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O MEC sob o governo Bolsonaro repete os passos de Orbán na Hungria: ameaça a autonomia das universidades e o futuro dos avanços científicos e tecnológicos, sem pensar nas consequências para a economia

Não à toa Viktor Orbán veio ao Brasil celebrar a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Em cinco meses de governo, o presidente brasileiro já mostrou que segue a cartilha da Hungria quando o assunto é a autonomia das universidades e a liberdade acadêmica. Nos dois países, há supervisão descabida e ameaça de estrangulamento financeiro por motivos ideológicos. Orbán vai na frente, ensinando que o ataque à educação faz parte do projeto político de um tirano obcecado por se manter no poder.

O exemplo da Hungria é abordado em artigo de Agnes Heller, filósofa e autora, entre outras obras, de A Revolução da Vida Cotidiana. Uma parte do texto – que é um um ensaio publicado pela New School for Social Research – foi divulgado no El País Brasil, nesta semana.

Nele, Heller conta como Orbán começou sua batalha cultural nas últimas eleições, trabalhando com temáticas como ultranacionalismo e rejeição aos imigrantes, para conquistar o voto dos mais pobres. Deu continuidade depois de eleito, levando a guerra para o campo do ensino superior.

Na visão de Orban – muito semelhante ao que tem dito o ministro da Educação Abraham Weintraub nas últimas semanas – é a de que “a pesquisa científica precisa ser controlada pelo Estado, pois do contrário os cientistas não saberão quais devem ser as prioridades nem o que é mais útil.”

“Espera-se que as escolas produzam indivíduos bons e obedientes, e com a desculpa de que os livros didáticos que os alunos recebem são gratuitos, seu conteúdo é determinado pela propaganda do Fidesz, principalmente nas disciplinas de História e Literatura Húngara.” Bolsonaro replicou a ideia aqui quando disso que os alunos precisam sair da escola sabendo mais matemática e menos sociologia.

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Na Hungria, Orbán definiu que “o Estado nomeia o chamado chanceler, situado acima do reitor eleito, para que ele se ocupe dos assuntos relacionados ao ensino. Embora nem todos os chanceleres obedeçam a ordens, e entre eles haja pessoas cultas e bem-intencionadas, a autonomia das universidades públicas é limitada.”

Consequência disso: quem tem recursos manda os filhos para universidades particulares ou para o exterior.

“Quando terminam o ensino médio, muitos estudantes vão para Londres, Viena, Estados Unidos ou alguma cidade alemã. Isso é normal, mas se as circunstâncias não mudarem esses alunos nunca retornarão.”

Weintraub disse com todas as letras: quem quiser estudar filosofia e sociologia pode, desde que pague por isso.

Heller escreveu sobre a Hungria, mas é de se imaginar que vale para o Brasil: o País já assiste à fuga de cérebros. Há, hoje, meio milhão de húngaros estudando e trabalhando fora. “Por serem, principalmente, estudantes e intelectuais altamente qualificados, o país sofre uma grave escassez de médicos, enfermeiros e outros profissionais, inclusive de trabalhadores especializados.”

GOVERNOS TIRANOS

Segundo Heller, “hoje, em muitos lugares do mundo, os mesmos tiranos são eleitos e reeleitos pela maioria. Esses regimes não são democracias, mas tiranias. Hoje, apenas as democracias liberais, isto é, os Estados com divisão de poderes e um sistema de freios e contrapesos, nos quais as liberdades civis são respeitadas e praticadas, podem ser qualificados como democracias. A ‘democracia iliberal’ não é democracia.”

A dúvida maior é saber como o povo alça os tiranos ao poder pelo voto, indica ela. E a resposta, em sua visão, “é simples”: “ideologia combinada com políticas da identidade.”

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Desde a Primeira Guerra Mundial, conta Heller, a identidade dominante na Europa é o “Estado-nação”. No caso húngaro, a base está na etnia. Orbán fala com a etnia húngara e coloca os membros da oposição como não-húngaros. “Em sua opinião, os liberais, os socialistas e os demais membros da oposição traem o país, por exemplo, ao votarem contra a Hungria [ou seja, contra Orbán] no Parlamento Europeu.” Mais um tópico da cartilha seguido à risca pelos Bolsonaros.

Lá, cidadãos pobres que nunca viram um imigrante na vida afirmaram que votaram em Orbán porque ele iria salvar a Hungria da invasão dos estrangeiros. O País sequer sofre com essa questão. Aqui, Bolsonaro convenceu parte da população de que o País viraria um ditadura comunista com mais um governo à esquerda. Tomou posse prometendo combater um “socialismo” que até Lula (em entrevista ao The Intercept) admite que não pautou seus governos.

Leia o artigo completo aqui.

Jornal GGN 

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