A política e o estado almejado pelos paranaenses
Enio Verri*
A política é uma das mais belas condições humanas e não há como fugir dela. O ser humano faz política durante as 24 horas do dia. A política revela a pessoa, tomando lado, ou não. A omissão é, também, uma política. O problema é que, enquanto a sociedade não se interessa e não se mobiliza, políticos estão no poder construindo um Estado Mínimo, que vai atender a uma minoria. Caixa de ressonância de Bolsonaro e de recentes ex-governos do estado, o governador Carlos Massa Ratinho Júnior mantém a mão firme no atendimento das exigências do mercado financeiro. Infelizmente, assim como se dá em nível federal, o Paraná tem uma mídia subalterna à elite local, que confunde a sociedade com informações estanques e dispostas de forma que o público entenda o serviço público como algo que não funciona, dá prejuízo para a sociedade e que empresas e recursos energéticos devam ser privatizados antes que entrem em colapso e não sejam mais do interesse dos tais invisíveis investidores.
Ratinho segue a cartilha do ministro da Economia, Paulo Guedes, que nada mais é que um receituário de desinvestimento no povo do Paraná, para investir no mercado financeiro. Porém, não é novidade, trata-se da política do ultra liberalismo, da destruição de todo e qualquer marco civilizatório das relações entre capital e trabalho. Agora, com o indecente apoio da imprensa, os desempregados e desiludidos são chamados de empreendedores que podem dedicar, com períodos mínimos de descanso, sete dias da semana do seu empreendimento para dar lucro a uma empresa para qual trabalha e que se encontra no telefone celular. Os custos e os riscos são todos por conta do trabalhador, que já não tem 13º, férias, descanso remunerado, entre outros direitos básicos, conquistados com muito sacrifício pela classe trabalhadora, ao longo de décadas. Não se trata apenas do governador Ratinho, a questão central é saber que tipo de sociedade os paranaenses almejam, para si e para o estado como um todo.
O poder de romper com essa política está nas mãos da imensa maior parte da população do estado, que é a mais afetada pelo ultra liberalismo. As políticas, com ou sem omissão, têm desdobramentos. São fartas as informações que demonstram tanto a desumana desigualdade brasileira, quanto a importância social, política e econômica de empresas e de serviços públicos. Infelizmente, são dados deliberadamente tratados pela imprensa de forma estanque, para que a sociedade não perceba a relação entre eles. A posição de quinto estado mais desenvolvido do Brasil não se revela de forma justa para os 399 municípios do Paraná. Pelo contrário, as contradições são ainda mais absurdas devido à colocação no ranking. Isso é o resultado de políticas ultraliberais que concentram renda e propriedade. Há inúmeros municípios carentes de obras de infraestrutura, cujos resultados econômicos serão de interesse do mercado, em 15, ou 20 anos. Ora, independentemente do lucro, há milhões de paranaenses com os mesmos direitos dos que vivem em municípios bem estruturados, o de ter acesso aos avanços tecnológicos. Porém, com as privatizações não é isso que vai acontecer, uma vez que empresas privadas não deixarão de distribuir lucros a seus acionistas para investir em regiões onde o retorno pode demorar algumas décadas.
As privatizações da Copel-Telecom, da Sanepar, os contingenciamentos, os cortes de investimentos, calote no reajuste dos servidores públicos geram o insustentável Estado Mínimo. De um lado, empresa com acionistas ricos, sucateamento dos serviços, precarização das condições de trabalho, redução do quadro de funcionários, aumento de acidentes e de adoecimento, por exaustão. Em sentido inverso, cidadão empobrecido e com profunda limitação de consumo. Sem direitos e em trabalhos cada vez mais
precários, haverá receio de gastar, ainda que os proventos não sejam mesmo muito além de dois salários mínimos, que é o rendimento médio que faz a economia desse país girar. A crise baterá às portas do comércio, que deixará de contratar e de comprar mais mercadorias. Os governos do Partido dos Trabalhadores fizeram justamente o oposto. Eles inseriram a classe trabalhadora na Economia. Criou cerca de 20 milhões de empregos com a carteira assinada, com as mesmas leis que Temer e Bolsonaro suprimiram dos trabalhadores, tirou mais de 40 milhões da fome e da miséria e, pela primeira vez, desde que passou a ser monitorada pela ONU, saiu do mapa da fome.
Infelizmente não resta muito tempo aos paranaenses para decidir que tipo de Estado deseja. Hoje, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o 1% dos mais de 11 milhões de paranaenses tem rendimento médio de R$ 25.538, enquanto que R$ 281 e R$ 1.104 são as faixas de renda dos 5% e 50% com menores rendimentos. Não é entregando as empresas, as riquezas paranaenses e retirando direitos e poder de compra dos trabalhadores que se vai construir um estado forte e justo. Pelo contrário, esse modelo é concentrador de renda, basta ler os números e perceber o crescimento da população que faz da rua o seu escritório da informalidade. A questão é premente e os paranaenses estão vendo o que as politicas ultraliberais fizeram com a Argentina e estão fazendo com o Chile e o com Equador. Resistir é vital para construir um Paraná de todos os paranaenses. Às ruas.
*Enio Verri é economista, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do estado do Paraná.Compartilhe agora!
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