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“Vamos repetir um gesto que fizemos em 1961, durante a Legalidade. Entendemos que estamos vivendo um processo de ruptura democrática muito semelhante àquele e defendemos o direito de Lula ser candidato à presidência da República”, explicou a diretora de comunicação da UNE, Nágila Maria, estudante de psicologia da Universidade Federal da Bahia.

Em 1961, diante da renúncia do presidente Jânio Quadros, um movimento se opôs à posse do então vice João Goulart na chefia do Poder Executivo. Jango era uma liderança trabalhista, herdeiro político de Getúlio Vargas e defendia políticas públicas dirigidas aos movimentos sociais. A decisão da UNE de transferir-se para a Capital gaúcha, que concentrava as ações da Campanha da Legalidade sob o comando do então governador Leonel Brizola, ajudou a criar um clima de resistência e postergou o golpe, que chegou três anos mais tarde, em 1964. Em retribuição ao gesto dos estudantes, Jango se tornou o primeiro presidente a visitar a sede da UNE, após sua posse.

Na época, a sede da UNE era no Rio de Janeiro, em uma localidade apelidada de Casa do Poder da Juventude, que foi incendiada e posta abaixo pelo regime militar. Hoje a entidade batalha para reconstruir o espaço, e tem sua sede oficial em São Paulo.

Em 2018, a entidade se mobiliza para que o nome de Lula esteja entre as opções do eleitor na urna eletrônica. A estudante ressalva que a manifestação em apoio a Lula é também um símbolo das “arbitrariedades que vem sendo feitas pela Justiça no país” e cita, além da sentença de Sergio Moro que condenou o ex-presidente a mais de nove anos de cadeia – e que é alvo de críticas de diversos juristas no Brasil – as prisões de reitores das universidades federais de Minas Gerais e de Santa Catarina, este último que acabou em suicídio, entendido pela entidade como resultado da pressão judicial sobre o gestor.

Para o ato, a UNE espera contar inclusive com a presença do então presidente da entidade estudantil, Aldo Arantes, que esteve em Porto Alegre em 61 coordenando a transferência temporária da sede e a participação do movimento na Campanha da Legalidade. “Queremos ter aqui figuras que de fato representem essa história”, acrescenta a dirigente. Estarão presentes também os três membros da Executiva Nacional e cerca de 20 diretores estudantis.

Acampamento dos movimentos sociais

Os dirigentes da UNE que virão a Porto Alegre estarão acampados junto com lideranças e militantes de outros vários movimentos sociais que começam a chegar já no final de semana para prestar apoio à Lula. O local que abrigará o acampamento está distante apenas 500 metros da sede do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF4), onde acontecerá a sessão de julgamento.

A intenção dos movimentos sociais era acampar no Parque da Harmonia, em frente ao prédio, porém uma decisão judicial de dezembro impediu a concretização da intenção. Este parque, inclusive, estará fechado ao público no dia do julgamento. A instalação do grupo – cerca de 30 mil pessoas, segundo estimativas do movimento – no Anfiteatro Pôr-do-Sol foi acordada após cinco reuniões ocorridas ao longo da semana no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, com integrantes do Gabinete de Gestão Integrada, que reúne forças policiais e de inteligência.

O Ministério Público Federal participou das negociações e celebrou o resultado. “Trata-se de uma construção importante, que foi realizada com respeito aos Movimentos Sociais através do diálogo, garantindo-se a liberdade de manifestação e reunião em espaços públicos de Porto Alegre”, enfatiza o procurador da República.

Os dirigentes sindicais e militantes também estão contentes. “Conquistamos um lugar bem adequado para as nossas atividades”, comemorou o presidente da CUT do Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo.

Além de servir como local de acomodação dos militantes que venham de fora, o acampamento dos movimentos sociais sediará a vigília noturna e as manifestações durante a sessão de julgamento de Lula. Espera-se que o ex-presidente esteja na cidade na véspera e participe da marcha que começará na Esquina Democrática no final da tarde, com final no próprio acampamento.

O acampamento deve começar a ser montado no final de semana pelas equipes de infraestrutura do MST. O movimento sem terra, junto com a Via Campesina, chega oficialmente à Capital na segunda-feira pela manhã, em uma marcha que vai percorrer cartões postais da cidade, como a ponte do Guaíba, passar próximo ao Viaduto dos Açorianos e terminar na beira do rio, onde está o Anfiteatro Pôr-do-Sol.

Carta Maior
Por Naira Hofmeister de Porto Alegre