Outro aspecto sensível seria um possível encontro entre Lula e o presidente do Irã
A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia, pode ter evitado um confronto diplomático delicado para o Brasil. Segundo Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, o tão aguardado encontro presencial entre Lula e o presidente russo Vladimir Putin poderia gerar “embaraços desnecessários” com os Estados Unidos. Trevisan explica que, em um momento de crescente tensão global, uma imagem de Lula ao lado de Putin poderia ser mal interpretada por Washington, segundo análise publicada na coluna de Roseann Kennedy, no Estado de S. Paulo.
“O aperto de mãos com Putin seria visto como um alinhamento em meio ao contexto de tensão entre o Ocidente e a Rússia”, avaliou Trevisan. “Com a Rússia e a China propondo um bloco cada vez mais unido contra os interesses ocidentais, esse encontro poderia acentuar a pressão sobre o Brasil em sua relação com os Estados Unidos e outros aliados do Ocidente.”
A cúpula do BRICS discute, entre outros temas, a desdolarização das economias do bloco, uma questão que já provocou reações contundentes de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e candidato à presidência pelo Partido Republicano. Trump deixou claro que, caso retorne ao poder, pretende punir países que decidam seguir esse caminho.
Outro aspecto sensível seria um possível encontro entre Lula e o presidente do Irã, o que, na visão de Trevisan, poderia reforçar a ideia de que o Brasil está se afastando de aliados tradicionais no Oriente Médio, como Israel. “O Brasil tem seus próprios interesses na região e já manteve uma postura crítica em relação a Israel, mas uma reunião com o Irã, neste momento, ultrapassaria um limite que o governo brasileiro tem evitado”, afirmou o especialista.
Além disso, Trevisan destacou que a proposta de China e Índia de incluir a Nicarágua e a Venezuela no BRICS não é vista com bons olhos pelo Brasil. “Para o governo brasileiro, essas inclusões não trazem vantagens, especialmente considerando as relações enfraquecidas com a Nicarágua e a delicada reaproximação com a Venezuela”, completou.
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, estará presente na cúpula em nome de Lula, com plenos poderes para negociar e representar o Brasil. Segundo fontes diplomáticas, a ausência de Lula foi considerada “força maior” devido ao acidente doméstico sofrido pelo presidente no fim de semana.
Com informações do Brasil 247
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