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Em debate realizado no teatro da PUC de São Paulo, ex-presidente do PT defende uma nova estratégia que reunifique a esquerda “num programa radicalmente democrático”

Em fala na mesa “1968, Muito além de Maio”, no 4˚ Salão do Livro Político, no Tucarena, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o ex-presidente do PT José Genoino afirmou que considera fundamental entender o alcance dos ensinamentos de maio de 1968 e do período obscuro vivido então no Brasil para superar a atual fase crítica da história brasileira.

“A construção de um liame (ponte) entre 1968 e os dias atuais, e ir além de 68, significa trazer a politica para o posto de comando, ela (a política) ser desinterditada, ser libertária no sentido de radicalizar o conceito de democracia, centrado na soberania popular radical e na defesa de direitos”, disse.

Segundo Genoino, na atual fase do neoliberalismo e políticas de domínio da sociedade pelo Estado, o conceito de democracia baseado na ideia de que as regras do jogo são respeitadas “foi rompido pela necessidade de reestruturação da hegemonia do capital financeiro”. Nesse processo, a política se tornou apenas “uma engenharia sem vida”.

O petista declarou que, na atual conjuntura, a esquerda precisa considerar novas estratégias. “Se a gente aceitar as derrotas que estamos sofrendo de cabeça baixa, com niilismo, tristeza, com uma espécie de guerra intestina entre nós, estaremos sendo liquidados por essa dominação que é uma espécie de monstro, para o qual o essencial são os interesses econômicos.”

De acordo com a análise de Genoino, a política, hoje, é apenas “um meio” e os políticos são “despachantes das grandes armadilhas do sistema financeiro”. Os aparatos de Estado, disse, e as técnicas de opressão, atualmente, são dotados de técnicas sofisticadas que penetram a subjetividade das pessoas e da sociedade.

“Na nossa época, a gente ia para o Dops, para confirmar o depoimento prestado na tortura, e se não confirmasse, não saía do Dops. Agora, se não confirmar num depoimento via delação, também não pode sair. Não é mais a morte como aconteceu com os companheiros de Ibiúna, é a morte pela tristeza, e a pessoa não pode mais levantar a cabeça”, disse o petista.

Ao falar de Ibiúna, no interior paulista, o ex-deputado federal fez referência ao 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968. Cerca de mil estudantes participavam do evento clandestino num sitio no município brasileiro paulista da região de Sorocaba, quando o evento foi interrompido por forças da repressão e policiais do Dops e centenas de estudantes foram presos e caíram nos calabouços da repressão.

Segundo Genoino, ligar o passado (1968) com o presente vai exigir uma nova estratégia que reunifique a esquerda “num programa radicalmente democrático”.

“O sistema não só domina, ele cria uma espécie de subjetividade no interior das pessoas. Por isso, para discutir uma contra-hegemonia democrática radical, popular, transformadora, temos que fazer uma disputa dessa subjetividade, debater uma ideia que vem de 68, de desobedecer. É fundamental a ideia de a gente exercitar a construção de uma nova subjetividade para disputar a hegemonia global e o aparato do Estado sofisticado”, disse.

por Redação RBA