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O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, vem insistindo com o nome de Márcio França como candidato a governador de São Paulo na chapa com o PT.

O dirigente alega que o partido, que está em vias de filiar Geraldo Alckmin, já está cortando na própria carne ao indicar o ex vice-governador, que muitos julgam ter uma eleição praticamente garantida ao governo do Estado – lidera as pesquisas – para ajudar no plano de retomada do poder central pelo Partido dos Trabalhadores.

Há controvérsias.

Primeiro porque Alckmin está anos luz de ter uma eleição garantida ao governo de São Paulo. Fora do PSDB, teria enorme dificuldade em lidar com um pleito contra seu ex-partido.

Em todas as vezes em que se elegeu governador – exceto quando foi vice de Covas, em 94, Alckmin teve a máquina pública a seu favor. Numa reunião com ele anos atrás, chegou a nos dizer que é “covardia” disputar a reeleição tendo a máquina no Estado na mão.

Para se ter ideia dessa verdade, basta notar o que aconteceu ano passado, quando os brasileiros elegeram seus prefeitos. Para ficar só nas capitais, dos 13 que tentaram a reeleição, dez garantiram a vitória.

Alckmin naufragou nas vezes em que não contou com o apoio da máquina: foi assim em 2006, quando foi derrotado para Lula na eleição presidencial, em 2008, quando chegou em terceito na disputa vencida por Kassab – reeleito – pela prefeitura de São Paulo e, mais recentemente, em 2018, quanto teve apenas 4% dos votos do pleito em que Bolsonaro saiu vitorioso.

Não por acaso, quer ser candidato a vice de Lula. Sabe que agrega valor à chapa e contará com uma estrutura robusta para encarar o desafio.

Agora vamos a Márcio França, que força a barra para tirar Haddad da linha de frente e garantir o apoio do PT na disputa pela sucessão de João Doria.

Márcio França foi vice de Alckmin, assumiu o governo com a renúncia do titular e não conseguiu se reeleger. Perdeu para João Doria no segundo turno em 2018.

Ganhou em SP e perdeu no interior

Para encurtar conversa, uma pequena síntese daquele pleito: Márcio venceu na capital e perdeu no interior.

Essas duas informações conspiram contra o candidato.

Primeiro porque todo mundo sabe que ganhou em São Paulo, de lavada aliás, por causa da forte rejeição de Doria na capital.

O paulistano, que se sentiu enganado pelo gestor, teria optado pelo diabo se fosse o caso para negar a ele o diploma de governador do Estado.

De outro lado, França, mesmo com a máquina, não conseguiu convencer os prefeitos do interior, que vivem de clientelismo, de que era a melhor opção naquele momento.

Tinha um caixa robusto, mas faltou apresentar um plano concreto para a melhoria da qualidade de vida da população. Sua estratégia foi investir em asfalto. Isso mesmo. Asfalto.

Criou um plano de recape de vicinais no interior, chegou a concluir alguma coisa, e no resto o que mais chamou a atenção foi a ideia de reeditar no Estado o que já havia feito no tempo em que foi prefeito de São Vicente, na Baixada Santista: um programa de parceria com as guardas civis municipais para treinamento de jovens para realizarem tarefas pela cidade.

Resultado: ganhou na capital por causa da rejeição de Doria e não conseguiu vencer no interior, mesmo com a chave do Estado nas mãos.

Mas justiça seja feita: França está jogando um papel brilhante na articulação entre o PSB e o PT, especialmente no estímulo que vem dando para que Alckmin tope somar com Lula como vice da chapa.

Bom articulador, vem costurando direitinho a parceria e só tem a ganhar com isso.

Márcio França se qualificou

Porém, forçar a barra para se impor como candidato, tirando Fernando Haddad da disputa, já são outros quinhentos. Haddad foi o melhor ministro de Educação da história do país.

Elegeu-se prefeito de São Paulo, fez uma grande gestão e só não foi reeleito porque o pleito coincidiu com a histeria causada no país pela farsa da Lava Jato.

Foi derrotado, mas deixou saudade na capital.

Encarou a barra de substituir Lula, que estava preso ilegalmente em 2018, e ainda assim chegou ao segundo turno e só não venceu pela covardia de Bolsonaro de participar dos debates.

Triturou os adversários no primeiro turno e, mesmo diante de tantas condições adversas, quase chegou lá.

Outro ponto que deve ser levado em conta nesta análise de quem será o candidato a governador é a estrutura que os partidos dispõem. A do PT é mil vezes maior que a do PSB – se é que essa existe.

Com Lula e Geraldo de vice, a coalizão tem tudo para ganhar o poder nacional, o governo de SP e, quem sabe com França, por que não?, também a vaga para o senado.

As conversas entre PT e PSB são preliminares neste momento – tanto que nem Lula decidiu ainda se será candidato, nem Alckmin o partido ao qual vai se filiar para entrar na disputa.

PSB e PT até aqui estão seguindo um bom caminho, dialogando e selecionando os melhores quadros para encarar o desafio do ano que vem.

Márcio França se qualificou nesta primeira etapa.

Mostrou que tem capacidade de se movimentar no grande poder e clareza política. Agora é mais uma questão de manter isso, e ampliar. Melhor que forçar a barra e correr o risco de arrebentar a corda.

A disputa nem começou ainda. O momento é de muita calma nesta hora, para usar um jargão bastante famoso.

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