Diplomata diz que Brasil deve se reorganizar e fortalecer alianças com América do Sul, China e Europa, após os EUA romperem com o multilateralismo
247 – O diplomata e ex-chanceler Celso Amorim, atual assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que o mundo está atravessando uma das maiores transformações estruturais desde o fim da Segunda Guerra Mundial e que a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos simboliza o colapso de uma era marcada pelo multilateralismo e expõe de “forma crua” os interesses geopolíticos das grandes potências. “Nós estamos vivendo, de certa maneira, a hora da verdade”, disse Amorim à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
“A chegada de Trump acabou com certa hipocrisia do multilateralismo”, destacou. Segundo Amorim, o presidente estadunidense abandonou qualquer verniz diplomático ao atuar “de forma deslavada” para defender os interesses exclusivos dos EUA. Esse movimento, diz, exige que países como o Brasil se reorganizem e encontrem novos caminhos diante da mudança de eixo global.
Amorim observa que os EUA, após o fim da Guerra Fria, operaram como uma potência quase inquestionável, recorrendo frequentemente a instituições como a ONU ou a Otan para legitimar sua influência. “Trump não quer saber dessas estruturas. Ele não esconde o autointeresse”, afirmou citando como exemplo a proposta do mandatário de adquirir a Groenlândia por seu potencial mineral. “É a verdade nua e crua. Ele não faz parecer que defende a Ucrânia porque defende a democracia no mundo, o que era discutível: os EUA defendiam a democracia quando interessava.”, acrescentou.
O ex-chanceler vê essa nova postura como parte de um realismo geopolítico que também impacta a Europa, historicamente dependente do “guarda-chuva moral, militar e econômico” dos americanos. “Quando de repente chega um presidente americano e diz ‘eu vou cuidar do meu interesse, vocês que se virem’, eles ficam totalmente perplexos”, disse Amorim.
Ao comentar a possibilidade de Trump aderir à narrativa bolsonarista de que o Brasil vive sob uma “ditadura judicial”, Amorim minimizou ao observar que “Bolsonaro ficou pequeno diante das grandes questões do mundo”. Segundo ele, Trump respeita “quem é capaz de agir” e tende a desprezar figuras que “ficam lá querendo adular”, como o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. “Trump disse que gosta do Putin. Pode até não gostar, mas respeita. O mesmo vale para Xi Jinping”, completou.
Sobre o papel do Brasil nesse cenário, Amorim defendeu uma postura pragmática, aliada a uma diplomacia ativa e independente. “Temos que aprender a viver nesse mundo multipolar. Saber jogar com alianças variáveis e nos relacionar com as superpotências de forma inteligente”, apontou. Para ele, o país tem trunfos importantes, como o prestígio internacional acumulado por seu histórico pacifista e sua liderança no Sul Global. “A China precisa do soft power que o Brasil tem. Nós temos credibilidade”, ressaltou.
Apesar das divergências políticas entre países da América do Sul, como Argentina e Venezuela, Amorim aposta na reconstrução da união regional. “Sempre digo que o primeiro mandato de Lula era um mundo de oportunidades. Agora, é um mundo de desafios. Mas acredito que, a médio prazo, a maioria dos países da América do Sul vai voltar a se unir.”
Ao abordar as tensões entre o Brasil e os EUA, especialmente diante da imposição de tarifas, o assessor defendeu a aplicação da reciprocidade como estratégia de defesa dos interesses nacionais. “Você não pode dar um tiro no pé, mas há áreas onde podemos reagir, como propriedade intelectual e remessa de lucros. Se o Brasil morder, eles pensam duas vezes”, afirmou.
Sobre o embate entre o Judiciário e as big techs, Amorim declarou apoio ao ministro Alexandre de Moraes. “Ele está fazendo um trabalho muito importante. As plataformas estão entendendo que o Brasil não vai abrir mão da soberania. Se quiserem atuar aqui, têm que seguir nossas regras, que não são arbitrárias”, disse, comparando a posição brasileira à da Europa.
Questionado se o futuro das relações internacionais será definido por uma nova divisão global entre Trump, Xi Jinping e Vladimir Putin, Amorim não descartou a possibilidade, mas advertiu que “o nosso grande desafio é, nessa divisão do mundo, não ser colônia de ninguém”.
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