Aliados do candidato a presidente espalham versões fantasiosas
Reportagem de Rubens Valente, publicada há pouco na Folha de S. Paulo, desmonta as teorias conspiratórias em torno da facada em Jair Bolsonaro. Um trecho da reportagem:
A Polícia Federal afastou a suspeita de que Adélio Bispo de Oliveira, que no último dia 6 tentou matar o candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) em Juiz de Fora (MG), tenha recebido pagamento em sua conta bancária para executar o crime.
A investigação concluiu que o dinheiro localizado com Oliveira tem apenas “origem sustentável”, como uma rescisão recente pelo trabalho em um escritório de advocacia, e remuneração pelo trabalho de garçom, pelo qual recebia cerca de R$ 70 por dia.
A PF apurou que o cartão de crédito internacional encontrado em poder de Oliveira na verdade nunca foi utilizado e foi emitido automaticamente pelo banco logo após o valor da mesma rescisão trabalhista ter sido depositado em sua conta.
Em teorias conspiratórias compartilhadas em redes sociais, o cartão também foi citado como suposta evidência de que Oliveira teria recebido dinheiro de origem suspeita.
O ex-delegado da Polícia Federal Fernando Francischini, hoje deputado federal aliado de Bolsonaro, é o que mais tem divulgado essas versões delirantes, assim como a jornalista Joyce Hasselmann, candidata a deputada federal pelo partido de Bolsonaro.
O site O Antagonista, de extrema direita, também dá vazão a essas versões fantasiosas e diz que, ao concluir o inquérito, a PF pode definir a eleição de Bolsonaro no primeiro turno.
Fez um carnaval em cima de uma informação de que Adélia tem registro de entrada na Câmara dos Deputados em agosto de 2013. A Câmara dos Deputados tem mais gente circulando diariamente do que muitas cidades médias do Brasil.
A reportagem de Rubens Valente, feita com base em fontes da PF, desmonta outros pontos da teoria da conspiração, veiculadas em posts no Facebook:
A PF também concluiu que o computador pessoal localizado com Oliveira não era recente nem caro, ao contrário do propagado em redes sociais. O aparelho era antigo e estava quebrado, tendo sido usado pela última vez no ano passado. Dos quatros telefones celulares encontrados com Oliveira, apenas dois estavam em atividade, e nenhum foi comprado nas semanas anteriores ao crime.
Segundo outra conclusão da PF, em razão dos acertos trabalhistas recentes Oliveira tinha condições financeiras próprias de pagar adiantado R$ 400 por hospedagem numa pensão em Juiz de Fora, onde ele disse que procurava emprego. Foi apreendido com Oliveira um recibo que comprova o pagamento.
Também foram investigadas todas as pessoas citadas em redes sociais como supostos cúmplices que teriam repassado a faca a Oliveira no dia do atentado. A PF descartou todas as informações, que eram falsas. Pelo menos uma mulher inocente marcada em redes sociais foi perseguida, recebeu ameaças e teve que procurar a PF para obter proteção.
A opção de Oliveira por usar uma faca para tentar matar o presidenciável pode ser explicada por outro aspecto da vida do preso levantado durante a investigação da PF.
Em um açougue em que Oliveira trabalhou em Curitiba (PR), a PF apurou que Oliveira era conhecido por manejar muito bem facas. Normalmente um novo contratado recebia um “padrinho”, responsável por tutelar o novo cortador de carnes. No caso de Oliveira, o próprio açougue dispensou o uso do “padrinho”, ao constatar que ela sabia usar as lâminas.
Oliveira também teria trabalhado como sushiman, preparador de carnes de peixe em restaurantes japoneses, o que também demanda um bom uso de facas.
(…)
O presidente do inquérito e também delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF de Minas Gerais, Rodrigo Morais, informou que o inquérito que trata do ato do crime em si deverá ser finalizado até a próxima sexta-feira (28), mas ao mesmo tempo será aberto um novo inquérito para investigar supostos mandantes ou pessoas que teriam instigado o crime, ainda que não exista nenhuma indicação sobre isso até o momento.
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Com o novo inquérito, se houver, a especulação vai continuar.
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