Há uma crise sem precedentes na República, com total derretimento das instituições. Mas ainda não há fome generalizada: as estruturas do Estado e o setor produtivo ainda funcionam. Breve não funcionarão mais
As manifestações populares que temos visto nos últimos anos, em geral de cunho limitado mesmo quando envolveram a presença carismática de Lula, não enganam quem procura perscrutar com maior cuidado os desdobramentos futuro da história. Há uma crise sem precedentes na República, com total derretimento das instituições, e em especial das instituições políticas. Mas ainda não há fome generalizada: as estruturas do Estado e o setor produtivo ainda funcionam. Precariamente, mas funcionam.
Breve não funcionarão mais. Pelo quarto ano seguido sofremos uma contração brutal na economia. O desemprego avança para 14% da população economicamente ativa. Ainda não é um desastre absoluto devido ao funcionamento daquilo que os europeus chamam de “estabilizadores automáticos”, isto é, os gastos orçamentários obrigatórios do sistema de bem estar social. Ora, o Governo quer reduzir esses gastos e fez até mesmo uma emenda constitucional para congelar o orçamentário primário em 20 anos.
A evolução do PIB é uma média. É óbvio que os mais ricos ficam acima da média, enquanto os pobres ficam abaixo. Portanto, na recessão, estes últimos se defrontam com uma realidade muito mais dura em comparação às classes médias e altas. Depois de tanta contração do produto, a renda vai sendo espremida e, no limite, acaba. A primeira linha de resistência é a família: pais aposentados que passam a sustentar os filhos, filhos que tem a sorte de se empregarem e passam a sustentar a família. Sem maiores esperanças.
Ou com esperanças vãs. É nesse contexto de quase miséria, para muitos, que serão disputadas as eleições deste ano. Teremos dois tipos de eleitores. O grupo da abstenção, do voto nulo e do voto branco, e o grupo que acredita de alguma forma que a eleição pode ser um instrumento de mudança a favor do povo. Na Grande Depressão dos anos 30, o intervalo entre o início da crise e a tomada de medidas firmes para superá-la durou aproximadamente quatro anos. A redenção foi o New Deal nos Estados Unidos. Na Alemanha deu Hitler.
Com a economia em degradação, não é difícil prever o fracasso do neoliberalismo e o início de demandas desesperadas por comida. Nas ruas do Rio proliferam os brechós dos pobres, gente trocando peças miseráveis de roupa para procurar fazer com que sobre algum dinheiro na troca. Vi uma estatística segundo a qual o aumento do número de camelôs na cidade nos últimos anos chegou a cerca de 700. A exibição da miséria prolifera em todos os bairros, pobres ou ricos. A cada esquina somos visitados pela pobreza.
Os registros históricos das revoluções de massa, a francesa no século XVIII e a russa no século XX, apontou como ponto de eclosão a falta de comida. Obviamente que, na situação atual brasileira, enquanto o Estado se mantiver estruturado e os supermercados funcionando, não faltará pão. Faltará, sim, dinheiro para comprá-lo. O efeito será o mesmo. Entretanto, o povo saberá apontar os culpados pela degradação. Dirá, são os políticos; como se dizia na Argentina depois do desastre de Menem e começa a se diz agora no Brasil.
O motivo do desastre não é corrupção. Corrupção é um problema da polícia e da Justiça. A razão do desastre é a negociação do voto parlamentar em proveito de interesses escusos, sobretudo do capital financeiro e do grande capital. Acaso o povo faminto, quando se aperceber de sua tragédia, deixará impune o parlamentar que deu cobertura aos bancos que cobram juros de mais de 300% ao ano? No pico da crise, alguém pagará por ela. Ou pela guilhotina, ou pelo poste.
É em função dessas considerações que estamos organizando o Movimento pela Democratização do Congresso Nacional. Queremos reunir um grupo de candidatos ao Parlamento comprometidos efetivamente com a superação da crise e a defesa do interesse nacional. Estamos propondo um decálogo de compromissos desses candidatos. E vamos promover debates em todo o país para estimular a participação do povo nesse movimento. Visite nosso site, onde há mais explicações:
José Carlos de Assis, Jornal GGN