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No início da segunda quinzena de março Curitiba foi invadida por outdoors – assinados por um grupo autodenominado Médicos pela Vida – com a mensagem Não dê chance à covid-19. O tratamento precoce salva vidas.

Antes, no início do mês um grupo – ou parte do mesmo grupo – esteve em Brasília numa reunião com Jair Bolsonaro.

Foram levar apoio – ou pedir benção – à Bolsonaro em favor ao tratamento precoce.

No Ceará, grupo de médicos/as que mistura aborto com cloroquina, colocaram outdoors na cidade de Fortaleza afirmando que Ainda Há Bem.

Ainda bem que há bem, mas este bem não está com estes grupos de médicos/as.

O movimento do Ceará tem ligação direta com o Ministério da Saúde através de Vinícius Nunes Azevedo, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges) e da pediatra Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”.

Também faz parte do movimento, no Ceará, o senador Eduardo Girão (Podemos), aquele que propôs a “bolsa estupro” – o Projeto de Lei (PL) 5.435/2020 – ao invés de exigir a criminalização do estuprador.

Vivemos – tempos estranhos – segundo alguns, um novo normal.

Neste novo normal, há grupo de médicos que se autodenominam Médicos pela Vida – como se os outros fossem pela morte – e assinam mensagens apoiando e propagandeando o uso de medicamentos – para tratamento de Covid-19 – que não têm nenhuma comprovação científica.

Quem pagou a viagem a Brasília é uma resposta a ser buscada, mas quem pagou as mensagens, via outdoors, tanto em Curitiba como em Fortaleza, foram empresários.

Neste novo normal são permitidos crimes a luz do dia – como propagandear medicamentos ineficazes contra doenças – desde que dito que é “em defesa da vida”.

No Ceará, cada outdoor do Ainda Há Bem custou aproximadamente R$ 750, segundo a empresa que assina as peças e foram instaladas “sem custo”, a pedido da empresa Coco Bambu.


Segundo matéria do Plural, um dos financiadores – de cerca de 50 pessoas – dos outdoors colocados em Curitiba, informa que no grupo tem de tudo “empresários, advogados, engenheiros, médicos”, todos de direita, ou seja, tem identidade ideológica com Bolsonaro.

Numa campanha eleitoral a feitura de propaganda eleitoral de qualquer candidato financiada por – pessoa física e/ou jurídica – e não declarada é caixa dois.

No caso destes outdoors, que segundo os médicos não foram eles que pagaram devo entender que houve um caixa dois?

Caixa dois dos/as Médicos pela vida” e dos/as Ainda Há Bem. Há que se investigar a origem deste dinheiro.

Neste novo normal ganha força a disputa terapêutica com radicalização ideológica.

Sempre a terapêutica levou em consideração a ciência e o conhecimento científico. Agora a ideologia – para alguns/mas – é mais forte.

A terapêutica saiu do campo da ciência e foi para o campo da ideologia e do partido.

Esta não é a primeira vez na história que ocorre, e todas às vezes que isto ocorreu o prejuízo foi para a ciência como um todo e para o cidadão e cidadã que se tornaram vítimas de experimentos. Muitas vezes vítimas fatais.

Durante o nazismo na Alemanha e nos territórios que os nazistas ocuparam a “ciência médica” esteve sob o protagonismo do médico Josef Mengele.

Em nome da “defesa da vida” – dos arianos – Mengele e seus colaboradores matou centena de milhares de pessoas.

No Brasil, no momento, o protagonista de uma disputa terapêutica é Bolsonaro um dos homens – para não chamá-lo de medíocre ou coisa pior – mais rasos intelectualmente da e na vida pública de história do Brasil.

Neste novo normal o presidente, ou seja, a mediocridade, é quem dita – felizmente para uma parte minúscula dos médicos e das médicas – o que se deve receitar.

Está provado cientificamente que não há tratamento precoce para o enfrentamento ao Covid-19, portanto estes grupos de médicos/as ao receitarem o que o Bolsonaro manda, o fazem, simplesmente por alinhamento ideológico.

Hitler era nazista.

Bolsonaro é fascista.

O nazi-fascismo não faz a defesa da vida e tampouco constrói o bem, em todos os sentidos.

Fascistas não fazem a defesa da vida como valor universal. Defende a vida para poucos. No caso Hitler e Mengele defendiam para os arianos.

Bolsonaro – até que prove em contrário – não defende a vida de ninguém, a não ser a própria.

Suas principais vítimas são os idosos, os mais vulneráveis, os pobres e principalmente negros e negras. Estes segmentos – para Bolsonaro – devem morrer.

Portanto, para estes o “tratamento precoce” com o reconhecimento dos médicos e médicas do em defesa da vida e do que Ainda Há Bem.

Inconcebível que profissionais prescrevam medicamentos – que cientificamente não tem comprovação – apenas por identificação ideológica com o presidente.

Ela é colocada à frente da ciência e do saber médico.

Apesar de este grupo de médicos/as ter identificação ideológica com Bolsonaro, não quero crer que entre eles haja alguma identificação com Josef Mengele.

*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul. 

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