Eduardo Maretti, RBA – Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (21), o economista e ex-ministro Aloizio Mercadante e a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidenta do partido, comentaram o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, lançado hoje. Ao responder uma questão sobre a devastação ambiental no país, que compromete seriamente os biomas da Amazônia e do Pantanal, Mercadante comentou a relação entre o tema e a agricultura.
“A alternativa é recuperar os espaços degradados para ter fronteira agrícola. Gerar investimento e pesquisa, e a Embrapa tem importância muito grande nisso. Também agregar e dar valor aos produtos da floresta, investir nas cadeias agroalimentares que ajudam na preservação da floresta”, disse.
Ele afirmou ainda ser necessário mobilizar o agronegócio e fazer “um grande pacto” pela preservação. Nesse contexto, defendeu também o Estado como tendo papel determinante também na fiscalização. “No limite, tem que ter punição e suspender as linhas de crédito das empresas que patrocinam desmatamento. Nada justifica a atitude predatória em relação ao Pantanal e Amazônia.”
Como pode haver fome?
Na opinião do petista, o ganho de produtividade verificado na agricultura do país tem que ser sustentável ambientalmente, já que o modelo predatório está “se esgotando”. O país tem hoje uma “supersafra” de grãos de 247 milhões de toneladas. O Brasil é hoje o terceiro maior produtor de alimentos, atrás da China e dos Estados Unidos.
“Como um país como esse passar fome?”, questionou Mercadante. Ele citou o aumento de preço de alimentos da cesta básica, como cebola (72%), leite “longa vida” (33%), arroz (27%) e feijão (17%). Com a chamada “supersafra”, não se justifica um aumento de 18% no óleo de soja, destacou.
“O Brasil precisa gerar mais investimento na indústria, (dar) apoio à agricultura familiar, recuperar o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), retomar o (programa) Mais Alimentos, que permitia comprar tratores para agricultura familiar e camponesa. “Tem como ser compatível com a preservação e preservar os biomas estratégicos, tem como viabilizar a agricultura familiar”, defendeu.
Horizonte de Bolsonaro
Para o ex-ministro, os ganhos de popularidade do presidente Jair Bolsonaro devem recuar no decorrer de seu mandato. Após passar por uma “tempestade perfeita”, com enorme na durante a pandemia, durante a qual perdeu apoio da classe média e de “um pedaço grande do lavajatismo”, frágil no Parlamento e pressionado por denúncias de rachadinha, inquérito sobre fake news no Supremo Tribunal Federal e de dezenas de pedidos de impeachment, a partir da prisão de Fabrício Queiroz Bolsonaro conseguiu uma “guinada tática importante”.
Ele recompôs a base parlamentar, principalmente com o Centrão, e conseguiu uma estabilização e apoio de setores populares com o auxílio emergencial. Mas, citando o Prêmio Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler, Mercadante afirmou acreditar que a tendência é a popularidade de Bolsonaro ser esvair. A tese de Thaler já foi citada por economistas conservadores como Affonso Celso Pastore. De acordo com ela, as pessoas “são muito mais afetadas por perdas inesperadas do que por ganhos inesperados”.
Segundo Mercadante, se o governo investiu R$ 250 bilhões diretamente no consumo das famílias mais pobres com o auxílio emergencial, que beneficiou 100 milhões de pessoas, as perspectivas não são promissoras, tendo em vista que as últimas parcelas do auxílio vão destinar apenas mais R$ 67 bilhões às famílias.
Papel do Estado
“No total, (são) cerca de R$ 320 bilhões, mas o ganho politico dele foi relativamente pequeno diante da perda inesperada já em andamento. Ele liberava R$ 50 bilhões por mês, e agora são R$ 67 bilhões para quatro meses, cerca de R$ 15 bilhões por mês. Uma perda de dois terços em relação à situação anterior. Multidões saíram do o programa, e quem ficou terá a metade.” O governo Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes (Economia) concordaram com a prorrogação do benefício até o fim do ano pela metade do valor (R$ 300) de sua versão inicial.
Para Gleisi Hoffmann, o debate em curso do país reintroduz a questão do Estado no desenvolvimento da economia. “Olhando para o papel que os Estados nacionais tiveram no enfrentamento da pandemia e no pós pandemia, no Brasil estamos na contramão. E isso pela orientação do Guedes.”
Segundo ela, a introdução da renda básica se relaciona com esse quadro e lembra o debate sobre o Bolsa Família, inclusive no Congresso Nacional, quando o programa foi criado na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na opinião da deputada, a disputa tem de ser feita no Congresso, inclusive em torno do projeto Mais Bolsa Família. O programa lançado pelo PT recentemente, no fundo, “é a discussão sobre renda básica” e o papel do Estado no combate à crise e à pandemia.
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