Dinheiro privado, dado por dentro e por fora do caixa oficial, tem regido as eleições no Brasil.
Não é à toa que nossos últimos presidentes —Lula, Dilma e Temer— se viram encalacrados em investigações de custeio ilegal e lavagem de ativos em suas campanhas, envolvendo cifras mastodônticas.
Fernando Henrique Cardoso aparenta ter se safado de escrutínio semelhante porque, segundo a Vaza Jato, o ex-juiz Sergio Moro tinha certo apreço por seu apoio e desaconselhou apurações do MP.
A vitória de Jair Bolsonaro em 2018 pareceu trazer um fenômeno novo. Proibido o financiamento por empresas, após ampla mobilização popular à esquerda e à direita, elegeu-se um mandatário cujo comitê declarou gastos de R$ 2,4 milhões —ante R$ 318 milhões de Dilma em 2014.
Mas série de reportagens da Folha indica que ainda não acabou de morrer o que há de velho nas práticas das campanhas políticas.
Em outubro de 2018, o jornal noticiou que empresários pagaram para disparar, via WhatsApp, mensagens em massa pró-Bolsonaro, fator de grande influência na disputa.
Agora, revela-se que agentes de marketing estrangeiros venderam a empresas do país softwares para o envio automatizado e proibido. Nada passou pela tesouraria do TSE.
O caso tem potencial para crescer, a julgar pelo que o jornalismo da Folha vem mostrando e pelos instrumentos de investigação a serviço da Justiça Eleitoral.
Por ora, oito meses depois de aberto processo a respeito, ninguém foi ouvido pelo TSE e uma testemunha-chave do esquema foi excluída. Sob a batuta do ministro Moro, a Polícia Federal não juntou nenhum relatório de seus trabalhos aos autos.
Em 2017, quando o mandato de Dilma já havia sido cassado não pelo caixa dois, mas por razão menor e questionável, as pedaladas fiscais, o TSE varreu para debaixo do tapete provas do caso e salvou o mandato de Temer, eleito na mesma chapa.
Espera-se que agora não faça a opção pela inércia ou a complacência.
Fábio Fabrini
Repórter em Brasília, atua há 15 anos na investigação de casos de corrupção e malversação de recursos públicos.
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