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Embaixador André Corrêa do Lago, designado para liderar a conferência da ONU, que se realiza em novembro, em Belém, reconhece: postura do presidente, que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, preocupa e impacta as negociações

presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou, ontem, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), como o presidente da COP 30, marcada para novembro, em Belém. O anúncio ocorre 24 horas depois de o presidente Donald Trump assinar a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris — principal tratado para a redução das emissões de carbono.

A posição norte-americana está no radar das preocupações brasileiras, apesar de não ser novidade, pois desde a campanha Trump deixou claro que desmontaria o arcabouço da legislação ambiental dos EUA. Corrêa do Lago deixou claro que impactará negativamente a COP 30.

“Estamos todos analisando as decisões do presidente Trump, mas não há a menor dúvida de que terá um impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de que um país tão importante está se desligando desse processo”, avaliou.

Ele destacou, porém, que uma forma de contornar esse antagonismo de Trump à pauta climática é o fato de que há empresas, estados e prefeituras norte-americanas muito envolvidos na agenda do meio ambiente — e que têm autonomia para fechar acordos e assumir compromissos sem o endosso da Casa Branca ou do Congresso norte-americano.

Mas tal situação não é nova para Corrêa do Lago e, de certa forma, vinha sendo precificada desde a COP 29, no ano passado, em Baku, no Azerbaijão. O evento foi esvaziado, pois não contou com a presença de líderes como o então presidente norte-americano Joe Biden, do presidente da China, Xi Jinping, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Esse esvaziamento se materializou em decepção dos países em desenvolvimento e ambientalistas com a aprovação, pela conferência, de apenas US$ 300 bilhões para financiar medidas de mitigação de mudanças climáticas. O valor ficou muito aquém dos US$ 1,3 trilhão pleiteados para cumprir as metas do Acordo de Paris.

Ainda assim, Corrêa do Lago guarda otimismo sobre os resultados da conferência de Belém. “É uma honra imensa e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP”, disse Corrêa do Lago, acompanhado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e da secretária-geral do MRE, Maria Laura da Rocha, logo depois da reunião com Lula que selou sua indicação.

O presidente da República também escolheu Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, para o posto de diretora-executiva da COP 30. Ela não esteve presente a reunião no Palácio do Planalto porque se recupera de cirurgia. Os dois cargos são os mais importantes na gestão do evento — responsáveis, sobretudo, por liderar a negociação com países, empresas e sociedade civil para a formação de consensos.

Busca de financiamento

O Brasil sedia a COP 30 com a responsabilidade de aumentar o montante do financiamento das medidas de mitigação das mudanças ambientais — na COP 29 fechou-se o montante de US$ 300 bilhões, valor considerado modesto pelas entidades ambientais e pelos países em desenvolvimento —, além de discutir as NDCs — metas para a redução de emissões apresentadas por cada país na conferência anterior. O embaixador Corrêa do Lago comparou a importância da conferência em Belém com a Rio-92, que definiu o conceito de desenvolvimento sustentável.

“A Rio-92 teve um impacto muito grande na maneira como brasileiro percebeu a mudança do clima, o meio ambiente e a biodiversidade”, comentou. Ele considera que o financiamento às medidas de combate às mudanças climáticas o principal tema da COP 30.

Para o coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo, a escolha de Corrêa do Lago e de Ana Toni pelo presidente Lula foi um acerto, sobretudo por conta do ambiente negativo que encontrarão no evento.

“Os países em desenvolvimento não têm nenhuma confiança nos países mais ricos, porque fizeram um papelão no ano passado. O contexto geopolítico é o pior desde a assinatura da Convenção do Clima”, explicou.

Ele alerta, porém, que não basta ter um bom quadro à frente da COP para que o Brasil se destaque nas negociações ambientais. “Temos que saber o quanto Lula, pessoalmente, vai se envolver. Não adianta ter o André Corrêa do Lago e a Ana Toni se não tiverem mandato, liberdade e apoio conferidos pelo presidente. Lula tem que estar muito comprometido com essa agenda. Senão, não vai dar certo”, comentou ainda.

Angelo salienta que há muita expectativa de vários países de que a habilidade brasileira nas negociações consigam contornar o cenário incerto. “Existe muita expectativa de que o Brasil vai resolver essas questões e, de fato, temos uma capacidade muito grande para dar respostas. Essa é a COP da ação concreta. As coisas concretas têm que começar a ser implementadas. É preciso trabalhar muito com a sociedade civil e com o setor privado, porque o resultado virá a partir desse trabalho”, frisa Julia Paletta, especialista em energia e mudanças climáticas do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Para ela, caberá ao Brasil manter a credibilidade do Acordo de Paris, já dispensado por Donald Trump, e a mobilização em torno do clima.

Dupla afinada

A definição dos dois nomes que vão pilotar as negociações sobre emergência climática e transição energética na COP 30 não causou surpresa. Ao contrário, o embaixador André Corrêa do Lago e a secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, eram os nomes mais cotados para ocupar a presidência e a diretoria-executiva do evento, pois estão à frente das equipes brasileiras de negociação desde a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (2023).

Corrêa do Lago e Ana Toni representam uma parceria que vem dando certo entre os ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente. Nestes últimos dois anos, os dois conseguiram trazer para o centro do debate — e de forma mais presente — a área econômica do governo. Na entrevista que deu ao Correio Braziliense, após o fracasso da COP 29, em Baku, no Azerbaijão, o embaixadorexplicou que as COPs são eventos essencialmente econômicos.

“A dimensão econômica das mudanças do clima sempre foi muito importante e, hoje, se tornou óbvia. Todas as soluções para as mudanças climáticas exigem transformações econômicas em energia, transportes, a forma como as pessoas consomem — tudo tem que ser mudado. É por isso que é um imenso desafio. A transição para uma economia que leve em consideração a dimensão climática vai ser muito diferente de país para país. Mas, certamente, a questão do financiamento é essencial para todos”, explicou.

Havia a expectativa de que, em Baku, os países pudessem chegar a um acordo sobre quem paga a conta da transição energética e dos investimentos necessários que os países, principalmente os mais pobres, precisam para enfrentar a emergência climática. Houve um acordo parcial para captar até US$ 300 bilhões, mesmo assim contando com capital privado. Não houve compromissos governamentais.

Justamente por causa da dimensão econômica do problema é que a área econômica do governo foi chamada para participar das negociações. “Juntamos, pela primeira vez, as equipes dos ministérios da Fazenda, (dos ministérios) das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, além do Banco Central, para procurarmos resultados. Na reunião do G20 (no Rio de Janeiro, em novembro de 2024), até países como a Alemanha disseram para a gente que não fizeram esse exercício de juntar esses quatro órgãos para encontrar soluções. Para Belém, queremos ir mais fundo nesse exercício, que está sendo chamado ‘De Baku a Belém em busca de US$ 1,3 tri’”, salientou o embaixador.

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