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Bolsonaro se mostrou capaz de seguir cometendo os mesmos crimes pelos quais está prestes a ser indiciado. Ele ficará preso ao seu negacionismo até o fim do mandato porque é isso que alimenta sua base.

O RELATÓRIO FINAL da CPI já está no forno e sairá com 11 crimes atribuídos ao presidente da República, segundo o relator Renan Calheiros. A lista inclui crimes de responsabilidade, crimes contra a saúde pública e crimes contra a humanidade. Além dele, no mínimo, outras 40 pessoas serão indiciadas.

Mesmo às vésperas de se dar mal no relatório da CPI, Bolsonaro segue cometendo os mesmos crimes contra a saúde pública pelos quais será indiciado. Em uma cerimônia de entrega de títulos rurais ocorrido no interior de São Paulo, ele fez um pronunciamento em que orgulhosamente confessa vários dos crimes apontados pela CPI: “Talvez eu tenha sido o único Chefe de Estado do mundo todo que teve a coragem de se insurgir contra essa política do fica em casa, contra os fechamentos, contra o lockdown, contra medidas restritivas e atualmente também contra a vacinação obrigatória”.

O presidente admitiu que boicotou todas as medidas restritivas sugeridas pelos especialistas e menosprezou a importância da vacinação em massa, tratando-a como algo meramente opcional. No mesmo dia, em entrevista a uma rádio pernambucana, afirmou que, se for reinfectado pelo coronavírus, recorrerá mais uma vez ao tratamento precoce com hidroxicloroquina e ivermectina. E concluiu como uma criança mimada: “e ponto final”. Disse também que o governo já tem na manga uma nova pesquisa sobre esses medicamentos. Segundo ele, o resultado do estudo será uma “notícia-bomba favorável” ao tratamento precoce.

Mas Bolsonaro é um mitômano, e a mentira é a sua principal matéria-prima política. Como esquecer de quando ele prometeu apresentar provas de que as urnas foram fraudadas nas eleições de 2018, não as apresentou e por fim acabou admitindo que elas nunca existiram? As chances desse novo “estudo bombástico” não existir ou pelo menos ser um trabalho porco feito por algum pau mandado do Queiroga é de 100%. É possível também que esteja embutido aí um certo desespero por fabricar provas que livrem sua cara nos indiciamentos que irá sofrer.

O avanço da vacinação no país fez com que os números de infecções e óbitos diários caíssem consideravelmente nos últimos meses. Mas esse fato não foi suficiente para que Bolsonaro desistisse da sua cantilena negacionista. Ele segue mentindo para a população ao colocar dúvidas sobre a eficácia da vacina: “A vacina ainda é uma interrogação”.

O mitômano presidencial disse ainda que não irá se vacinar porque já está completamente imunizado pelos anticorpos que foram criados quando foi infectado, o que contraria as evidências científicas: “Eu decidi não tomar mais a vacina. Eu estou vendo novos estudos, a minha imunização está lá em cima, para que vou tomar a vacina? Seria a mesma coisa que você jogar R$10 na loteria para ganhar R$ 2. Não tem cabimento isso”.

Deixemos de lado essa incompreensível metáfora da loteria e foquemos no que interessa. Há várias pesquisas que atestam que a proteção dos imunizantes é maior que a dos anticorpos gerados pela infecção natural. Bolsonaro, que havia dito que seria o último brasileiro a se vacinar, agora diz que não precisa mais da vacina.

Mas como saber se essa não é mais uma mentira do presidente mitômano? Quem garante que ele já não tomou a vacina, mas não divulgou para manter coerência com suas falácias? Considerando o histórico de absurdos cometidos pelo presidente, essa possibilidade é plenamente plausível. Mas isso só poderemos saber daqui um século, quando expira o sigilo de 100 anos do seu cartão de vacinação que foi decretado por ele mesmo.

No mesmo dia em que o presidente menosprezou a vacina e anunciou que não vai se vacinar, o seu ministro da Saúde apareceu nas redes sociais aplicando a dose de reforço no general Augusto Heleno, que, vejam só, já foi infectado pelo covid. Enquanto Bolsonaro contestava a vacina, Queiroga reforçava a importância da vacinação “para garantir maior proteção à nossa população”. É uma esquizofrenia típica do bolsonarismo.

A indústria de boatos comandada pelo bolsonarismo voltou nesta semana com tudo para difundir o tratamento precoce nas últimas semanas. Passou a circular nas redes bolsonaristas uma notícia apócrifa de que o presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, não teria registrado nenhuma morte por covid desde o início da pandemia graças ao uso de ivermectina.

Segundo o boato, além de não haver mortes entre os 1.700 presos, todos os infectados não evoluíram para casos graves. A Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) diz que, de fato, não houve mortes na penitenciária, mas o motivo não tem a ver com o uso de ivermectina, mas com as rígidas medidas de restrição que foram adotadas no presídio.

Outro boato que circulou com força recentemente é o de que a União Europeia dispensou as vacinas e aprovou o tratamento precoce. Segundo a notícia fabricada, a ivermectina substituiria a aplicação de vacinas a partir de outubro. As mentiras ditas por Bolsonaro acabam sendo respaldadas por esses boatos consumidos pelo seu eleitorado. Esse é o jogo da narrativa negacionista: o presidente mente, e a indústria de boatos do bolsonarismo trabalha para fornecer os fatos que confirmem suas mentiras.

Bolsonaro é esse homem insano capaz de seguir cometendo os mesmos crimes pelos quais está prestes a ser indiciado. Há quem diga que ele está tranquilo porque confia que o procurador-geral da República, Augusto Aras, rejeite as denúncias da CPI, o que é bastante provável. Mas a CPI já montou uma estratégia caso o PGR arquive o relatório ou não envie as denúncias ao STF. Parentes de vítimas e entidades de direito privado poderão entrar com ações diretamente no STF. Senadores da CPI já vêm discutindo essa alternativa com integrantes da OAB, que podem assumir a causa em nome de associações de vítimas da covid.

Apesar do aparente desdém diante das denúncias, ele está acuado e temendo as consequências da CPI. A declaração em que insinua haver um estudo comprovando a eficácia do tratamento precoce e o aumento da boataria fabricada pelo gabinete do ódio nas últimas semanas são indicativos disso. Mas é fato que ele tomou um caminho sem volta. Não tem como voltar atrás agora do discurso negacionista que ajudou a fidelizar seus eleitores e mantê-los unidos em nome de uma causa. Uma mudança de rota agora representaria uma fraquejada aos olhos do seu eleitorado, como se já não bastasse a fraquejada do golpe de 7 de setembro que saiu pela culatra.

A CPI não parou Bolsonaro, nem os crimes cessarão com o fim dos trabalhos da comissão. O presidente segue boicotando todas as recomendações da ciência, as vacinas e desrespeitando medidas como uso de máscaras e distanciamento social. É um refém do mundo fictício que ele próprio ajudou a difundir e continuará usando seu mandato para espalhar mentiras que matam.

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