiz de Fora, ocorrido na sexta-feira, tinha sido manchete do Jornal Nacional da véspera. Políbio Braga deu detalhes da vida do empresário que ainda não tinham sido tornados públicos.

Na verdade, àquela altura, nem era público o nome do empresário que tinha como seguranças os policiais paulistas envolvidos no tiroteio. O caso era tratado como sigiloso pela Polícia Civil em Juiz de Fora.

Mas a nota de Políbio Braga era cheia de detalhes. Disse ele:

“O empresário que levou R$ 15 milhões, apreendidos depois de um tiroteio entre policiais mineiros e paulistas em Juiz de Fora (leia nota abaixo) é Flávio Guimarães.

Guimarães é CEO na empresa AJC Group.

No seu perfil do Facebook, no qual aparece com a mulher e dois filhos, o CEO emoldura a foto com propaganda de Haddad e Manuela, PT e PCdoB.

O empresário Flávio de Souza Guimarães fugiu de Juiz de Fora em um táxi aéreo no fim da tarde de sexta-feira. Além dele estavam na aeronave outros dois passageiros e dois pilotos. O avião seguiu para o aeroporto Campo de Marte, que fica em São Paulo.

As polícias de Minas e São Paulo também vão investigar a origem dos dólares apreendidos com os R$ 15 milhões apanhados na operação. 

O empresário mineiro, Antônio Vilela, que estava com os policiais paulistas que custodiavam o dinheiro, foi ferido e está internado.”

Segundo a polícia, a maior parte das cédulas cuja propriedade é atribuída a Flávio Guimarães é falsa. No depoimento que prestou à Corregedoria da Polícia Civil em São Paulo, ele conta que nem levou dinheiro para lá.

A intenção, segundo ele, era fazer um negócio de mútuo e o dinheiro lhe teria sido mostrado no porta-malas de um carro.

Logo depois da postagem, o blogueiro Políbio tirou selfie no Parcão em Porto Alegre, com camisa da Seleção Brasileira, e a postou no seu blog.

Queria mostrar que havia participado da manifestação em favor de Bolsonaro.

Políbio Braga, na manifestação em favor de Bolsonaro

Uma leitura de seu blog mostra atividade intensa em favor do candidato do PSL.

A nota que vincula o empresário Flávio Guimarães à candidatura de Haddad não tem, portanto, credibilidade.

Isso para o leitor mais atento.

Mas, circulando na rede, tem potencial explosivo. Pode servir à indústria de fake news e provocar estragos na candidatura de Haddad e, portanto, ferir a democracia.

Foto do dinheiro — a maioria, cédulas falsas –, mostrado na Globo

Desde sábado, os noticiários da Globo têm dado destaque — principalmente os jornais de rede nacional — ao tiroteio em Juiz de Fora.

Já era estranho o noticiário intenso, sem apresentar as respostas principais ao episódio, e não faltam interrogações.

Empresário que teria levado R$ 15 milhões a Juiz de Fora, supostamente para trocar por dólares, sem que a Polícia Civil de Minas apresente os dólares pelos quais ele trocaria.

Para ir a Juiz de Fora, Flávio Guimarães contou com um mega esquema de segurança para fazer o que seria uma operação de câmbio no mercado paralelo, acompanhado de um delegado da Polícia Civil de São Paulo exibicionista, que posta fotos da rede social com armas pesadas.

Há outros policiais civis, tanto de São Paulo quanto de Minas, envolvidos na operação.

Desde sábado, o DCM tem publicado notas em que destaca esses fatos estranhos e chama a atenção para o mistério que se estava criando em torno do caso.

Juiz de Fora é, afinal, a cidade em que Bolsonaro levou a facada e a tal operação de black com Flávio Guimarães estava sendo feita no estacionamento de um hospital.

São informações que, lidas no conjunto, podem dar argumentos a teorias conspiratórias.

Nesse tiroteio, um policial de Minas Gerais morreu e um de São Paulo está gravemente ferido.

A pergunta é: será que, para montar um armação de cunho eleitoral, os apoiadores de Bolsonaro teriam chegado ao ponto de cometer pelo menos um homicídio?

Esta história não fecha e os democratas e autoridades independentes do Brasil precisam reagir a ela antes que provoquem um estrago equivalente ao de 1989, quando o noticiário intenso sobre o sequestro de Abílio Diniz tirou de Lula a vitória eleitoral quase certa sobre Fernando Collor.

Depois, quando as urnas estavam fechadas, vieram os desmentidos.

Mas já era tarde demais.